ChatGPT, o hype da vez

Por Clotilde Perez

08/02/2023 11h35

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Lançado em 30 de novembro último pela OpenAI, rapidamente tornou-se viral, foi inclusive tema de reportagem do Fantástico da TV Globo. Segundo o seu CEO, Sam Altman, nos primeiros cinco dias mais de um milhão de usuários fizeram login na plataforma para testá-lo gratuitamente. Baseado na tecnologia de IA GPT-3.5, que por sua vez é baseada na arquitetura de redes neurais Transformer criada em 2017 pelo Google, o ChatGPT é o melhor chatbot disponível e promete ser uma das sensações de 2023. O encantamento, em parte, provém da facilidade de interface por meio de diálogo, o que não demanda conhecimento especializado.

 

O ChatGPT é capaz de produzir conteúdo “original” a partir de grandes bases de dados, ou seja, sintetiza texto, imagem e vídeo, enquadrando-se na categoria de inteligência artificial denominada “AI Generative” – distinto da “IA Preditiva”, modelo predominante na última década, centrada em extrair padrões em grandes conjuntos de dados e, com base neles, oferecer previsões de quando e como um evento vai ocorrer. Mas, atenção, a aparente consistência das respostas do ChatGPT não podem ser tomadas como precisas e verdadeiras, como todas as tecnologias de inteligência artificial, esse modelo também tem inúmeras limitações.

 

Os modelos de IA generativa ao invadir o território humano, pela capacidade de criar algo novo, têm a habilidade de revolucionar a forma como as empresas operam especialmente em atividades como mídia social, jogos, publicidade, geração de códigos, design gráfico, arquitetura, direito, design de produto (prototipagem), marketing e vendas; outra contribuição do ChatGPT é atender a demanda por conteúdo personalizado assertivo, desde marketing até contratos legais e roteiros cinematográficos. Ou seja, esses modelos impactam diretamente a chamada indústria criativa (atividades nas quais a criatividade é essencial no negócio).

 

O The Guardian, por exemplo, alertou para o risco “dos professores, programadores e jornalistas ficarem desempregados em apenas alguns anos, depois que o mais recente chatbot da OpenAI surpreendeu os espectadores com sua capacidade de escrita, proficiência em tarefas complexas e facilidade de uso”. Não há como negar o impacto negativo sobre o trabalho, mas o embate não está perdido: os humanos ainda têm espaço, desde que se reinventem.

 

Produzir o básico já não garante relevância aos profissionais, é mandatório se familiarizar com a tecnologia e identificar formas de usá-la como “parceiro”, não adianta tentar competir. Quanto mais avança a IA, mais procede o alerta do historiador Yuval Harari no livro “21 lições para o século 21”:

 

No século XXI dificilmente você pode se permitir ter estabilidade. Se tentar se agarrar a alguma identidade, algum emprego ou alguma visão de mundo estável, estará se arriscando a ser deixado para trás quando o mundo passar voando por você. Para continuar a ser relevante – não só economicamente, mas acima de tudo socialmente – você vai precisar aprender a se reinventar o tempo inteiro”.

 

Dora Kaufman

Professora de inteligência artificial no TIDD PUC SP e colunista da  Época Negócios

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.