12ª edição

A saúde mental no contexto do mercado de trabalho intergeracional

Por Redação

07/06/2024 13h20

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

O ambiente de trabalho contemporâneo é marcado pela diversidade geracional onde cada uma delas representa não só os valores, mas tendências, comportamentos e desejos de   uma época. Nesse cenário, cabe salientar que o cuidado com a saúde mental, além das prioridades profissionais, também possuem perspectivas diferentes quando observado dentro das diferentes faixas-etárias.

Em levantamento realizado pela YouGov, constatou-se que 47,4% dos latino-americanos da Geração Z informaram que o único estímulo para trabalhar é o dinheiro. Esse dado reflete não apenas uma realidade econômica (receio de instabilidade financeira), mas também uma mudança nas perspectivas e valores dessa geração.

A psicóloga Lyana Aragão analisa que os interesses de carreira foram mudando no decorrer da história. Ela observa que as Gerações X e Y começam a trabalhar para ter algum aprendizado, depois dinheiro e status, em seguida, outros benefícios e só no fim começar a pensar em qualidade de vida. Já a geração Z chegou pensando em qualidade de vida sem passar pelas outras fases. “Todo mundo quer a mesma coisa: qualidade de vida, mas vindo de lugares diferentes na história”, diz. 

Esses diversos cenários trazem nuances não apenas a respeito da carreira profissional, mas também revela a maneira como cada geração lida com o tema da saúde mental. Lyana destaca a importância de uma cultura que não seja rigorosa com erros, que haja espaço para novas ideias e sugestões e treinamentos que ajudem na comunicação de forma que se permita a troca de ideias e feedback de maneira construtiva e respeitosa. “Ambas as gerações precisam ter uma postura de abertura, uma cultura de aprendizado, sem apego a fórmulas corretas, onde o aprendizado e desenvolvimento seja mais importante do que estar certo e ter razão”, informa.

A presença de jovens no ambiente de trabalho pode trazer mudanças tais como: novas tecnologias não conhecidas pelos mais experientes, diferentes métodos de trabalhos, expressões que tendem a fazer com que os profissionais mais maduros sintam-se ultrapassados e desatualizados. Lyana chama atenção para o fato de que isso pode causar alterações de comportamento como irritabilidade e falta de paciência. Nessas situações, os coordenadores de equipe precisam ficar atentos a problemas de saúde mental que também podem se manifestar de maneira física.

“Podem aparecer alguns sintomas como sensação constante de cansaço ou exaustão, mesmo após períodos de descanso. Queixas como dores de cabeça, gastrite ou tensão muscular”, alerta a psicóloga. Ela acrescenta que os aspectos emocionais decorrentes da ansiedade e do estresse podem incluir: sentimentos de insegurança, medo de não conseguir acompanhar o ritmo das mudanças impostas, baixa auto estima, onde percebe-se uma redução da confiança nas próprias habilidades e competências, questionando o valor de sua experiência e ansiedade generalizada resultando na queda de produtividade, erros frequentes e falta de motivação nas tarefas diárias e pelos projetos em andamento.

Diálogo entre as gerações como ferramenta de trabalho

Visando desenvolver estratégias para melhorar o convívio no ambiente de trabalho, Aleks Mesquita, CEO da Apoyo Saúde Mental, recomenda que as lideranças auxiliem os mais velhos a se adaptarem aos jovens mediante programas de mentoria reversa, nos quais os jovens compartilham seus conhecimentos. “O desenvolvimento contínuo de novas tecnologias e tendências de mercado é indispensável. Espaços de diálogo entre gerações e incentivo à participação em projetos cooperativos facilitam a compreensão mútua.”

A fim de facilitar o diálogo entre gerações, o uso de múltiplos canais e o feedback contínuo são estratégias eficazes, segundo Aleks. Ele reitera que a cultura de transparência diminui mal-entendidos, enquanto diversos canais atendem às diferentes necessidades e pode ser útil para ajustar abordagens e melhorar a colaboração, promovendo a compreensão mútua no local de trabalho. 

Conduzir essas estratégias com a finalidade de integração intergeracional no ambiente de trabalho proporciona benefícios como a troca de experiências, o aumento da criatividade e uma atmosfera mais inclusiva. Mesquita sugere que as lideranças podem promover esses benefícios por meio de campanhas de conscientização, workshops e compartilhamento de experiências de sucesso. “Ao reconhecer a diversidade etária, as lideranças fortalecem a cultura organizacional e melhoram a saúde mental de todos os funcionários, criando um ambiente de respeito e colaboração.”

É importante que a empresa reforce que a experiência dos profissionais mais velhos é um recurso valioso que pode ser combinado com novas práticas para criar soluções inovadoras. Incentivar projetos em equipes requer a colaboração entre diferentes gerações com diferentes competências.

Mesquita acrescenta que os mais velhos podem sentir estresse ou ansiedade diante das mudanças no ambiente de trabalho causadas pela entrada dos jovens, que têm resistência às novas tecnologias, insegurança quanto às suas habilidades, isolamento social e aumento de sintomas físicos, como dores de cabeça e insônia. “Esses sinais indicam a dificuldade em se adequar às novas circunstâncias e a sensação de falta de atualização. O sentimento de incompetência ou de que está fora do ritmo dos mais jovens podem também causar estresse, ansiedade e até comportamentos depressivos nos mais velhos, a não compreensão de termos, gírias e até a sensação de inadequação  ao grupo atual, a sensação de isolamento, de que já não se encaixa ao grupo pode ser bastante dolorosa aos mais velhos, mas isso também pode acontecer com os mais novos, tudo vai depender da composição do grupo”, descreve.