Movimentos sem constância não chegam a lugar algum
Por Wladson Sidney, presidente ADVB-CE e CEO Sancho Corporativo
Nosso instinto de defesa vem antes de apreender qualquer técnica, é a tal luta pela sobrevivência. Somos pequenos, inexperientes, nos expressamos mal, e batalhamos para sobreviver sem vantagem nenhuma, sem saber nem como. A lição é clara: posição ruim não é sentença. É a obviedade do início.
Vou trazer uma comparação entre artes que suavemente nos melhoram: No Jiu Jitsu o oponente te pressiona, tenta te sufocar, te imobilizar. No empreendedorismo, a concorrência faz o mesmo, os processos internos, os impostos… Só que com prazos, boletos, decisões que podem nos estrangular se não soubermos respirar sob pressão.
Quando aprendemos que o erro do outro é uma ótima brecha, que se abrem oportunidades, descobrimos que vence quem age se valendo da observação mais do que quem reage pelo impulso. Se da melhor quem antecipa, não quem atropela.
No Jiu-Jitsu, não importa só ser bom, ter talento, é preciso repetir, cansar, refinar. No empreendedorismo, a genialidade sem execução morre na teoria. Os que crescem são os que fazem. Todos os dias. Mesmo sem aplauso. Todo empreendedor se depara com a finalização em algum momento, por um cliente perdido, por um sócio que sai, por um plano que falha. É inerente a quem luta. A diferença é o que fazemos depois. Os fracos reclamam. Os fortes “voltam pro play”.
O Jiu-Jitsu e o empreendedorismo, à primeira vista, parecem pertencer a mundos distintos, um é arte marcial, o outro é arte de negócios. Mas quem vive intensamente ambos sabe: os paralelos entre o tatame e o mercado são profundos e reveladores.
Comecei a treinar Jiu-Jitsu aos 34 anos. Foi, sem dúvida, uma escolha improvável, sempre tive resistência ao contato com suor escorrendo no rosto de um desconhecido, aos kimonos com cheiro de treino acumulado. Mas algo ali, naquele ambiente de disciplina silenciosa e respeito ensurdecedor, me atraiu mais do que o incômodo inicial me afastava.
No começo, era tudo estranho, apanhar fazia parte da rotina, voltar pra casa dolorido e avaliando o que tinha feito de errado virou hábito. Mas tinha algo naquele ritual dos “três tapinhas” pra recomeçar que se parecia demais com a vida, e com o que eu já vivia nos negócios.
Aos poucos, fui ficando, fui aprendendo que o tatame não é só lugar de luta, é lugar de vínculo. De se encontrar com o outro, comigo mesmo. A admiração que nasce ali dentro se estende pro mundo de fora. Difícil até de explicar, mas quem te respeita suando contigo, aprende a respeitar você para muito além do kimono, os laços criados ultrapassar as linhas do tatame, se estendem para a vida.
Passei por todas as faixas, cada uma com seu tempo, suas dores e seus aprendizados, tive lesões, das mais bobas, até uma na cervical que me deixou seis meses sem poder treinar, umas costuras pra manter o padrão de beleza o mínimo comprometido.
Hoje, aos 47 anos, sou faixa preta, não porque dominei o Jiu-Jitsu, mas porque me deixei ser moldado por ele. Ainda tenho muito chão pela frente, muito tempo de treino, de lapidação. E se tem uma coisa que carrego comigo com clareza é: o Jiu-Jitsu me aperfeiçoou como empresário, e mais do que isso, me melhora como ser humano.
Porque no tatame, como na vida, nos negócios, não vence quem fala mais alto, quem investe mais dinheiro, ou tem a melhor ideia. Adaptando a celebre frase de Rock Balboa, vence quem aguenta mais tempo “levando o amasso”… sem desistir, pois quando sai daquela situação, oxigena o cérebro para fazer o que anda acumulado na bagagem.
Nenhum faixa-preta chegou lá sem ser finalizado inúmeras vezes. Cada imobilização, queda, é uma lição. O empreendedor também fracassa, erra, é rejeitado, assim, aprende. Em ambos, a diferença está em quem se levanta mais vezes do que cai.
É preciso recuar, dar espaço, se defender, esperar o momento certo para aplicar o que sabe. Empreender é igual: há momentos em que abrir mão de uma ideia, um cliente ou até um investimento é o que garante a sobrevivência e o crescimento futuro.
Escolha seus mestres, mentores… Nós não vencemos sozinho. Apesar dos nossos talentos individuais. Uma boa equipe, seja no tatame ou no escritório, faz toda a diferença no resultado final.
Quem anda lhe incentivando a ser melhor todos os dias?
