Seja em tempo real ou virtual, o costume da prosa é um momento tão especial que requer certo cuidado daqueles que falam muito como eu.
Quando recebi o convite da minha amiga e também professora e pesquisadora Clotilde Perez para escrever um texto sobre consumo, publicidade, mídia e semiótica, eu fiquei pensando no que adquirimos no cotidiano, particularmente agora quando permanecemos mais em casa do que na rua, parafraseando o antropólogo Roberto Augusto DaMatta (1985).
Sai à caça de uma resposta e percebi, durante uma sessão de fisioterapia e usando máscara, que uma das nossas necessidades diárias é o velho e gostoso bate-papo.
Eu estava ali fazendo os exercícios para cuidar das constantes dores na minha lombar, legado pandêmico de ficar muito tempo sentado, quando reparei que queria conversar com alguém mesmo diante daquele ambiente tranquilo e com o diálogo restrito aos pequenos encontros com a fisioterapeuta.
De repente, ouve uma troca de salas e, quando cruzei um outro paciente no corredor, não tive dúvidas, puxei um dedo de prosa. Para começar, perguntei se ele era atleta e, depois, mudamos o rumo da conversa revelando memórias de nossas viagens, trabalhos e curiosidades. Levamos até um pito no final com aqueles dizeres: “Vamos terminar a sessão!?”. Em pouco tempo, aprendi muito com aquele senhor de 82 anos, extremamente culto e simpático.
Consumo diário de bem-estar seria a palavra certa para definir nossa necessidade de abrir a tela do computador, falar no telefone e trocar ideias. Gosto de colocar para fora nossas angústias, alegrias e desejos. Recuperar bons hábitos requer energia e também um pouco de coração aberto para conhecer pessoas e lugares.
Respeito é a palavra do momento e nada melhor do que (re) descobrir histórias para, enfim, deixar o tempo passar.
Para terminar, eu deixo uma poesia em tela e verso:
A vida que temos e a que sonhamos
Nada melhor do que estar presente
Trajetória sem preço
Abraços em palavras
O café está na mesa
E a gente coloca o papo em dia.
DaMatta, Roberto Augusto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Luciano Victor Barros Maluly é professor livre-docente de jornalismo
na Escola de Comunicações e Artes da ECA-USP