A dimensão da Igualdade de Gênero na CT&I: ainda há muito para avançar

Por Academia & Mercado

28/06/2023 09h00

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A integração da perspectiva de gênero à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) vem sendo cada vez mais discutida em ambientes institucionais em várias partes do mundo. Apesar de ser possível observar avanços importantes em relação ao aumento da participação das mulheres nos campos científico e tecnológico, essa participação ainda é menor que a masculina, e muito há que avançar.

Estudos recentes têm mostrado que, tanto em países em desenvolvimento como em países desenvolvidos, a igualdade de gênero está positivamente associada ao desenvolvimento econômico. Mas ainda persiste uma lacuna de gênero em vários campos, sobretudo nas chamadas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática) que estão diretamente associadas aos processos de inovação, onde a composição entre academia, governo e mercado se torna essencial.

Estudo conduzido pela Deloitte’s Global Center for Corporate Governance mostra que a diferença de gênero chega até seus respectivos corpos diretivos e conselhos. Apesar de uma melhora nos quadros, o país com maior igualdade representativa é a Noruega com 40% dos assentos. Na América do Norte, essa representação é de aproximadamente 18%, na Europa de 25,8%, e na América Latina de apenas 7.9%.

Nota-se que o problema da desigualdade de gênero é ainda mais agudo nos níveis mais altos das hierarquias acadêmicas e profissionais. Dados da América Latina, por exemplo, mostram que embora 60% dos graduados e 45% dos pesquisadores na América Latina sejam mulheres (UNESCO, 2007), nas disciplinas STEM essa porcentagem cai para 36% quanto à ocupação dos estratos hierárquicos mais altos – normalmente responsável pela negociação de acordos internacionais. Um exemplo é o Brasil que, mesmo com 49% dos pesquisadores do sexo feminino, apenas 27% das mulheres lideram grupos de pesquisa, em comparação com 32% dos homens. 

O projeto Gender Equality in Science, Technology and Innovation – Bilateral and Multilateral Dialogues, que conta com apoio da FAPESP e do Programa Horizon da Comissão Europeia, vem conduzindo, desde 2022, um mapeamento completo das instituições de CT&I no Brasil, fazendo um diagnóstico sobre a igualdade de gênero em diálogos bilaterais e multilaterais de ciência, tecnologia e inovação. 

A pesquisa inicia agora uma perspectiva comparada, e é desenvolvida em parceria com outras dezoito instituições de países localizados em quatro continentes, cujos objetivos são analisar e propor soluções para a desigualdade de gênero nas colaborações internacionais em Ciência, Tecnologia e Inovação, e desenvolver estratégias e soluções colaborativas para desafios comuns no tema de gênero entre os países participantes.

Até o momento, a pesquisa tem feito um investimento nas discussões para criar uma estratégia que integre efetivamente as perspectivas transdisciplinares em um diálogo multilateral que tem culminado em uma rede ativa de pesquisadores e formuladores de políticas públicas capazes de alterar a realidade da participação feminina nas várias instituições de CT&I e, com isso, melhorar as políticas públicas também no plano global.

Resultados parciais da pesquisa podem ser encontrados em https://www.gender-sti.org/ e revelam como as instituições ainda precisam avançar para tornar toda a área de STEM e a ciência, tecnologia e a inovação, mais inclusivas. A desigualdade de gênero é entendida, em vários países, como um empecilho ao desenvolvimento, mas os diagnósticos ainda precisam ser traduzidos em políticas efetivas que contribuam para avançar os padrões de justiça social.

Por Janina Onuki

Janina Onuki é cientista social, Doutora em Ciência Política pela USP. É professora titular do Departamento de Ciência Política da FFLCH-USP, coordenadora do projeto temático FAPESP Gender STI e coordenadora do Grupo de Relações Internacionais da Associação Latino-Americana de Ciência Política (Alacip).

Foi Diretora do Instituto de Relações Internacionais da USP (2018-2021), Pesquisadora do Programa Ano Sabático do Instituto de Estudos Avançados (2022) e professora visitante na School of Public and International Affairs da North Carolina State University (2013).

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.