Raquel Agnes e Daniel Negreiros analisam como o comportamento do consumidor no Ceará está redesenhando a preparação de marcas e campanhas para a data
A Black Friday de 2025 tem tudo para ser uma das mais relevantes da história do comércio brasileiro: de acordo com projeção da Abiacom, o e-commerce deve movimentar R$ 13,34 bilhões, um salto de quase 15% comparado a 2024. No Ceará, o impacto da data ganha contornos ainda mais intensos. Conforme descreve Raquel Agnes, CEO da agência local Agvox:
“O consumidor hoje tá muito mais atento. Ele compara, pesquisa, salva print e sabe exatamente quando a oferta é real. No Ceará isso fica ainda mais evidente, porque o público é intenso, desconfiado e extremamente engajado quando percebe vantagem.”
Para Raquel, a Black Friday não é mais só data de promoções: ela educou o público, que agora identifica “preço maquiado, narrativa forçada e oferta superficial em segundos”. E, como ela aponta, “aqui tudo viraliza rápido, pro bem e pro mal, então a régua da qualidade sobe naturalmente.”
O perfil mais criterioso do consumidor brasileiro tem respaldo em pesquisas recentes. Um levantamento de 2025 aponta que 72% dos consumidores afirmam se planejar financeiramente para as compras de Black Friday, e 6 em cada 10 entrevistados dizem que comparam preços antes de comprar. Outro dado interessante: as categorias mais desejadas para 2025 são eletrônicos, eletrodomésticos e moda, exatamente como nos anos anteriores.
Mas o aumento da exigência do consumidor traz novos desafios para marcas e agências. É comum, segundo Raquel, que campanhas comecem tarde demais. “Novembro não é o início da Black, é o fim. Quem começa a pensar na campanha no dia 10 de novembro já está perdendo terreno”, fala.
Já Daniel Negreiros, diretor da agência cearense Maré Alta, alerta para outro equívoco frequente. “Só baixar preço não segura ninguém. As marcas que se confundem achando que ‘Black é só desconto’ esquecem que Black é estratégia.”
Para ele, muitas empresas erram ao não preparar a operação: sistema de vendas, SAC, logística e jornada do cliente muitas vezes ficam de fora do planejamento. No Ceará, onde o e-commerce convive com forte presença do varejo físico e venda via WhatsApp, a integração entre canais é fundamental.
Na prática, as agências têm respondido a essas demandas estruturando todo o processo com antecedência. Na Agvox, segundo Raquel, o mês de novembro é tratado como “um projeto anual condensado”: há checklists diários, velocidade de execução e foco em consistência.
Já a Maré Alta segue uma metodologia que começa com diagnóstico em agosto ou setembro, mapeamento de margens e canais, até chegar à operação intensiva na semana da Black Friday e um “pós-mortem” que alimenta o planejamento do ano seguinte. Como Daniel resume:
“Não é sobre volume; é sobre método, repetibilidade e inteligência de negócio e de dados.”
Para 2025, ambas destacam algumas estratégias que vão além do tradicional “desconto agressivo”. São elas: construir comunidade o ano inteiro, trabalhar com dados para entender jornadas e gatilhos, investir em conteúdo estratégico que gere expectativa e forme uma experiência, do site ao atendimento.
“Vender muito em um dia é massa, mas fortalecer a marca em novembro para vender melhor o ano inteiro é melhor ainda”, diz Daniel.
Com um consumidor mais informado e exigente, disposto a pesquisar, comparar e cancelar compra diante de uma oferta duvidosa , fica claro que a Black Friday se transformou: deixou de ser um dia de promoções e virou uma temporada que exige estratégia, operação e responsabilidade.
