Por Amâncio Jorge de Oliveira, coordenador executivo da Escola de Diplomacia Científica e da Inovação da USP
O termo “diplomacia científica” é relativamente recente — pouco mais de 15 anos — mas já circula, com desenvoltura, tanto nos espaços diplomáticos quanto nos científicos. Coube à American Association for the Advancement of Science (AAAS), equivalente à nossa SBPC, em parceria com a Royal Society, cunhar a expressão em 2010. Inicialmente restrito aos praticantes, o conceito rapidamente conquistou espaço também como área de ensino e pesquisa em universidades ao redor do mundo.
Embora existam variações em suas definições, a ideia central permanece: a diplomacia científica consiste no uso da colaboração acadêmica internacional para enfrentar problemas comuns da humanidade e contribuir para a produção de bens públicos globais. A pandemia de Covid-19 reforçou a relevância do tema: governos instituíram políticas específicas, ONGs passaram a atuar na área e centenas de artigos foram publicados sobre o assunto.
Uma evolução importante desse campo foi a emergência da chamada diplomacia da inovação. Trata-se de um spin-off da diplomacia científica, que desloca o eixo da cooperação para arenas comerciais e competitivas. Nessa perspectiva, passam a ganhar centralidade temas como transferência de tecnologia, acesso a mercados de companhias de alta tecnologia, direitos de propriedade intelectual, rankings de inovação e políticas correlatas.
Se a neutralidade científica caracteriza a diplomacia científica, a competição tecnológica é a marca da diplomacia da inovação. Em tempos de corrida global por deep tech, inteligência artificial e tecnologias quânticas, o debate deixa de se limitar à cooperação científica e passa a incorporar interesses estratégicos e nacionais.
O próximo desafio, contudo, será o de ampliar a noção de inovação para o campo das humanidades. Ainda hoje, inovação é muitas vezes associada apenas às chamadas “ciências duras”. No entanto, há inovações igualmente relevantes nas ciências sociais e humanas — como demonstram as transformações em políticas públicas — que impactam diretamente a vida das pessoas.
Um bom exemplo de como inovação e humanidades podem andar juntas tem sido dado pela Fapesp. Desde 2019, a Fundação tem lançado os Centro Ciência para o Desenvolvimento, os CCDs. Os Centros são formados por parcerias entre órgãos de governo, universidades e instituições de pesquisa paulistas e entidades não-governamentais. Neste ano foram lançados 34 novos Centros, já desenhados para impactar políticas públicas. Os professores Márcio de Castro e Marco Antonio Zago publicaram artigo recente na Folha de S. Paulo classificando os CCDs como o mais vigoroso programa de políticas públicas do país.
As parcerias formadas por esses Centros projetam internacionalmente políticas públicas e a ciências humanas brasileiras. São casos de ciências humanas que a diplomacia de inovação deveria passar a se debruçar.
