Pet Fashion: O mercado de moda e os animais de estimação

Por Clotilde Perez

17/08/2022 09h00

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O termo pet friendly é cada dia mais comum e usado nos estabelecimentos comerciais brasileiros. No Rio de Janeiro, por exemplo, animais domésticos já podem frequentar supermercados. Na sociedade contemporânea, muito mais do que animais de estimação, os mesmos se tornaram membros da família, mostrando-se clara a relação intensa com seus tutores, que muitas vezes buscam amenizar a incompletude de relações pessoais através do afeto por um pet.

 

O individualismo é crescente e, nesse sentido, os relacionamentos são efêmeros, o medo de amar e não ser correspondido, de não ser aceito cria um fenômeno de deslizamento dos afetos, que passam a ser transferidos aos animais de estimação, que sempre retribuem o envolvimento emocional, representando uma relação segura e de retorno garantido.

 

A humanização dos animais é reflexo desse deslizamento de afetos. Humanizar significa tornar mais humano, tratar os bichos como se fossem pessoas, fato perceptível no crescimento do mercado pet, bem como no aumento de lares com animais de estimação. A própria legislação brasileira evoluiu no que tange à proteção dos direitos animais, avançando no entendimento de que são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir ou perceber através dos sentidos. A evolução jurídica da tutela animal corrobora a condição atual do processo de humanização animal, incluindo – o como membro do núcleo familiar. Tal condição abre espaço para novas formas de consumo e para um mercado pujante, alcançando, até mesmo, o mercado da moda.

 

Os números revelam que o Brasil ocupa o segundo lugar em faturamento do setor, mesmo enfrentando um cenário de crises, econômica, política e sanitária. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, o número de cães, nos lares brasileiros, superou o de crianças no ano de 2013, sendo “52 milhões de cachorros contra 43 milhões de jovens até 14 anos”.

 

A indústria pet, no Brasil, apresentou um faturamento de R$22,3 bilhões, de acordo com a Abinpet, no ano de 2019, colocando o país em quarto lugar no ranking mundial. O ano de 2020 registrou um crescimento de 13,5%, sendo que o segmento se divide em cuidados médicos, moda e acessórios e alimentação.

 

Os cuidados com a saúde animal ganham cada vez mais recursos, havendo especialidades tais como fisioterapia, endocrinologia e acupuntura, tendo como consequência uma longevidade maior para os bichinhos. A alimentação dos pets já não se resume mais às rações. Tendência no mercado é a chamada Alimentação Natural, AN, com valor calórico, nutrientes e composição formulada por veterinários nutricionistas, que examinam todo o sistema imunológico do animal e oferecem um cardápio adequado e preventivo para sua saúde.

 

O setor hoteleiro percebeu que oferecer hospedagem a animas de estimação fideliza o consumidor e pode ser um diferencial no momento da escolha da hospedagem, disponibilizando experiências tais como camas exclusivas, comedouros e bebedouros com extremidades em ouros, passeios, serviço de quarto, tudo organizado para proporcionar uma hospedagem diferenciada.

 

A percepção de que pets são membros da família e contam com diversas regalias não foi desprezada pelo mercado de luxo que se mostra bastante atento ao crescimento do setor. Grifes como Roberto Cavalli, Gucci, Dolce&Gabbana,  Burberry e Louis Vuitton oferecem roupas e acessórios exclusivos para os animais. Tendência absoluta no mercado da moda, a estratégia tal mãe, tal filho, não escapa ao mercado pet fashion. Nesse sentido, a Ralph Lauren criou uma coleção de roupas que pode ser customizada para cães e tutores, uma estratégia tal pai, tal filho (no caso canino!).

 

O mercado de luxo explora o segmento pet há algum tempo, processo que passou a ser foco, também, do fast fashion. Grifes internacionais, tais como Zara e H&M e as nacionais Pernambucanas e Riachuelo possuem coleções de moda para cães. A marca Riachuelo apresenta, além de roupas, diversas categorias de produtos para os animais de estimação, que incluem itens de decoração de casa, camas, comedouros, brinquedos e coleiras, a denominada linha RCHLO Pet. A espanhola Zara  lançou sua coleção pet no início de 2021 e na loja on line, o sucesso foi tão grande que alguns itens esgotaram rapidamente, na Europa e nos Estados Unidos. A linha nclui capas de chuva, blusas, casacos acolchoados, além de acessórios como escovas, brinquedos, mantas, coleiras, malas de viagem e caminhas para os cachorros.

 

É possível perceber que o setor apresenta uma demanda cada vez maior e que os tutores não medem esforços para oferecerem os melhores cuidados possíveis para seus animais de estimação. A existência humana individualista e o tempo atual de pandemia e isolamento acentuam a procura por novos relacionamentos, novos afetos e experiências que logo são garantidas pelo vínculo afetivo com um bichinho de estimação.

 

Escrevo esse artigo com dois cachorrinhos deitados sobre meus pés. Minha imersão nesse mercado se iniciou há 16 anos, quando ganhei o Peteleco, desde então, percebo a evolução e inserção dos animais de estimação nos centros comerciais, recreação, alimentação e vestuário. Peteleco partiu, mas escrevo essa homenagem para ele, além de ter tatuado sua patinha em minha pele. Uma coisa é certa, amar um bichinho de estimação é a melhor moda de todos os tempos!

 

Carol Boari

Pós Doutora em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/SP). Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Atua como docente em cursos de Comunicação, Marketing e Moda. Pesquisadora do mercado de luxo

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.