42, Secundus do Gol

Por Kochav Koren

21/11/2022 11h35

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Aos 42 segundos do primeiro tempo marcaremos um gol, assim, logo os problemas se desmancham. 42, o que valeu antes, “rumo ao hexa”, já não vale mais. Há dezesseis anos é a mesma coisa! Confesso ser otimista, sem embargo, ainda admitindo ser mor pé-frio botafoguense. O mestre indica que tudo o que foi resolvido como sempre antes já não o mais procede por efeito de novas Figuras. Quando isto calha, jazemos cogente à “resolução de problema”, moço “acontecimento”, nova “Copa”, molduras de figurações.

 

Hoje, a mãe completa 55 anos, distante, solitária, sem Roberta Miranda. Figurando filho, mobilizo o mundo para uma surpresa. Não foi assim no ano passado onde eu morri. Mas, esse ano eu não morro. 42, pai logo chega com um segundo pedaço da pizza de Seu Raimundo. O elemento secundus das Figuras, schemata que carece emparelhar Personas, após um discovery de UX. Regresso à Fortaleza, como anualmente porto-me, há segundos da Copa. Sobre a ausência de Hulk, deixo Neymar com John, repito, o “tempo já andou mexendo a gente”, intervenho. Nosso UX aventa o segundo elemento do framework Figuras: a resolução de problemas.

 

Meu álbum da Panini, capa dura, carece a Figura 7: Éder Militão. Não foi assim em 2014. Hulk era o Camisa 7. Felipão foi o culpado pelo zero a zero no Castelão. O frustrante confronto Brasil vs. México em Fortaleza. Desgraçamo-nos por isto, Hulk se sentou, dissimulou atuação, não foi convocado ao jogo. Não submergiremos, oito anos depois. Sem Hulk, darei outra relevância ao Figura 7. Pra cima, Militão! O jogo de ontem não é o mesmo de hoje, a nova Figura viabilizará a resolução do problema: “Hexa-campeão!!!”.

 

O paraibano alvinegro enfrenta uma lesão, não desempenhará Figura de atacante como Neymar nesta Copa. Folha despontou que a marca Neymar ultrapassa 1 bilhão no máximo acontecimento familiar, “paixão nacional”. Mãe e pais, amigos e amigas, colegas e camaradas, filhas e enamorados figuram a celebração dos potenciais humanos, da disciplina do esporte, da sorte da mídia: Qatar 2022. Nações disputam para resolverem problemas, exato como features. As funcionalidades técnicas, mimeses do face a face, devotam resolver charadas; dilemas da vida cotidiana de esquina. Quanto valerá um 7?

 

A síntese que exponho exprime que quando o ator se depara com uma questão, uma forma per si reconhecível, Figuras atuam. O dever é encaixá-la a uma corrente experiência. Se é verdadeira a tese que o “mundo da vida” é passível atuar como enquadres da realidade, schemata, Gestalt, é, sobretudo, forma figurativa. Explico secundus, ponto, contratempo, revés e vicissitude. Parece-me modalidade incógnita, mistério e segredo que revela a falta do 7. 

 

Resolução de problemas, “dores” empregadas pela ideologia californiana e impugnadas no fazimento UX, de mística nada possui. Em Schutz, assentado por Dr. Hanke, o princípio da nova autoevidência é a óptica a ser revelada. Esta dicção, em seu léxico brasileiro, significa aquilo que indica, com probabilidade, a existência de algo; neste caso de um “novo algo”. É, portanto, uma indicação, um indício, sinal e traço; que ao invés de atacar, só espreita. “Eu mesmo” alocado como ator da significação ao figurar um estranhamento, uma “explosão”, feito Gol, apuram à matéria um novo acontecimento, ou uma distinta relevância. Se diante uma matéria a qual minhas vivências já elucidaram significação, a coisa de similar tracejo põem-se a mim diferente de como a vi, “explode”, assenta à relevância.

 

Há sempre novas Figuras para Figura 7, se a velo, ressignifico. Tende, o colecionador de figurinhas, o utilizador de aplicativo, o torcedor da Copa e os admiradores de Hulk, Neymar ou Militão, experenciar o “adesivo”, a “bola” ou o “botão”, como um “e assim por diante” até certo ponto. Ante um ponto, a resolução é senda para a contínua significação. Figuras habitam intercruzadas, fecundizam a memória das vivências para a compreensão da realidade.

 

Ocorreu há pouco, quando voltada do Pão. O amarelo e preto de uma firma na esquina de casa, com garagem recuada e um carro estacionado de mesma cor. Perpetuamente remete “autoescola”. Erro, sempre. Constantemente, atribuo um problema a esta matéria. Por mais que haja um “cachorro” desenhado em sua arquitetura dos anos 1970, jamais alcanço-a como “loja pet”. O que a pessoa pesquisadora de experiência tem com minha esquina? A investigação sobre as percepções das Figuras, ante cores e traços, determina a relevância do dispositivo. Hulk salvará, “rumo ao hexa”, nos 42 do segundo tempo. 

 

Fernando Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública

fernando@ernestmanheim.com.br | @noblecavalcante

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.