Diversidade tem sido tema recorrente nos debates em diferentes contextos acadêmicos, empresariais e nas distintas esferas governamentais, além de ter tomado parte dos argumentos que sustentam ações concretas em políticas sociais e de reparação de danos nas esferas públicas e privadas. Aprendemos desde cedo que o Brasil é um país diverso dadas as matrizes étnico-raciais presentes em sua constituição; discute-se menos a certeza de que além de diversos somos misturados em decorrência de sucessivos processos de amálgamas culturais ao logo de séculos, muito bem abordados por Darcy Ribeiro em “O povo brasileiro, a formação e o sentido do Brasil” e em tantas obras de outros estudiosos do nosso país. Mas, o que é diversidade?
Diversidade pressupõe diferença. Uma caraterística ou um estado de ser ou estar diverso. O não semelhante. O não igual. Há aqui uma primeira camada de sentido que pode nos levar a algum tensionamento. Se é sabido que o sentido está na diferença – princípio semiótico, e não na igualdade, tem-se que o diferente se distingue, e no comparativo com os iguais, se destaca, atrai atenção, sobressai. Diversidade está associada a variedade, a multiplicidade, a pluralidade e, nesse aspecto, traz consigo a ampliação de possibilidades, o que, potencialmente, é bom. A diversidade também se relaciona com alteração e mudança – como consequência. E com isso, entramos em nova camada de sentido que pode trazer maior complexidade e conflitos. A diversidade, impacta em mudança, alteração, desestabilização de um “estado” até então homogêneo, liso, portanto, estável. Esta alteração provocada pela diversidade muitas vezes se materializa em situações de oposição de ideias, comportamentos e estéticas discordantes, podendo gerar contextos de divergência e desconforto. A não concordância se funda na tensão, mas abre caminho para a melhoria contínua, uma vez que questiona a homeostasia muitas vezes frágil instaurada por hábitos, crenças ou mesmo dogmas.
O igual acalma, aplana, reafirma o que já existe e, por isso, persiste. A diferença tensiona, traz relevo, perturba, incomoda e é justamente nessa potência disruptiva que está seu valor maior. A diferença faz crescer. A instauração de novas possibilidades, olhares inaugurais sobre fenômenos já existentes ou inovadores ou ainda perspectivas inusitadas sem qualquer semelhança com o que já existe, são o caminho consequente, fecundo e irrefutável para o aperfeiçoamento das ideias, dos comportamentos e de nossos valores.
Diversidade para que?
Para sermos mais produtivos, para sermos mais efetivos e para sermos melhores do somos no abismo infernal do igual, parafrasendo Byung Chul-Han em Sociedade da Transparência (2012, p.10).
Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.