16ª edição

Artigo | Conexão Humana na Era das Telas

Por Redação

07/07/2025 16h18

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Educação significativa depende de vínculos, limites e propósito em meio à era digital

Por Rafael Lima*

Vivemos um tempo paradoxal. A informação nunca foi tão acessível, mas conquistar atenção e engajamento também nunca foi tão desafiador. A chamada “era digital” transformou profundamente nossos modos de comunicação, aprendizagem e relacionamento, gerando desafios inéditos para toda a sociedade, especialmente em ambientes educacionais.

Recentemente, dois livros me ajudaram a compreender melhor esse cenário: “Foco Roubado”, de Johann Hari, e “Geração Ansiosa”, de Jonathan Haidt. Ambos trazem reflexões cruciais sobre o impacto da tecnologia no comportamento humano, particularmente nos jovens. O excesso de estímulos digitais, a presença constante dos celulares e o uso intenso das redes sociais têm contribuído para a perda da concentração, o aumento da ansiedade e a fragilização das relações humanas – elementos que impactam diretamente o ambiente escolar.

A tecnologia nunca deve ser vista como inimiga do processo educativo, mas sim como uma aliada. Recursos digitais, quando utilizados com intencionalidade pedagógica e equilíbrio, enriquecem o ensino, facilitam o acesso ao conhecimento e geram novas possibilidades de interação. O problema não está na tecnologia em si, mas no uso descontrolado, sem mediação, que tende a desviar o foco e comprometer a qualidade da atenção.

Se os adultos — que viveram parte de suas vidas sem celulares e tablets — enfrentam dificuldades no uso controlado desses dispositivos, especialmente das redes sociais, imagine a complexidade para as crianças, que já nasceram com acesso irrestrito a essas tecnologias. Por isso, o papel dos pais e professores é fundamental para orientar o uso adequado desses recursos.

Nesse contexto, o Grupo CEV, que atende mais de 5.000 alunos distribuídos em sete unidades no Piauí, já acumula uma vasta experiência. Em nossa metodologia, o uso da tecnologia nas aulas é uma realidade desde 2017, o que nos dá segurança quanto às melhores práticas para o uso saudável desses recursos.

Uma novidade de grande impacto nos ambientes escolares é o acesso à Inteligência Artificial, que, assim como outras tecnologias, não deve ser vista como inimiga. Aqui, acreditamos que quanto maior for a disseminação do uso correto da IA, melhores serão os resultados que essa ferramenta poderá proporcionar a alunos e professores. Já capacitamos mais de 500 pessoas, entre funcionários e professores, e temos convicção de que a democratização desse conhecimento impactará positivamente nossas escolas.

Mais do que dominar ferramentas ou aplicar métodos, o educador hoje precisa fortalecer o vínculo com seus alunos. Quando o estudante se sente reconhecido, valorizado e acolhido, seu engajamento é outro. A construção de uma relação de confiança cria um espaço emocional seguro que favorece a aprendizagem, especialmente em tempos em que muitos jovens enfrentam inseguranças, pressões sociais e dificuldades de saúde mental. O professor, nesse cenário, é mais do que um transmissor de conteúdos: é uma presença significativa que pode despertar o interesse e contribuir para o equilíbrio emocional dos alunos.

No entanto, a responsabilidade por esse processo educativo não pode recair apenas sobre a escola e os professores. As famílias também têm um papel central na formação dos hábitos e valores das crianças, especialmente em relação aos estudos e ao uso de celulares e tablets.

É em casa que os limites devem começar a ser construídos, com diálogo, acompanhamento e exemplo. Pais que compreendem os riscos do uso excessivo da tecnologia e incentivam momentos offline – de leitura, conversas, prática de esportes e convivência – contribuem diretamente para o sucesso escolar e emocional de seus filhos.

A escola, por sua vez, precisa seguir como parceira ativa nesse processo. A recente lei que proibiu o uso de celulares nas escolas brasileiras ilustra bem como algumas medidas podem favorecer a atenção e a convivência. É nítida a melhora em diversas instituições após a implementação da norma. Muitos educadores relatam avanços no comportamento dos alunos, maior participação nas aulas e interações mais saudáveis entre os colegas.

A proibição não é um fim em si mesma, mas um passo importante para estabelecer limites e reforçar a ideia de que há momentos para o uso da tecnologia e momentos que exigem presença plena e interação humana direta.

Ensinar e aprender na era digital é um desafio complexo, mas também uma oportunidade poderosa de repensar práticas e fortalecer vínculos. Apesar das dificuldades, é importante lembrar que a escola continua sendo um dos espaços mais transformadores da sociedade. É nela que crianças e jovens aprendem a conviver, a pensar criticamente, a desenvolver valores e a construir seus projetos de vida. Em tempos de mudanças tão rápidas, a escola permanece como referência de acolhimento e aprendizagem.

Quando alunos, professores, famílias e funcionários caminham juntos, é possível transformar o mundo por meio de uma educação com acolhimento e propósito. A conexão humana não é apenas desejável na era das telas — é absolutamente essencial. É ela que dará sentido e direção a todas as ferramentas tecnológicas que temos à disposição.

O futuro da educação não está na escolha entre humano e digital. Está na integração inteligente e equilibrada de ambos, sempre com o ser humano no centro do processo.

Sobre o autor:

Formado em Administração, Rafael Lima encontrou no empreendedorismo sua verdadeira vocação. Após atuar em diferentes setores, foi na Educação que descobriu seu propósito: transformar vidas por meio do conhecimento. Hoje, no Grupo CEV, vive essa missão diariamente, unindo inovação, impacto social e visão de futuro.