As gerações que farão parte do mercado de trabalho no futuro estão sendo preparadas para um cenário cada vez mais intergeracional, onde a diversidade de experiências e perspectivas são valorizadas, mas há todo um percurso que um indivíduo percorre antes de adentrar ao mercado, que está intrinsecamente ligado à formação do ser humano, que são os ambientes educacionais, como escola e universidade.
A escola é um dos primeiros círculos sociais que o indivíduo tem acesso fora do espaço familiar. É nela onde dá-se o início das fundações no aprendizado da sociabilidade. Nesse contexto, a educação se destaca na preparação dos jovens para os desafios do mercado, moldando uma nova geração de profissionais capazes de se adaptar às mudanças e de contribuir com soluções para os problemas reais que encontrarão.
Sávio Paz, diretor geral e pedagógico do Colégio Darwin, explica que para garantir que os alunos estejam preparados para as mudanças frequentes no mercado de trabalho, é essencial que a escola ofereça uma educação que vá além do conhecimento teórico, identificando as necessidades e fornecendo uma base sólida em disciplinas fundamentais
O pedagogo ressalta que a escola atua na colaboração intergeracional de diferentes formas, com a educação socioemocional sendo uma delas, pois ajuda a lidar com a pluralidade de pessoas, entre elas, as que estão em momentos diferentes de vida, a partir da experiência, da bagagem e do modo como veem e interagem com o mundo.
Além da aquisição de conhecimento, Sávio destaca a necessidade de promover o desenvolvimento da capacidade de adaptação, resiliência e pensamento crítico. “O aluno deve ser preparado para o sucesso educacional, além de desenvolver habilidades e uma mentalidade necessária para lidar de forma consciente com o ambiente profissional em constante evolução.”
Quanto maior a diversidade, melhor a rede de contatos
A educação no Nordeste vem atingindo bons índices, tanto nas redes públicas de ensino como nas redes privadas e um dos pontos que podem elevar esses indicadores é a inauguração da primeira unidade do ITA na região, que terá sede em Fortaleza. Com investimento inicial de aproximadamente R$ 300 milhões, a instituição de ensino superior da Força Aérea Brasileira (FAB) é referência em cursos de graduação e pós-graduação em áreas da engenharia, tendo o estado do Ceará como líder em aprovações no seu vestibular.
No ensino superior, segundo Kelson Aquino, professor e coordenador na Faculdade Luciano Feijão (FLF), a diversidade geracional contribui para a ampliação das redes de networks, já que estudantes mais velhos podem ter redes profissionais estabelecidas que podem ser benéficas para os mais jovens, enquanto estes últimos podem introduzir os mais velhos a novas conexões e oportunidades. “Essa troca no ensino superior resulta em uma força de trabalho mais adaptável e inovadora, capaz de enfrentar os desafios do futuro”, diz.
Kelson reforça que a FLF vem adotando iniciativas que incentivam a interação e a colaboração entre alunos de diferentes gerações como: hackathons, maratonas, seminários, espaços de estudo planejado, incorporação de disciplinas nos currículos que desenvolvem competências interpessoais, projetos de pesquisa e estudos que proporcionam a interlocução de alunos de diferentes idades utilizando plataformas digitais e etc. “Ao implementar essas estratégias, a FLF cria um ambiente de aprendizado inclusivo e dinâmico, preparando todos os alunos para um mercado de trabalho diversificado e em constante evolução”, compartilha.
O tradicional e a inovação de mãos dadas
Exemplo desta diversificação no mercado são as startups, que também aparecem como grandes potencializadores desta nova geração que está adentrando agora no ambiente corporativo. Gabriella Purcaru, Head de Inovação Corporativa e Operações do Ninna Hub enfatiza: “O Ninna não apenas enxerga, mas potencializa o celeiro de boas ideias e oportunidades de negócios no Nordeste. Atuamos no ecossistema de inovação gerando conexões, fomentando conhecimento e abrindo portas para que o potencial criativo da nossa região encontre um mercado preparado”.
Gabriella destaca que as equipes intergeracionais são mais adaptáveis e capazes de enfrentar desafios complexos com soluções robustas e inovadoras. Ela reforça que o Ninna reúne diferentes modelos de negócio, possibilitando que empresas tradicionais e profissionais com soluções inovadoras caminhem juntos para alcançar melhores resultados em desenvolvimento econômico, crescimento empresarial e qualidade de serviços.
Para aqueles que desejam adentrar este ecossistema ou aperfeiçoar suas habilidades, Gabriella explica que o hub de inovação oferece formações que capacitam profissionais para atuarem em corporações por meio da inovação. Dentre as iniciativas, estão:
- Amontada Valley: programa de formação tech prepara os jovens para enfrentar os desafios do mercado, conectando os talentos formados com oportunidades em corporações e startups. Através de um currículo focado em habilidades práticas e teóricas, os participantes são equipados para contribuir significativamente no setor de tecnologia.
- Ninna Job: o banco de talentos é uma iniciativa que conecta profissionais com oportunidade das corporações e startups associadas ao hub.
- Visitas Educacionais: Mensalmente, recebem jovens de universidades e escolas para conhecerem o ecossistema de inovação e startups. Essas visitas proporcionam uma imersão prática e inspiradora, mostrando aos estudantes as possibilidades e realidades do mercado de inovação.
- Parcerias com Programas Locais e Regionais: Atuam como mentores e oferecem workshops em diversos programas locais e regionais. O objetivo é auxiliar os jovens atendidos no desenvolvimento e escalabilidade de soluções inovadoras, proporcionando o suporte necessário para que suas ideias se tornem realidade.
Maturidade não tem idade
Participar de diversos processos de formação ainda nos espaços de educação básica e superior é de suma importância nessa caminhada rumo a um ambiente de trabalho multigeracional. Wilson Sá, sócio-fundador da PWR Gestão, explica que o problema não está na diferença geracional, mas na própria cultura da empresa.
Wilson frisa que há muitos jovens mais maduros que os baby boomers, reforçando a ideia de que maturidade não é tempo, é uma escolha diária de assumir a responsabilidade pelo que se faz, sem jogar a culpa na idade. “A meritocracia e a autorresponsabilidade são importantes. A diferença é crucial, pois é nela que reside o potencial de crescimento para todos, desde que assumam a responsabilidade por seu desenvolvimento.”
E mais importante do que isso: os empresários e gestores precisam aceitar que a igualdade absoluta não existe e que as diferenças são importantes para o crescimento. Aqueles nascidos na década de 70, por exemplo, podem aprender com os nascidos em 2000 e vice-versa. Isso nunca foi um problema. “Na verdade, enxergamos como uma oportunidade para impulsionar ainda mais o desenvolvimento laboral. Nos processos seletivos, por exemplo, recrutamos pessoas de diferentes idades tendo como base as competências, não a faixa etária”, defende.
Depois de entender essa premissa básica, de que as diferenças são importantes e todos devem ser respeitados independentemente delas, Wilson defende que a necessidade de se admitir que a meritocracia é importante, inclusive na resolução de conflitos geracionais. “E, novamente, isso se dá por meio de uma cultura sólida, que deixa muito claro que sua idade não te faz mais importante ou mais merecedor, mas sim sua entrega, o que você faz como profissional”, conta.