Análise

A importância das Rádios Comunitárias para a democratização da informação e valorização da cultura local

Por Lucas Abreu

13/02/2025 16h47

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Além de cumprir com esses papéis, a radio Mar Azul FM, em Paracuru, ajudou a resgatar a história local ao ajudar a descobrir a real data de fundação do município

Recentemente, o Ministério das Comunicações divulgou a autorização de 18 rádios comunitárias no Ceará, um aumento de 350% comparado ao período de 2019 e 2020. Entre os municípios contemplados, estão Ararendá, Missão Velha e Piquet Carneiro com duas emissoras cada um; e Aurora, Barbalha, Brejo Santo, Canindé, Guaraciaba do Norte, Mombaça, Pires Ferreira, Poranga, Quixelô, Sobral, Solonópole e Varjota com uma emissora cada um.

As rádios comunitárias oferecem um terceiro modelo de radiodifusão, além da comercial e da pública. Geralmente, sem fins lucrativos, elas são pautadas nos interesses das comunidades onde foram instaladas, sendo por elas operadas e influenciadas. Suas frequências são moduladas (FM), de baixa potência (25 Watts) e cobertura restrita.

No Brasil, o Ministério das Comunicações é o órgão que estabelece normas e regulamentações que estruturam o funcionamento das rádios comunitárias. A pasta que organiza a concessão de licenças para a operação de emissoras, definindo regras técnicas e legais para garantir que a operação ocorra de maneira ordenada e segura.

“O sinal da rádio comunitária pode chegar em lugares onde não têm TV ou internet e serve como um importante canal para obtenção de informações locais, a respeito dos mais variados assuntos, além de cultura e entretenimento. Essa é uma das nossas missões aqui no ministério: permitir que a comunicação chegue em todas as localidades do país, especialmente naquelas mais distantes dos grandes centros”, afirmou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.

O edital nº 217/2024 do Ministério das Comunicações também renovou concessões de rádios que já operam há bastante tempo no estado do Ceará. Uma delas é a Mar Azul FM, localizada no município de Paracuru e mantida através de doações e convênios por parte da comunidade. Segundo o diretor Helder Gurgel, a ideia de fundar a rádio surgiu a partir do consenso de se criar um canal de comunicação livre, onde a população local poderia manifestar sua voz, sem que fossem restringidos por valores monetários ou oligarquias políticas.

“Em 1987, já havia rádio instalada Paracuru na frequência AM e sua programação era típica de rádio interiorana: convites de missa, obituário, pedido de música; Mas havia um detalhe inconveniente: todo esse engajamento era cobrado do ouvinte, que precisava pagar a emissora para dar seu recado ou pedir uma música. Na época, eu era parte do corpo de comunicadores da rádio e sempre achei que faltava empatia com a população. Com o intuito de fazer diferente, eu senti que sofria restrições e sanções, o que me fizeram romper com a emissora em 1991 com a ideia de que um dia Paracuru teria sua rádio livre. Quando surgiu a Lei 9.612 de 1998, regulamentada pelo Decreto 2.615 do mesmo ano, foi onde eu me vi na obrigação de correr em busca de chancelar uma frequência de rádio pro município”, narra Helder.

Festa de aniversário de um ano da rádio Mar Azul FM / Foto: Arquivo Mar Azul FM

De lá para cá, a Mar Azul FM acumula 30 anos de história, prestando serviço público a população de Paracuru e se tornando um exemplo da força que as rádios comunitárias têm para a democratização da informação, como também para a valorização da cultura local. mobilização social e preservação da memória coletiva. Entre as várias histórias que o Helder Gurgel narra, uma das mais curiosas é a mudança da data de aniversário da cidade onde está instalada.

“Juntamente com a rádio, pesquisadores culturais levaram a público indícios de que Paracuru havia uma data oficial muito anterior de sua criação. Através de documentos do século 19, colaboradores da rádio descobriram o apontamento da criação da Vila de Paracuru em 27 de novembro de 1868, diferente do dia 22 de novembro de 1951, como era emancipado no município“, conta ele.

Com o mundo mais tecnológico e digitalizado, onde o formato de áudio sendo mais explorado em podcasts nas plataformas de streaming, surge a dúvida: “será que o rádio ainda terá vez nos próximos anos?” Por mais incrível que possa aparentar, a resposta dessa questão é bem simples: sim.

Segundo pesquisa feita pela Kantar Ibope Media, o rádio ainda é escutado por 79% da população brasileira, que dedicam quase 4 horas diárias dos seus ouvidos ao que está sendo transmitido. 77% dos ouvintes reconhecem que o formato de mídia é ágil, e 58% confiam nele para se manterem informados. Sintetizando: o rádio ainda tem seu valor para quem reside nesse país, e as rádios comunitárias não são diferentes. Elas são buscadas, queridas e admiradas.

“A comunicação regional já se provou ser um meio fundamental para as macrorregiões e não mais aquele mero espaço para obituários ou comunicados diversos. Ela se tornou essencial pela cidadania que exerce aos seus ouvintes; se tornou acessível pois atinge todas as classes; é imprescindível, porque é a voz da população. Quando se tem uma rádio comunitária efetivamente operante é um sinal de que sua comunidade possui liberdade, espaço e alcance para amplificar sua cultura, seus reclames, sua diversão e também seus impasses”, reforça Helder Gurgel.