Opinião
Há muito tempo, escuto que precisamos nos preparar para a transformação digital, como uma preocupação do futuro. Mas, em 2021, o mundo já é digital porque as pessoas são digitais. Sempre acompanhamos essa mudança, e nossa percepção se aguçou lá trás, em 2017, quando tornamos a Clint uma empresa de base tecnológica. Contudo, nem todas empresas fizeram esse movimento e em 2020, com a pandemia da Covid-19, quem não era digitalizado sofreu na pele as limitações do isolamento social. Por isso, decidi escrever sobre esse tema.
Para começar, a definição mais simples de transformação digital é a incorporação de tecnologias e soluções digitais para resolver problemas tradicionais e, no meio corporativo, alavancar os negócios. Por exemplo, para pedir comida você usa o iFood, para se deslocar, o Uber e para comprar um livro, a Amazon.
Essas não são as únicas soluções digitais para problemas tradicionais e o mercado está constantemente demandando e desenvolvendo inovações que facilitam o dia-a-dia de clientes, usuários e empresas. Pensando nisso, resolvi levantar 5 aspectos relevantes no debate sobre a transformação digital nas empresas, confira:
1 – Impacto da transformação digital no mundo…
Um fator recente no debate sobre a transformação digital, e que acelerou esse processo a nível mundial, foi a pandemia do novo Coronavírus. Com os lockdowns, a população se voltou para o mundo digital. A mudança, imposta por uma calamidade de saúde, fez com que soluções digitais fossem indispensáveis para a rotina urbana. O Google Meet e o Zoom, por exemplo, foram utilizados para reuniões de trabalho, aulas remotas e até festas de família via tela do computador. Essas empresas, que já tinham atuação digital, seguiram crescendo conforme a necessidade imposta pela pandemia. O Google Meet, em abril de 2020 cresceu 60% por dia. Já o Zoom, fechou o primeiro semestre de 2020 com um crescimento de 169%.
Mesmo acelerando o processo de transformação digital em algumas empresas, as necessidades impostas pelo distanciamento social não são os únicos aspectos relevantes para este debate. Afinal, as novas tecnologias já vêm transformando o mundo há pelo menos 50 anos, especialmente quando falamos sobre a Internet e computação em nuvem, por exemplo. Esse movimento será cada vez mais intenso, uma vez que as novas gerações já estão nascendo em um ambiente tecnológico. Com um comportamento geracional nativo digital, é natural que toda sociedade, gradativamente, seja impactada por essa transformação.
2 – … e o impacto no mercado de trabalho
O Índice CESAR de Transformação Digital (ICTd), realizado em 2020, entrevistou 844 pessoas, presentes em 418 empresas brasileiras. De acordo com este estudo, foi constatado que as empresas participantes possuíam 60,02% de maturidade digital. Mesmo assim, apenas 50,06% afirmaram que sofreram impactos pela pandemia e buscaram formas de se reinventar para sobreviver. Mais de 48% delas lançaram soluções digitais às pressas e precisarão reestruturá-las no futuro: o estudo aponta uma propensão de 72,79% para investimento em transformação digital empresarial.
Com o mercado e os hábitos de consumo populacional migrando cada vez mais para o mercado digital, empresas que não efetuarem a transformação em seu negócio, serão deixadas para trás. Mesmo assim, alguns gestores são relutantes em iniciar o processo de digitalização de suas empresas, na amostra do ICTd, por exemplo, 21,95% consideraram que as soluções digitais emergenciais para a pandemia, não se mostraram efetivas e preferem retornar para processos não digitais ao fim desse período atípico. A explicação mais plausível para esses casos é que a implementação emergencial não contemplou todos os aspectos estratégicos fundamentais para que a digitalização seja efetiva e benéfica à empresa. Falarei sobre esses aspectos na sequência.
3 – Como implementar a transformação digital em uma empresa
Erroneamente, quando uma empresa decide efetuar uma mudança digital, ela tende a acreditar que a transformação se sustenta apenas por um fenômeno tecnológico. Como em um efeito “vira-a-chave”, no instante que a tecnologia é implementada, a empresa torna-se digital. Isso está longe da realidade porque é preciso planejar uma estratégia de mudança que abranja toda a atuação da empresa.
