Artigos

A comunicação sensível que levou Ainda Estou Aqui ao Oscar de Melhor Filme Internacional

Por Redação

05/03/2025 16h49

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

Por Paulo Jr. Pinheiro, Mestre em Comunicação Estratégica, professor universitário e diretor da Caramelo Comunicação

O trabalho de comunicação desempenhado pela equipe envolvida na produção de Ainda Estou Aqui – consagrado com o inédito Oscar de Melhor Filme Internacional –, é um exemplo dos mais interessantes de como uma estratégia bem elaborada pode não apenas destacar um filme, mas também construir uma narrativa global em torno de sua história, personagens e mensagem.

A conquista do Oscar histórico reflete, sem dúvida alguma, a qualidade artística e técnica do longa, mas também uma série de ações pensadas para criar uma conexão forte e genuína com o público internacional e destacar a importância de uma produção falada em português.

O envolvimento da atriz Fernanda Torres, que interpretou Eunice Paiva, foi crucial para dar visibilidade ao filme. Com uma carreira consolidada e um domínio excepcional de idiomas, ela e os outros membros da equipe souberam manejar as diferentes línguas de forma estratégica e carismática, demonstrando a habilidade de se comunicar com audiências de diferentes culturas sem perder a própria essência e a essência da obra.

Ao se colocar como uma porta-voz da história de Eunice, Torres não apenas vestiu o personagem, mas também se comprometeu a dar voz à narrativa de uma mulher brasileira e sua luta, contextualizando-a de maneira universal e sensível. Sua atuação superou a entrega dramática, tornando-se um canal legítimo de conexão entre o Brasil e o mundo.

A equipe de frentes, como a das relações públicas, sabia o valor da narrativa e, por isso, investiu em uma agenda ativa. A repetição da história de sucesso de Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, criou uma ponte entre gerações, o que não apenas enalteceu a importância do legado cultural, mas também estabeleceu um vínculo simbólico entre os feitos do passado e do presente. Esse cuidado com a construção de uma narrativa que liga a tradição com a modernidade, pessoaliza a jornada – ao conectar mãe e filha –, foi outro aspecto essencial para o sucesso e a legitimidade da campanha do filme.

Há que se destacar também como a produção, com sua equipe extremamente preparada para se esquivar de vaidades, conseguiu transmitir uma imagem de respeito e honestidade para o público. Tanto Fernanda Torres quanto Selton Mello e o diretor Walter Salles se mostraram comedidos em sua participação nas premiações e eventos internacionais. Eles estavam mais interessados em dialogar com a plateia do que em se exibir, um comportamento que humaniza os atores e a direção e os torna ainda mais próximos do público, refletindo a verdadeira essência da obra. Além disso, suas vestimentas sóbrias e apropriadas, sem exageros de glamour, contribuíram para que o foco permanecesse na mensagem e no trabalho artístico, e não nas celebridades em si.

Esse equilíbrio entre a visibilidade e a sobriedade, entre o sucesso e o respeito, foi fundamental para a recepção calorosa do filme em diversos cenários internacionais. Não se tratava de um ufanismo exagerado ou de um deslumbre com as premiações, mas sim de uma celebração da arte e da cultura brasileira, a favor da preservação da memória e da democracia.