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A cor do ano da Pantone e o paradoxo da busca pela originalidade

Por Redação

09/12/2025 09h04

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Por Eduardo de Natale, consultor em Inteligência de Comunicação e Tendências

Todo ano, a Pantone anuncia sua Cor do Ano com a promessa de sintetizar, em um único tom, o espírito do tempo. Para 2026, a escolha foi Cloud Dancer, um branco suave, quase etéreo, que pode ser traduzido, com liberdade poética, como uma “nuvem em movimento”, um convite à leveza e à serenidade.

Só que essa escolha acende um alerta: por que, em pleno fim de 2025, seguimos celebrando cores tão suaves, neutras e quase tímidas, quando o mundo real já está caminhando justamente na direção oposta?

Há alguns anos vivemos uma era de “cleanfication”. Tons neutros, beges, cinzas e paletas dessaturadas dominaram moda, design, arquitetura e até branding. Foi o auge do “calm aesthetic”, minimalista, homogêneo. Um mundo onde tudo precisava parecer leve, organizado, silencioso, quase asséptico. Mas essa fase está se esgotando. E não é opinião: os relatórios de tendência já vêm anunciando isso.

  • • O Pinterest Predicts 2024 e 2025 apontam o retorno de estampas vibrantes, maximalismo visual e cores saturadas, com buscas crescentes por eclectic decor, kitschy outfits e padrões que “ocupam espaço”;
  • • A WGSN, no relatório de Color Directions, destaca que a próxima década será marcada por “rebel tones” – cores que recuperam personalidade, ousadia, identidade e narrativas culturais;
  • • No mercado de moda, o Lyst Index mostra o crescimento consistente de peças statement, estampas psicodélicas, florais maximalistas e cores intensas;
  • • Em design e arquitetura, o Business of Fashion e a Dezeen têm mostrado um movimento claro de ruptura com o minimalismo estéril, abrindo espaço para ambientes mais emotivos e expressivos.

Ou seja: o mundo está pedindo presença, energia, autenticidade, não suavidade. Por isso, a escolha da Pantone soa paradoxal. Enquanto o coletivo busca reconectar-se com identidades mais fortes, a instituição que deveria ser farol de tendência parece insistir em um tom que conversa mais com um passado recente do que com um futuro em formação.

A grande questão é: por que ainda elegemos símbolos tão homogêneos em um momento que já não é homogêneo?

Talvez porque a Pantone, mesmo percebendo a virada, não consiga (ou não queira) romper com a lógica de previsibilidade que ela mesma ajudou a construir. Celebrar cores seguras, “universais”, vendáveis, é confortável. Mas será que ainda é relevante?

O contraste entre a cor escolhida e o movimento cultural real revela um ponto importante, estamos vivendo um descompasso entre o que as instituições dizem ser tendência e o que as pessoas realmente desejam.

No fim, a pergunta que fica é menos sobre a cor e mais sobre o papel da Pantone hoje: ela ainda dita tendências ou apenas reage a elas? E, se reage, talvez já esteja um passo atrás.