Selfie 0.5 e a finitude

Por Clotilde Perez

03/08/2022 09h59

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As tecnologias sempre influenciaram nossas produções, no jeito de estar no mundo, nossas relações. Com o advento das tecnologias digitais e dos artefatos móveis, com ênfase para o celular, estas manifestações se intensificaram e se espraiaram de forma acelerada. Estamos agora vivendo um momento de quse-pós-pandemia e analisar as expressões desse novo zeitgeist tem sido um foco de atenção, reflexão e análise.

 

Um evento que tem se destacadoo principalmente entre os jovens, mas não apenas, é a profusão de fotos realizadas com o celular, principalmente os aparelhos mais recentes, com o acionamento do recurso grande angular da câmera traseira do celular, o que dificulta os enquadramentos e o manejo.

 

A selfie 0.5 é uma selfie, ou seja, a captura pelo próprio indivíduo de sua imagem em contextos diversos, permitindo pela tela-câmera-espelho, prepar, posar, enquadrar e capturar a imagem. Invarialmente imagem esta colocada em circulação nas diferentes redes sociais. Muito popularizadas no início da segunda década do novo século, adotada por celebridades mundo afora e até dicionarizada em 2013 pelo incensado dicionário Orford, selfie tornou-se a “palavra do ano” de 2013. No entanto, a selfie 0.5 é diferente.

 

A associação entre o recurso grande angular (0.5), tradicionalmente destinado à captura de paisagens amplas e o manejo dificultado pela câmera traseira, criam uma condição de imprevisibilidade e distorção que tem encontrado inúmeros adeptos. Ela permite alterações na imagem, distorções de olhos, testa, braços, mãos etc., agora não mais obtidas por meio de recursos de edição disponíveis nos dispositivos, mas como produto do manejo do individuo e da imprevisibilidade do que está sendo captado. Invariavelmente as selfies 0.5 são divertidas e casuais e permitem um jogo mais criativo do indivíduo com o dispositivo provocando experimentações sucessivas.

 

E o que significam as selfies 0.5? Por um lado, a experiência da imprevisibildiade que estimula a criatividade humana e, por outro, uma manifestação da finitude humana, condição intensa e prolongadamente experimentada durante a pandemia. A certeza de que somos imperfeitos, cheios de falhas e finitos. A selfie 0.5 é a expressão dessa condição, não mais apenas “perfeita”, como o ideal “clássico” das selfeis, mas alterados, deformados, torcidos.

 

Clodilde Perez

Professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.

 

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.