11ª edição

A melhor maneira de contar sua história 

Publicado em

19/03/2024 09h59

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Linkedin

Quem é você? Onde está? Como e por que chegou até aqui? Essas são algumas perguntas que, à primeira vista, podem parecer bobas, óbvias e, portanto, fáceis de serem respondidas. Mas também podem convidar a reflexões e conversas filosóficas. Falar da própria história e motivações, olhar para si da posição de observador é um dos maiores desafios da vida. E o mais importante deles. Não sou eu que estou falando. Apenas pegando carona na máxima de Sócrates — “Conhece-te a ti mesmo” —, que segue atual mais de 2000 anos depois.

Existem várias maneiras de responder essas perguntas. Talvez a mais automatizada seja com fatos e dados, em sequência cronológica, como em um currículo. Mas certamente não é a mais completa nem a que vai atrair maior atenção — seja de um interlocutor, de uma plateia inteira ou de milhões de seguidores e leitores. O que vai deixar os olhos das pessoas vidrados em você são dois elementos que toda história humana naturalmente carrega: a unicidade e a emoção.

Porém, trazer à tona esses elementos e comunicá-los é trabalho para uma vida. O importante é começar e, a cada oportunidade, refinar um pouco mais o discurso.

O tema é tão fundamental para mim que tenho dedicado a minha vida a ele. Pessoalmente, buscando aprofundar a compreensão sincera de quem sou, com recursos de autoconhecimento, como yoga, meditação e terapia. Profissionalmente, como jornalista, comunicadora e fundadora de uma empresa que se dedica a apoiar pessoas e instituições a construírem suas narrativas. 

Ao longo de 20 anos de trabalho, reforcei minha convicção de que a comunicação eficaz é a chave para o sucesso de qualquer projeto. É elemento essencial para uma boa liderança. É decisiva para a atração e retenção de aliados — seja uma audiência, um cliente, um colaborador.

Compartilho a seguir os quatro passos que considero a base da construção de uma narrativa pessoal poderosa.

  1. Fale só a verdade.

A verdade é muito mais rica do que ideias românticas ou superficiais. A verdade dá trabalho para ser descoberta. Exige mergulho, escavação. Leva tempo e gera desconforto. Mas vale a pena. Uma vez encontrada, traz todos os elementos de uma boa narrativa: dramas, incertezas, fracassos, reviravoltas, superações, conquistas. A jornada do herói está toda ali, na verdade simples (mas não simplória) de cada um de nós.

Ocupe-se em colher as informações sobre si mesmo. Vasculhar os motivos que levaram você a escolher um caminho em vez de outro, a dizer sim para um trabalho, a tomar uma atitude inesperada, a começar algo novo.

Encontre seus sinceros por quês e liste-os. Eles dão sentido a uma sucessão de acontecimentos. Preenchem as lacunas. Diferem a história de uma pessoa da de outra. 

Mas nem toda a verdade precisa ser dita.

Agora comece a filtrar as verdades que encontrou. O que você está confortável de dizer publicamente? As feridas ainda abertas, melhor guardar para si até fecharem. Já as vulnerabilidades superadas, são muito bem-vindas para inspirar outros a não terem medo das imperfeições. Todos as temos. 

Escolha aquilo que faz sentido ser dito, considerando seu próprio ponto e vista e também o da audiência. Por que as pessoas precisam saber isso? De que forma isso as ajudará a compreender a história?

Defina mensagens claras e concisas.

Com a matéria-prima em mãos, organize sua história — os fatos e seus “comos” e porquês — em tópicos simples e diretos. Tente não passar mensagens ambíguas ou cheias de informações que podem confundir o interlocutor.

Uma mensagem poderosa tem foco. Qual o seu? Priorize-o com disciplina.

Ajuste o discurso à audiência.

Fazer uma palestra é diferente de escrever um livro, que é diferente de postar um vídeo nas redes sociais ou participar de uma reunião presencial. Com quem está falando? Em que contexto? Para qual objetivo? Essas três perguntas levarão você aos critérios para ajustar o tamanho, a profundidade, o tom de voz e o enfoque no conteúdo que vai comunicar.

Comunicação exige estratégia. É garantido que, seguindo esses quatro passos, você vai conseguir comunicar o que pretende? Não. Porque comunicação depende também de quem ouve (com sua própria história, repertório e filtros). Estruturar nossa narrativa com consciência e método é, porém, o que está ao nosso alcance fazer. E, acredite, já é bastante coisa. O suficiente para lhe dar a tranquilidade que quem sabe o que está falando.