Foi-se o tempo em que as atividades de uma universidade se resumiam à formação de profissionais (ensino), à produção de conhecimento científico (pesquisa) e a algum tipo de retorno à sociedade (extensão), muitas vezes em uma posição de distanciamento da realidade ao seu redor. Hoje, sobre essa mesma tripla sustentação, mas abarcando cada vez mais funções e tendo de dar conta de demandas cada vez mais diversificadas, as universidades desempenham um papel socialmente complexo, economicamente indispensável e politicamente central. É no contexto atual, de múltiplas crises, inúmeras tensões e grandes desafios, que novas indagações se fazem à universidade. É diante de um cenário de instituições democráticas fragilizadas, rápido e atordoante avanço tecnológico, intrincadas redes globais de influência, agonia e revolta do meio ambiente, acirramento das diferenças e das desigualdades, padecimento generalizado do corpo e da mente e ininterruptas ameaças à saúde pública que a universidade se vê ao mesmo tempo em profundo questionamento e sob intensa expectativa. É das universidades que se pode – e se deve – esperar as respostas mais comprometidas com o desenvolvimento da sociedade.
Quando refletimos sobre uma instituição de ensino e pesquisa de natureza pública, mantida pelo Estado, certas características se destacam, determinados princípios são adicionados e outros sentidos se impõem. A universidade pública deve estar comprometida com o avanço da ciência, das tecnologias e da cultura, sempre almejando a melhoria da vida de toda a sociedade. A universidade pública existe em função da sociedade que a financia por meio de orçamento público-estatal, e por ela, pela sociedade, deve atuar em todas as suas possibilidades e frentes.
Nesse sentido, a função das universidades, que se fundam na tríade ensino-pesquisa-extensão, de natureza pública, se estabelece a partir do compromisso com o desenvolvimento e a transformação social por meio do ensino e da pesquisa de excelência nas diversas áreas do saber, o que inevitavelmente, alcançará as pessoas e o coletivo, ultrapassando os limites físicos, institucionais e simbólicos. Mas, para fazer sentido para as pessoas e para a sociedade, a universidade precisa estar em permanente diálogo interno, mas também viabilizando canais de participação e procurando dar voz para todos, para a diversidade de sua coletividade imediata e para a imensa pluralidade, do que chamamos sociedade. A sociedade precisa estar mais dentro e um caminho para isso são as políticas de inclusão social; da mesma forma que a Universidade precisa estar mais fora, ampliando sua presença no cotidiano das pessoas, criando um imenso processo de permeabilidade e transbordamento das fronteiras. Na USP, esse movimento já começou, está em andamento; precisa ser intensificado e garantido; precisa de decisão clara, estratégias e ações efetivas que assegurem a conquista do avanço em direção a uma vida melhor, com sentido e possibilidades para todos, demonstrando a importância da Universidade em transformar a sociedade lhe oferecendo a devida retribuição cívica, democrática e humana.
Antonio Carlos Hernandes
Vice-reitor da USP licenciado. Professor titular do Instituto de Física de São Carlos USP. Pró-reitor de graduação da USP (2014-2018).