Entrevistas

CEO da Alvoar Lácteos, Bruno Girão fala sobre vencer Prêmio Equilibrista 2025 e futuro do mercado de laticínios

Por Redação

14/11/2025 17h00

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O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (IBEF-CE) realizou, na noite da última quinta-feira (13), no Hotel Gran Marquise, a cerimônia de entrega do Prêmio Equilibrista 2025, uma das mais tradicionais e prestigiadas homenagens do meio empresarial cearense. O evento celebrou a força da governança, da ética e da inovação, reunindo lideranças corporativas, autoridades e representantes de diversos setores da economia.

Nesta edição, foram homenageados Bruno Girão, CEO da Alvoar Lácteos, como Executivo do Ano (Equilibrista 2025); Aderson Uchôa, CFO da Solar Coca-Cola, como CFO do Ano; e a Casa dos Ventos, reconhecida como Empresa Padrão 2025. A escolha dos vencedores foi feita por votação entre os associados do Instituto, reforçando o caráter participativo e colaborativo da premiação.

Durante a solenidade, o presidente do IBEF Ceará, Renato Aguiar, destacou o simbolismo do prêmio e a importância de valorizar gestores que unem resultado e propósito “O Equilibrista é o reflexo da liderança que equilibra performance, pessoas e propósito. É um reconhecimento àqueles que inspiram e transformam o ambiente empresarial cearense com visão de longo prazo e responsabilidade”, afirmou.

O homenageado da noite, Bruno Girão, compartilhou um depoimento marcado por emoção e reconhecimento coletivo:

“É um momento de muita gratidão. Esse reconhecimento representa o trabalho de um time gigantesco, de pessoas que estão conosco hoje e das que já passaram pela empresa. Ninguém faz nada sozinho, para chegar a qualquer lugar, é preciso apoio e colaboração. Somos apenas maestros dessa grande orquestra, com a missão de orientar, inspirar e ajudar as pessoas a entregarem o seu melhor.”

Além do discurso emocionado, o CEO da Alvoar Lácteos concedeu uma entrevista exclusiva ao Nosso Meio, onde falou sobre a vitória do Prêmio Equilibrista 2025 e o futuro do mercado de laticínios. Confira abaixo:

NOSSO MEIO | O senhor sempre gosta de enaltecer o trabalho em equipe como caminhos para bons resultados. Mas a que você atribui sua escolha para o Prêmio Equilibrista?

Bruno Girão: Eu atribuo a minha escolha para o Prêmio Equilibrista ao potencial e à visão estratégica que demonstramos na condução da fusão que criou a Alvoar. Este prêmio não é apenas um reconhecimento individual, mas uma celebração da coragem e da capacidade da nossa equipe de liderar um movimento complexo, desafiador e transformador. A fusão foi um momento de grande risco, onde as estatísticas de insucesso eram altas, e ser o condutor desse processo exige um equilíbrio constante entre a preservação dos valores originais e a ambição de crescimento. Portanto, vejo o prêmio como um reconhecimento da nossa resiliência e do nosso foco inabalável no futuro da companhia.

NOSSO MEIO | O senhor é filho de um grande empresário cearense. De que forma o exemplo de seu pai influenciou sua carreira profissional?

Bruno Girão: Meu pai, Luíz Girão, não apenas influenciou, ele moldou a minha formação e a minha forma de enxergar os negócios. O principal aprendizado que recebi dele foi a coragem de ser pioneiro e a lealdade inegociável com os nossos parceiros. Ele provou que era possível “tirar leite de pedra” no sertão de Quixeramobim com muito trabalho, e depois, na hora da crise do Plano Real, preferiu vender a empresa do que faltar com a palavra e quebrar a confiança dos produtores. Eu sou o resultado dessa lição de ética e de empreendedorismo: a busca por resultados com propósito e a visão de que a credibilidade é o nosso ativo mais valioso, um ativo que ele, generosamente, me emprestou ao me colocar na presidência da Betânia aos 24 anos para eu transformá-la no que é hoje.

NOSSO MEIO | Falando do cenário econômico nacional, quais os principais desafios e oportunidades que o senhor enxerga no mercado?

Bruno Girão: O maior desafio que enfrentamos é, sem dúvida, a elevada complexidade e o alto custo do sistema fiscal brasileiro, juntamente com a burocracia excessiva, que nos obrigam a tomar decisões que são fiscalmente vantajosas, mas não produtivas. Além disso, a fragilidade da renda do consumidor é um fator limitante para o nosso setor. A grande oportunidade, contudo, reside na força do agro brasileiro e no déficit de produção do Nordeste. O Nordeste importa 50% do leite em pó que consome, e o nosso movimento, com a Alvoar, é justamente preencher essa lacuna, aumentando a produção local para substituir a importação, fortalecer a nossa cadeia e garantir que a riqueza gerada fique aqui.

NOSSO MEIO | Quais as expectativas para a Alvoar Lácteos em termos de balanço financeiro em 2025?

Bruno Girão: Nossas expectativas para 2025 são de crescimento acima da média do mercado e uma melhoria na rentabilidade, com a consolidação das sinergias da fusão. Não se pode esquecer que o setor lácteo opera com margens naturalmente apertadas, girando entre 5% a 7% de margem sobre o faturamento nas empresas mais bem geridas. Portanto, nosso foco é em eficiência operacional, em obter o melhor da Embaré e da Betânia, e em aumentar a participação de produtos de maior valor agregado, como queijos e produtos premium. Isso garantirá que o nosso retorno sobre o capital investido seja atrativo e que a empresa continue com sua trajetória de crescimento.

NOSSO MEIO | Em relação à expansão da companhia, quais estão sendo os principais movimentos e mercados visados?

