Por Ingryd Freitas, jornalista gastronômica
Vivemos a era dos reviews gastronômicos. Nunca se falou, fotografou e opinou tanto sobre comida como agora. Com a força das redes sociais, multiplicam-se criadores de conteúdo digitais que compartilham dicas de onde comer, o que pedir e até como avaliar a experiência. Esse movimento democratizou a informação, aproximou o público de experiências antes restritas e movimentou o cenário gastronômico de forma surpreendente.
Neste ano, o YouTube consolidou a categoria “Food & Beverage” como a quarta mais consumida da plataforma, com um salto de 32% no tempo de visualização. O número mostra que cozinhar, comer fora e compartilhar impressões extrapolaram o cotidiano e se afirmaram como entretenimento de massa. Esse apetite coletivo amplia o alcance de cada review e eleva também a régua da responsabilidade, quanto maior a audiência, maior o poder de influência sobre as escolhas de consumo e, justamente por isso, transparência, apuração e a sinalização clara de conteúdos publicitários deixam de ser opcionais para se tornarem indispensáveis.
Mas junto com esse crescimento vem uma responsabilidade que nem todos parecem levar em conta. Indicar um restaurante, uma cafeteria ou um prato não é apenas compartilhar uma opinião: é influenciar alguém a gastar tempo, dinheiro e expectativa em um lugar que pode estar longe daquilo que foi prometido. É por isso que a clareza se torna essencial. Quando um conteúdo é publicidade precisa estar sinalizado. Do contrário, gera uma dúvida cada vez mais presente entre consumidores: será que é bom mesmo ou só foi elogiado porque alguém pagou para isso?
Há ainda outro fenômeno que chama atenção, o público saturado. Algumas pessoas já criaram resistência ao excesso de indicações e, em vez de despertar curiosidade, uma recomendação digital pode causar o efeito oposto. “Se fulano indicou, não vou.” Isso mostra como a credibilidade é frágil e precisa ser cuidada como um bem precioso.
E há um ponto delicado, o impacto de uma avaliação negativa. Falar mal publicamente de um estabelecimento pode gerar críticas, mas também insegurança e até prejuízo para quem empreende em gastronomia. Muitas vezes, um comentário feito sem apuração ou sem considerar o contexto pode desestabilizar negócios inteiros.
Como jornalista gastronômica, encaro esse cenário com redobrada responsabilidade. Antes de divulgar qualquer informação, apuro minuciosamente, experimento, converso, observo. Acredito que a gastronomia deve ser prazerosa, mas também precisa ser disseminada com cuidado, respeito e ética. Afinal, cada prato carrega não só sabores, mas histórias, investimentos e sonhos. E é nosso dever, enquanto comunicadores, honrar essa responsabilidade.
