13ª edição

A importância do eleitor consciente em um meio cercado de tubarões

Por Redação

24/09/2024 14h15

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

Na década de 1950, o dramaturgo Bertold Brecht escreveu “Se os tubarões fossem homens”, com a questão central: “Se fossem homens, seriam eles mais amáveis com os peixinhos?”. Trata-se de uma narrativa interessante que permite uma gama imensa de reflexões, com um ponto em especial; se fossem homens, poderiam definir o futuro dos peixinhos por serem maiores e mais impiedosos?

O conto é uma alegoria que expõe, de forma crítica, como as estruturas de poder podem manipular e explorar os indivíduos para perpetuar seus próprios interesses. Brecht imagina um mundo onde, se os tubarões fossem homens, eles criariam um sistema para manter os peixes, suas presas, subservientes e obedientes, oferecendo-lhes uma falsa sensação de segurança e promessas de benefícios. Essa narrativa pode ser comparada à escolha realizada durante as eleições, onde as dinâmicas de poder e a responsabilidade individual desempenham papéis cruciais. Assim como no conto, onde os peixes devem discernir entre as promessas dos tubarões e a realidade de suas intenções, os eleitores também precisam ser críticos em relação às promessas dos candidatos e as reais intenções por trás de seus discursos.

Uma decisão eleitoral consciente envolve questionar o que está nas entrelinhas das promessas políticas e quem, de fato, se beneficiará com as propostas apresentadas. Assim como os tubarões no conto de Brecht criam um sistema para assegurar seu próprio domínio, alguns candidatos podem utilizar retóricas populistas ou propostas superficiais para ganhar apoio, sem um compromisso genuíno com o bem-estar público. Cabe ao eleitor discernir entre propostas que visam o bem comum e aquelas que servem apenas aos interesses de poucos.

Ao fazer um paralelo com o conto de Brecht, há um alerta para a importância da visão crítica e informada diante das promessas. Em uma democracia, o voto é uma das ferramentas mais eficazes para a definição sobre o rumo da sociedade. No entanto, esse poder só pode ser efetivo se exercido com consciência, responsabilidade e uma profunda compreensão das consequências que cada escolha pode trazer para o futuro.

Portanto, assim como os peixes no conto de Brecht deveriam questionar as intenções dos tubarões, os eleitores também devem questionar as intenções dos candidatos, avaliando com cuidado quem realmente está comprometido com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A escolha consciente é a chave para evitar cair nas garras daqueles que, como os tubarões, podem estar mais interessados em seu próprio benefício do que no bem-estar da coletividade.

Em tempos de intensa polarização política e incertezas econômicas, o ato de votar se torna ainda mais crucial. O que antes era considerado apenas um dever cívico, hoje, exige uma postura ainda mais responsável e informada por parte do eleitorado. Decidir em quem depositar sua confiança não é só escolher um candidato; é definir o rumo que o lugar em que se vive tomará nos próximos anos. E é justamente neste momento, dentro da cabine de votação, que o poder individual de cada cidadão aparece, preferencialmente sem amarras ou influências externas. 

Votar com consciência significa olhar além das promessas superficiais e slogans de campanha. É fundamental que eleitores e eleitoras compreendam as implicações de suas escolhas, considerando o histórico, as propostas concretas e, principalmente, o compromisso dos candidatos com a democracia e o bem-estar coletivo. A eleição não é um jogo de futebol, onde o time do coração sempre deve ser o escolhido, independentemente de sua performance. É uma decisão que, na prática, afeta diretamente a qualidade de vida de todos.

O Brasil, uma jovem democracia com pouco mais de três décadas de estabilidade institucional, enfrenta desafios que vão desde a recuperação econômica até a necessidade de reformas estruturais. Diante desse cenário, a escolha política possui um papel estratégico. Não se trata apenas de votar, mas de votar bem, com a certeza de que se está escolhendo o melhor para o país e não apenas o “menos pior”.

Uma decisão inconsciente, motivada por desinformação ou pela simples rejeição ao outro lado, pode ter consequências devastadoras para o futuro do Brasil. Por isso, é essencial que o eleitorado estude as propostas, conheça a trajetória dos candidatos e, principalmente, não se deixe levar por fake news ou discursos inflamados que visam apenas dividir.

Votar é um ato de poder. E, como todo poder, vem acompanhado de uma grande responsabilidade. Fazer essa escolha com consciência é o primeiro passo para construir um país mais justo, próspero e democrático. Em um cenário político cheio de tubarões e peixinhos, é sempre preferível saber exatamente por onde nadar.

Sobre Mariana Dionísio:

Doutora em Ciência Política pela UFPE. Mestre em Direito Constitucional pela UNIFOR. Formação em Leadership and conflict management pela Stanford University. Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Direito na UNIFOR e professora substituta do Curso de de Graduação em Direito na UFC. Diretora Formação Continuada na Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região.