Já conhece os memes?

Por Redação

03/02/2021 15h15

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Artigo

 

Já conhece os memes? Pode “dar um Google” se quiser.  Não sei se você é “raiz ou Nutella” no assunto, mas vamos falar aqui um pouco desses novos replicadores. “Isso a Globo não mostra”, mas pode ficar tranquilo que apresentaremos a você agora. Fizemos uma pequena brincadeira com estas expressões que não apenas são memes na internet, são memes que carregam marcas e seus sentidos no centro da expressão.

 

Os memes na internet surfam a onda das novas tecnologias. Um fenômeno que tem pouco mais de uma década. Smartphones se integraram profundamente às nossas sociedades. Pode parecer que sempre estiveram por aqui, mas na verdade o primeiro lançamento comercial com sistema Android foi anunciado para vendas em setembro de 2008. Uma espécie de marco para uma sociedade cada vez mais conectada.

 

O meme tem sua definição fundadora no livro “O Gene Egoísta” de Richard Dawkins. Apresentado como uma espécie de vírus cerebral, o correlato cultural dos genes, complexos que transmitem ideias de uma mente para outra. Podemos pensá-los como complexos de sentido que se difundem com eficiência. No dia a dia podemos observá-los em formatos variados, mas em grande parte utilizam como meio as mídias digitais. Eles se integram inevitavelmente ao ecossistema publicitário, de modo consciente ou acidental.

 

É curioso ver como acontece. Marcas, produtos ou celebridades podem ser apropriados pelos públicos que criam memes e os difundem como desejarem. Por um lado pode parecer assustador às organizações perder o controle sobre sua comunicação, por outro trata-se de uma oportunidade de criar conteúdos memeráveis que vão fluir pelas redes de maneira vívida e intuitiva nas mentes. Assim, não é possível fugir dos memes na publicidade, o que é possível é gerenciá-los de forma consciente ou deixá-los à sorte das redes.

 

O povo brasileiro é um povo repleto de memes. Observemos com atenção nossas redes sociais, ou busquemos por pesquisas acadêmicas acerca do assunto, a constante é de um Brasil como potência na criação destes novos replicadores. São as variáveis culturais de um povo extrovertido, expressivo, sensual, divertido, de origens múltiplas, como nos contam Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre e Roberto Damatta. Adicionados de uma população numerosa munida de celulares em 93,2% dos domicílios (IBGE 2018) e com acesso facilitado à internet.

 

O meme possui um jeito informal de ser. Independente de grandes suportes institucionais ele atravessa as redes e os dispositivos saltando livremente. É provavelmente nesse contexto que, por vezes, ocorra o seguinte equívoco: a informalidade e o lúdico dos memes pode fazer a publicidade mais tradicional subdimensionar seu valor comunicacional. Veja, os memes são engraçadinhos, eles são zueira, mas é o tipo de mensagem que marca presença forte na vida dos brasileiros, todos os dias. O tipo de brincadeira engraçada que ajuda a decidir quais serão os governantes de um país e as marcas de sucesso. Assim, vivenciamos um momento bastante interessante, podemos observar muitas empresas já incluindo um forte viés memético em suas ações publicitárias. É possível inserir conteúdo em formas reconhecidas de memes, associar valores relevantes a um meme conhecido de alta circulação, utilizar endosso de pessoas caricatas originadoras de memes ou mesmo tornar-se o meme! O tempo é de experimentação, mas parece que os memes vieram para ficar. É melhor que nós comunicadores fiquemos por dentro dessas possibilidades de publicidade memética, pois essa brincadeira é coisa séria.

 

Eduardo Godoy

Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA USP. Formado em Marketing (EACH) e Filosofia pela USP. Pesquisador do GESC3 – Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo.

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.