Como comunicadores têm buscado inclusão de diferentes grupos através da informação e linguagem adotada
Em uma era na qual os consumidores têm acesso a uma quantidade diversificada de conteúdos, que vão desde notícias ao entretenimento, as relações entre público e marca se tornam mais complexas, estabelecendo parâmetros que perpassam não apenas a informação, mas também a forma como conexões significativas são geradas por meio da criação de conteúdos autênticos e envolventes.
Esse contexto estabelece uma dinâmica que evidencia um fator primordial, a inclusão. Ou seja, possibilitar que as pessoas sintam-se parte das narrativas e comunicações que encontram. Essa inclusão pode envolver diversos aspectos, desde a representação de diferentes grupos étnicos, culturais, de gênero e de idade, até a acessibilidade para pessoas com deficiências físicas ou cognitivas, por exemplo.
No Brasil, a acessibilidade é um direito previsto na lei 13146/2015, conhecida como LBI (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência). A legislação também se estende a meios de comunicação por meio da lei 10098/2000.
Exemplo de uma instituição que tem contribuído para a disseminação de conteúdos acessíveis e informativos é a Associação Fortaleza Azul (FAZ), responsável por realizar ações que levam informações acerca do TEA (Transtorno do Espectro Autista) para a população geral, conscientizando e diminuindo os estigmas sobre as pessoas que possuem a condição. Os conteúdos incluem desde eventos pontuais como palestras, rodas de conversa e oficinas, à práticas como publicações frequentes nas redes sociais, indicação de material de estudo e apoio a pesquisas.
“A acessibilidade (arquitetônica, sensorial, atitudinal) deve ser premissa em todos os ambientes sociais, assim como o cumprimento à legislação vigente. Vale ressaltar que as pessoas em geral não têm obrigação de conhecerem a definição dos diagnósticos, por exemplo. Porém faz parte da convivência em sociedade valores como empatia e respeito”, destaca Fernanda Cavalieri, membro e co-fundadora da FAZ.
Ao lado da busca por conteúdos mais acessíveis para pessoas com deficiência, existem também movimentos que trabalham para a inclusão de outros grupos sociais que por vezes enfrentam desafios para conquistar espaços, indicando a necessidade de conteúdos que reflitam a diversidade presente na sociedade, incluindo diferentes etnias, culturas, gênero, idades, origens socioeconômicas, entre outros.
Para Francisco Wilton dos Santos, mais conhecido como Piqqueno, presidente da Cufa Ceará, para lidar com esses aspectos é necessário abordar os desafios sociais de maneira completa, considerando não apenas um aspecto, mas múltiplos fatores que constituem as dificuldades enfrentadas por grupos com menos oportunidades.
“Isso envolve a colaboração entre setores, a implementação de políticas inclusivas, o acesso igualitário a recursos, educação e oportunidades, bem como a conscientização para combater estigmas e preconceitos. Ao adotar uma abordagem abrangente, é possível criar bases mais sólidas para alcançar a inclusão social de maneira mais eficaz e duradoura”, explica.
Ainda para Piqqueno, os desafios também são diversos e precisam ser superados para uma sociedade mais igualitária. “Alguns dos maiores desafios incluem superar barreiras socioeconômicas, combater preconceitos enraizados, garantir acesso equitativo à educação e oportunidades de emprego, além de promover políticas públicas que abordem as desigualdades estruturais. É fundamental enfrentar esses obstáculos de maneira integrada para alcançar uma inclusão mais ampla na sociedade e proporcionar oportunidades mais justas para todos”.
Falando a linguagem do povo
O processo da comunicação inclusiva não se restringe apenas à inclusão de pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade social, mas lança também o olhar para uma inclusão que deve abranger toda a sociedade, entendendo que a informação é o caminho para o conhecimento e participação ativa nos assuntos de interesse público.
