O professor, jornalista e observador do mundo Nilson Lage morreu aos 84 anos, em Florianópolis, deixando uma contribuição ímpar para o jornalismo brasileiro
Nilson Lage era graduado em Letras, mestre em Comunicação e doutor em Linguística e Filosofia. Foi professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e se aposentou em 2006 como professor titular do Departamento de Jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Poucos sabem, mas Lage, ainda jovem, quis cursar medicina e largou a ideia por discordar de Freud. Ingressou em Letras, com habilitação em russo, para entender mais das ideias vindas de um outro mundo. Não se tornou médico nem professor de russo: abraçou o jornalismo como autodidata, sem diploma, com 50 anos dedicados à formação crítica de jovens comunicadores e a uma produção de conhecimento inigualável sobre linguagem jornalística, técnicas de redação e reportagem.
Lage iniciou a carreira jornalística em 1955, como redator do Diário Carioca. Posteriormente foi editor de textos do Jornal do Brasil, redator-chefe, editor de Política e de Geral do jornal Última Hora, redator-chefe da revista Manchete, editor do jornal O Globo e gerente da TVE do Rio de Janeiro. Considerado um ícone da pesquisa do jornalismo no Brasil, o carioca escreveu livros como “A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística”, “A linguagem jornalística”, “Teoria e técnica do texto jornalístico” e “A estrutura da notícia”. A extensa produção bibliográfica e acadêmica inclui 11 livros, 31 colaborações em capítulos de livros, e diversos artigos de produção acadêmica e técnica.
Nilson Lage também contribuiu com diversas participações em debates e congressos promovidos pelas Universidades e pelo movimento sindical dos jornalistas brasileiros. Em uma das ocasiões, esteve presente na II Semana de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, em 2011, concedendo entrevista para o tradicional projeto Revista Entrevista, liderado pelo professor Ronaldo Salgado, que relembra:
“Uma figura extraordinária, sensível, competente, humana, delicada. Marcou profundamente minha carreira por meio da sua produção acadêmica e encontros enriquecedores em congressos e eventos Brasil afora. Marcou também, especialmente, pela sua participação na Revista Entrevista – edição 26, nos ensinando a refletir sobre jornalismo, além de relatar histórias pessoais e memórias únicas”, conta.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), os Sindicatos dos Jornalistas de Santa Catarina e do Município do Rio de Janeiro e demais entidades representativas do segmento comunicaram nota de pesar. A coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, Kamila Fernandes, também lamenta o falecimento do pesquisador. Em nota, diz:
“ Nilson Lage foi, sem dúvida, um dos autores que mais contribuíram para refletir sobre a prática jornalística no Brasil, com uma obra que se mantém atual e essencial para os futuros jornalistas. Diante disso, sua morte representa uma enorme perda para o jornalismo brasileiro, sobretudo em um momento em que a liberdade de imprensa é atacada de maneira recorrente pelos que estão no poder. Com os ensinamentos de Nilson Lage, porém, o jornalismo seguirá firme e forte com a produção de informação de qualidade e relevância pública, o que é essencial para garantir a autonomia dos cidadãos em uma sociedade democrática”.
Confira aqui a entrevista para Revista Entrevista, em 2011.