Bruno Girão: Nossa expansão é feita em duas frentes pragmáticas. A primeira é o adensamento do Nordeste, que ainda é nosso maior oceano de oportunidades. No Nordeste, existem 170 mil pontos de venda alimentar e nós ainda não atendemos a mais de 100 mil deles. O movimento é levar a nossa distribuição e o nosso propósito para esses locais. A segunda frente é a expansão geográfica nacional, consolidando nossa presença nos mercados onde a Embaré já era forte e buscando novos territórios por meio de aquisições estratégicas ou o desenvolvimento de plantas greenfield, como a de queijos, onde vemos potencial para crescimento sem canibalizar o negócio principal.

NOSSO MEIO | Desde a união que criou Alvoar Lácteos, vários produtos vêm sendo lançados, de forma a atender diferentes perfis de consumidores. Tem novos produtos a serem lançados? Caso sim, quais?

Bruno Girão: Sim, temos novidades no forno, e a nossa direção de inovação segue a tendência global de busca por proteínas e produtos de valor agregado. A população está envelhecendo, e o foco em massa magra e saúde cresce, e o leite é a proteína mais acessível e eficaz. Nosso grande movimento de inovação e expansão se concentra nas áreas de Iogurtes e Queijos, que são os motores do nosso crescimento. No segmento de Queijos, temos planos de ganhar escala através da expansão de linhas de produção ou aquisições. No de Iogurtes, além disso, estamos constantemente aprimorando nossa linha de produtos health & wellness, com mais proteína e menos açúcar.

NOSSO MEIO | Inovação e sustentabilidade são essenciais para qualquer empresa no atual contexto global. Quais as principais ações da Alvoar Lácteos nesses segmentos?

Bruno Girão: Inovação e sustentabilidade na Alvoar são indissociáveis do nosso propósito. A principal ação de sustentabilidade começa na fazenda, através do nosso programa de assistência técnica, onde trabalhamos com os produtores para aumentar a produtividade e a qualidade do leite, o que, por si só, é mais eficiente em termos de uso de recursos. Em inovação, nosso foco é no equilíbrio da bacia leiteira: o investimento na nova fábrica de leite em pó em Morada Nova, por exemplo, é uma inovação estratégica que nos permite estocar na safra e usar na entressafra, garantindo o nosso compromisso inquebrável com o produtor e a continuidade do abastecimento ao mercado. No produto final, a inovação está na busca por embalagens mais sustentáveis e no desenvolvimento de um portfólio health & wellness.

NOSSO MEIO | Recentemente, a Betânia lançou um rebranding das suas embalagens que destacam a relação afetiva entre a marca e seus clientes no estado de Ceará. Na opinião do senhor, o que explica esse afeto entre o público cearense e a Betânia?

Bruno Girão: Acredito que essa relação de afeto seja o retorno do nosso propósito e da nossa conexão com o Nordeste. O cearense sabe que, ao escolher um produto Betânia, ele não está apenas comprando um item, está participando ativamente da nossa missão de impulsionar o desenvolvimento econômico do Nordeste. Nossa empresa tem um compromisso público e inabalável de comprar o leite de mais de 6.500 famílias produtoras na região, garantindo que a renda circule e que o trabalho no campo seja valorizado. É essa reciprocidade e o fato de sermos um agente de desenvolvimento que oferece suporte, compromisso e previsibilidade diretamente ao produtor, o que gera essa confiança profunda e o afeto que nos enche de orgulho.

NOSSO MEIO | Quais os principais ganhos de fortalecer cada vez mais a parceria com famílias produtoras no Brasil?

Bruno Girão: Os ganhos de fortalecer a parceria com as famílias produtoras são estruturais e a longo prazo. O principal é a segurança da cadeia de suprimentos e a qualidade do produto. Nosso compromisso de compra de 100% da produção é o que dá ao produtor a segurança necessária para que ele invista em tecnologia, melhore a genética do rebanho e aumente a produtividade. Isso garante para nós um leite de melhor qualidade e uma fonte de abastecimento estável 24 horas por dia. Acima de tudo, é a concretização do nosso propósito social: ao pagar um preço justo e dar suporte técnico, garantimos que a renda fique no campo, impulsionando o desenvolvimento do Nordeste, o que é o nosso maior diferencial competitivo.

NOSSO MEIO | Quem é o Bruno Girão fora do mundo dos negócios? O que o senhor gosta de fazer nas horas livres, seja em família ou individualmente?

Bruno Girão: O Bruno Girão fora dos negócios é o Bruno que está sempre buscando conhecimento. Minhas horas livres são dedicadas ao aprendizado contínuo. Eu sou um consumidor voraz de documentários, podcasts, tudo o que me ajude a entender a economia, a história e as tendências de um mundo em constante mudança. Além disso, a forma mais rica de aprender é o bom papo, me relacionando e conversando com gente que tem a capacidade de me tirar da bolha e me ensinar algo novo. E, claro, a família é a minha base, o meu alicerce para toda essa jornada intensa.

NOSSO MEIO | Que recado o senhor deixaria para o jovem cearense que busca empreender?

Bruno Girão: O recado que eu deixo é para que ele seja idealista e inconformado. O Brasil é um país com oportunidades imensas, mas exige coragem e trabalho duro. O jovem precisa ter um propósito inegociável, não se trata apenas de ganhar dinheiro. Ele deve se dedicar ao aprendizado contínuo, pois a única certeza no nosso mundo é a mudança. Além disso, é fundamental buscar um mentor, alguém que o tire da zona de conforto, que diga as verdades que ele não quer ouvir, e que o force a competir por mérito, sem o apoio fácil do sobrenome ou da posição.