Ainda de acordo com o Índice CESAR de Transformação Digital (ICTd), a implementação deve ser realizada em oito frentes estratégicas: Cultura e Pessoas, Consumidores, Concorrência, Inovação, Processos, Modelos de Negócios, Dados e ambiente regulatório e Tecnologias Habilitadoras.
A Clint é um exemplo de empresa que passou pela transformação digital por meio de uma implementação gradativa da mudança. Como quando uma ampulheta é virada e a areia leva seu tempo para cair, é a implementação da transformação tecnológica e seus frutos. Em 2011, quando a empresa foi fundada, éramos uma empresa especializada na criação de sites, depois migramos para o inbound marketing e iniciamos 2021 com atuação 100% digital. Isso ocorre por meio da Plataforma Clint, que conecta prestadores de serviços digitais a empresas com respectivas demandas de serviço, além de oferecer outros recursos que facilitam a rotina de trabalho dos usuários.
Desta forma, ao realizar a transformação digital, é importante criar uma estratégia geral e planos de ações para cada uma das estratégias setoriais. Essa preparação para a mudança pode contemplar: mapeamento das necessidades e processos que podem ser digitalizados, otimização da comunicação interna, automação de processos, mapeamento de riscos, identificação de stakeholders e reformulação da cultura empresarial, dando enfoque aos benefícios da transformação digital para a rotina de trabalho.
4 – Como preparar os colaboradores para a mudança
A mudança não é repentina, então uma forma de preparar a equipe é modificar a cultura empresarial, mostrar as necessidades da empresa e abrir um debate para sugestões de toda a equipe. Depois que o plano de transformação for traçado, é importante explorar recursos de educação corporativa, como realizar oficinas sobre ferramentas e novos processos que serão utilizados. Outra alternativa é criar metas coletivas e individuais que, ao serem atingidas, geram uma recompensa aos envolvidos. As possibilidades são muitas, mas o fundamental é compreender que o colaborador abraçará a mudança ao ver que ela é benéfica para sua rotina de trabalho.
Tenha em mente que a empresa é resultado do trabalho de muitas pessoas, e todas precisam se envolver neste processo. É uma mudança estrutural e precisa ser tratada com a seriedade que demanda. Isso inclui não só capacitar seus colaboradores, como também contratar funcionários em posições estratégicas para dar continuidade à transformação.
5 – E os mais velhos? Como treinar colaboradores de gerações menos tecnológicas
A mudança não pode ser imposta e nem realizada de um dia para o outro. Como já mencionei, a cultura empresarial tem grande impacto em como os colaboradores compreenderão a transformação e os funcionários mais velhos não podem ser ignorados neste processo. Eles fazem parte da história da empresa e devem receber a preparação adequada, considerando seu repertório e experiência.
Treinamento e oficinas devem ser realizados por uma pessoa capacitada, não apenas na tecnologia, mas também em relacionamento interpessoal, que compreenda que o aprendizado de cada um segue ritmos diferentes. Até porque, a implementação de novas tecnologias muda não só a forma que as pessoas executam o seu trabalho, como também altera o próprio trabalho/cargo, e essa transição precisa ser assistida por gestores e responsáveis pela implementação.
Por fim, acredito que toda tecnologia tem potencial transformador, então é natural que ela gere mudanças na rotina e no mindset de quem as usa. A implementação em si não garante a transformação e evolução, é mais provável que os gestores e a cultura empresarial façam isso, antes de adotar uma nova solução digital.
Esse desejo por implementação do digital na rotina de trabalho pode acontecer por conta de uma visão de mercado ou por compreender que se seu cliente busca soluções online, você deve ser responsável por atendê-las, afinal, fazer isso é sinônimo de competitividade.
As organizações não podem se manter estagnadas, reféns do medo de mudar. Seja qual for a razão motivadora, a transformação digital é o futuro que já começou.
André Bernert
CEO da Clint, uma startup que conecta empresas a prestadores de serviços digitais e que, com sua plataforma, foi responsável por movimentar R$ 5 milhões em negócios.