3ª edição - Brasília

Artigo de Opinião | Honestidade: o ativo intangível mais valioso que você pode cultivar

Por Redação

23/10/2025 10h45

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

Por Ariane Abdallah, jornalista, escritora, colunista da Forbes Brasil e fundadora do Atelier de Conteúdo

Num mundo onde reputação pode valer mais que qualquer bem material, a capacidade de falar honestamente se revela um diferencial competitivo. Parece simples — e talvez até óbvio. Mas reflita com honestidade: você tem coragem de praticá-la no ambiente profissional?

Vivemos tempos paradoxais (e será que algum tempo não foi assim?). Você tem mais ferramentas de comunicação do que nunca, mas muitas vezes se perde em interações vazias. Constrói sua marca pessoal meticulosamente nas redes sociais, mas anseia por conexões autênticas. Fala sobre propósito nos corredores corporativos, mas raramente tem coragem de expor suas verdadeiras motivações.

Por quê?

Porque a gente aprende cedo que transparência é risco. Que honestidade é vulnerabilidade, e vulnerabilidade deve ser evitada.

Mas e se eu te disser que é justamente o contrário? Não sou eu quem está dizendo isso – é Brené Brown, professora e pesquisadora da Universidade de Houston que passou duas décadas estudando vulnerabilidade, coragem e vergonha. Seu TED Talk sobre o tema tem mais de 50 milhões de visualizações. E o que ela descobriu? Que vulnerabilidade não é fraqueza – é coragem em sua forma mais pura.

A resposta que eu não esperava

“Por que você criou sua empresa?”

Durante quatro anos, conduzi mais de cem entrevistas com um dos empreendedores mais bem-sucedidos do Brasil. Eu esperava ouvir algo inspirador. Paixão transformadora. Legado. Impacto social.

“Porque queria ficar rico.”

Essa foi a resposta dele. Crua. Direta. Incômoda.

Aquele momento definiu o tom de tudo que viria depois. Quatro anos de conversas sem filtro. Sem edição para ficar palatável. Quando o livro foi publicado – mantendo essa mesma honestidade brutal – a repercussão na mídia foi expressiva. As pessoas se conectaram exatamente por causa da sinceridade.

Você está medindo só uma parte — e eu arrisco dizer, a menor

Tamanho do escritório. Número de funcionários. Volume de vendas. É isso que você mede, certo? Porque sucesso é o que você pode tocar, contar, fotografar.

Pois eu arrisco dizer que sua credibilidade tem valor inestimável. Vale mais que tudo isso. Ou, dizendo de outra forma, tudo isso, sem ela, vale zero. Ou pode virar prejuízo.

Credibilidade. Confiança. Reputação. Autenticidade. Palavras que precisam de lastro. E esse lastro parte do simples: a verdadeira nobreza está em termos, acima de tudo, honestidade.

Três verdades que você preferia não ouvir

1. Sua história editada não inspira tanto quanto poderia

Você tira os tropeços da narrativa. Apaga os fracassos. Omite as dúvidas. Transforma tudo numa jornada linear e inspiradora.

O resultado? Uma história que soa artificial.

Porque no fundo sabemos que não é assim que funciona. Todos nós falhamos em algum momento. Todos tivemos motivações que poderiam ser questionadas. A diferença está em quem tem coragem de admitir isso.

Compartilhe o processo real por trás dos resultados. Reconheça que o sucesso raramente é linear. As pessoas vão se identificar.

2. Você está olhando para o lado errado da linha do tempo

No mundo corporativo, você fala incessantemente sobre o futuro. Comunica o presente. Projeta resultados.

Mas quando foi a última vez que você dedicou tempo real para revisitar sua própria narrativa?

Memória não é arquivo. Cada vez que você lembra de algo, reconstrói aquela experiência através do filtro do momento atual. Fazer esse trabalho de revisão histórica de forma consciente é transformador. Ressignificar experiências. Encontrar padrões que explicam quem você se tornou.

3. O que você perde quando não fala com honestidade

Se reputação é um ativo, a falta de integridade é um passivo que cresce exponencialmente.

Sua empresa pode sobreviver a crises financeiras. Pode se adaptar a mudanças de mercado. Pode até atravessar pandemias.

Mas perder a confiança do público? Isso pode ser uma sentença mais pesada.

E você não reconstrói confiança com press releases. Você reconstrói com ações consistentes ao longo do tempo. O que só é possível quando há honestidade como fundação.

O paradoxo final

No mundo dos ativos físicos, acumular significa não compartilhar. Mas no universo dos intangíveis, a lógica se inverte.

Quanto mais você compartilha sua história real, mais ela se valoriza. Quanto mais transparente você é sobre seus processos, mais autoridade você constrói. Quanto mais admite suas imperfeições, mais credibilidade você ganha.

A honestidade não se esgota com o uso. Ela se fortalece.

Numa era onde propósito, reputação e marca pessoal valem, muitas vezes, mais que escritórios e inventários, aqueles que dominarem a arte da transparência radical terão uma vantagem competitiva impossível de replicar.

Você pode copiar um produto. Imitar um modelo de negócio. Mas não pode fingir autenticidade.

A pergunta que importa

No final, talvez seja isso que diferencia quem constrói legado de quem apenas acumula conquistas: a coragem de ser verdadeiro, mesmo quando se acredita que seria mais fácil ser palatável.

Então eu pergunto a você, do mesmo jeito que perguntei para Anderson Birman há quatro anos:

Por que você faz o que faz?

E mais importante: você tem coragem de responder com honestidade?