Obra de Charles Sanders Peirce foi a inspiração para construção do novo livro da autora da coluna Radar no portal Nosso Meio
A colunista do Nosso Meio, Clotilde Perez, irá lançar um livro baseado no texto “The fixation of belief”, de Charles Sanders Peirce, publicado em 1877, que apesar de ser um texto com quase 150 anos, tem muita conexão com as necessidades e vulnerabilidades atuais. O foco da obra é a crença do ponto de vista da semiótica, logo que Clotilde, além de ser professora de Semiótica da ECA USP, é líder do GESC3 (Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo).
O autor que inspira a obra é Charles Sanders Peirce (1839-1914), um cientista original e ousado. O livro traz características evidentes de sua obra em vários momentos, como quando apresenta o conceito de pragmatismo fundamentalmente baseado em uma teoria empirista ou ainda adensando seus ensinamentos sobre as ciências normativas, descrevendo que o fim último da ética é ser estética, lançando mão do admirável (sumum bonum) como princípio guia.
A busca de novas palavras para nomear os conceitos inaugurados por Pierce é outra manifestação da originalidade e preocupação constante em fazer entender a obra, mantendo o rigor de suas investigações e elaborações teóricas. Clotilde conta como surgiu o insight para transformar esse desejo em realidade.
“O insight que despertou o interesse foi justamente a percepção do aumento de manifestações negacionistas nos últimos anos, nas redes sociais e apps de mensagens, mas não apenas. Uma avalanche de posicionamentos que não se sustentam nem pela comprovação científica clássica, tampouco pela evidências sociais, por exemplo. Acirrada pelo individualismo que reforça posturas baseadas em convicções”, conta.
Sua obra diz muito sobre a temática central do texto, a crença, e sua capacidade de elucidar um fenômeno que percorre a história de diversos lugares, sendo um tema de interesse de várias regionalidades científicas ao longo dos séculos.
“O texto original de 1877, de Peirce, foi analisado à luz dos nossos tempos e, impressionante, continua fazendo todo o sentido. Por isso, me dediquei a estudá-lo, além de garantir uma tradução original para o português, ampliando o acesso dos falantes da língua”, revela Perez.
Peirce apresenta 4 métodos de fixação da crença:
- 1) o método da tenacidade;
- 2) o método da autoridade;
- 3) o método a priori;
- 4) o método científico.
Cada um desses métodos é analisado à luz dos preceitos do autor e em referência à nossa sociedade atual, alicerçada em ambiguidades, transitoriedades, contestação da ciência, negacionismos e individualismos crescentes. O livro conta ainda com uma nova tradução do texto original e aspectos biográficos ainda pouco conhecidos de Peirce. A leitura permitirá a compreensão sobre a crença em suas roupagens estratégicas e o entendimento de como os métodos do passado são absolutamente válidos e frequentes nos dias atuais. Para a sociedade, o conhecimento desse assunto será indispensável, como conta Clotilde.
“O impacto é geral: a quem interessa saber como nossas convicções são construídas? A todos, simplesmente, a todos… Lidamos com as certezas, convicções, portanto, crenças, diariamente em todas as esferas da vida: no trabalho, nas negociações, nas relações sociais, nas relações afetivas… Compreendê-las garante uma postura vigilante consigo mesmo e uma atuação a favor da ciência, melhor método, ainda que falível”, finaliza.
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