Dentro desse aspecto, o jornalismo assume o papel de fazer esta ponte entre notícias e pessoas de maneira aberta e objetiva. Por isso, não basta apenas informar, mas possibilitar que a informação chegue de maneira acessível. Muitas vezes, isso envolve “falar a linguagem do povo”, evitando termos técnicos ou a formalidade excessiva ao transmitir informações.
Esse movimento pode ser percebido no Ceará através do Sistema Verdes Mares, que nos últimos anos tem buscado uma maior inclusão do público através da linguagem e formatos adotados nos conteúdos.
“O SVM reconhece a importância de estar alinhado com a identidade cultural e linguística da região, o que popularmente chamamos de “cearês” ou “cearencês”. Ao adotar uma linguagem mais local, buscamos criar uma conexão mais genuína com o nosso público e até mesmo com quem está distante da sua terra, mas quer continuar perto dela”, ressalta Erick Picanço, diretor comercial e de marketing no Sistema Verdes Mares.
Essa iniciativa envolve a diversificação dos meios de comunicação, com a utilização de plataformas digitais e redes sociais, além da incorporação de linguagem inclusiva que visa atender a diferentes faixas etárias e perfis socioeconômicos. De acordo com o Digital News Reports, publicado pelo Reuters Institute em 2023, 79% dos brasileiros buscam informações online, com 47% dos entrevistados consumindo informações através de mídias digitais.
“Procuramos criar conteúdos acessíveis, promovendo a democratização da informação para um público cada vez mais amplo. A participação do cearense também se tornou parte da nossa programação. Entendemos como prioridade aproximarmos o público para que ele também faça parte dos conteúdos e aprenda conosco a enxergar horizontes para uma vida melhor”, pontua Erick.
Esse protagonismo da população da criação de conteúdo é o que possibilita a construção de comunidades, exemplificado através de outros veículos de comunicação além da mídia tradicional, como é o caso do Fortaleza Ordinária, página na qual o próprio público cria conteúdo enviando fotos e vídeos do que acontece no Ceará.
“O senso de comunidade do Fortaleza Ordinária, de trazer um conteúdo regional e a criação desse conteúdo em maior porcentagem ser do público, é o que nos fez crescer e atingir várias camadas sociais. Nossa única filtragem é o respeito, a forma como a pessoa fala, e não o local ou grupo a qual aquela pessoa pertence. Somos uma página de criação de conteúdo coletivo. A gente utiliza muito de palavras do nosso linguajar popular do cearense, o ‘cearencês’, para diferenciar”, compartilha Diego Jovino, idealizador do Fortaleza Ordinária.
Conexão é a chave do relacionamento
A escolha da linguagem adotada também desempenha um importante papel na conexão criada entre o comunicador e o público, ponto fundamental para a construção do relacionamento com a audiência. Nesse cenário, a linguagem leve e acessível contribui para promover a familiaridade, promover diversidade de perspectivas e construir a credibilidade.
Para Elirdes Costa, gerente de marketing do Shopping Iguatemi Bosque, na era do alto volume de informação, adotar a comunicação autêntica, persuasiva e clara é fundamental para prender a atenção da audiência.
“Acreditamos que a utilização dessa abordagem garante uma identidade distintiva diante da concorrência, garante autenticidade, e ajuda a criar canais de conexões genuínas, principalmente no digital. E, por consequência, o impacto de tudo isso é a construção de relacionamentos sólidos que se traduzem na formação de uma comunidade dentro do ambiente digital”, comenta a profissional.
A marca tem se destaca na linguagem própria de comunicação com o público, adotando termos como “Iguatz”, para se referir ao shopping, e IguatLovers para se referir à comunidade que interage com o Iguatemi Bosque.
“A linguagem própria que utilizamos está num contexto de quebra de padrões desse mercado, pois temos um entendimento do perfil do nosso cliente, e isso é a chave para nossa diferenciação e balanceamento entre o informal e a confiança. Nos apropriamos do conceito de ‘infotenimento’, entendemos que nossos clientes estão nas redes sociais buscando entretenimento, então entregamos conteúdo e informação com o objetivo de entreter, numa linguagem próxima, única e autêntica”, destaca.