Todo poder emana do povo

Por Clotilde Perez

11/01/2023 12h00

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A posse de Lula pela terceira vez, agora como o 39º. Presidente do Brasil, foi extraordinária em vários aspectos. O desfile em carro aberto, no trajeto Catedral Metropolitana de Brasília até o Congresso Nacional, com a primeira dama e com o vice-presidente e sua esposa, reforça a certeza de que a abertura, o diálogo e a transparência guiarão o novo governo. Ele estava ali, mas não estava só o – reconhecimento da vitória de uma imensa frente democrática. A aliança, a conciliação, o entendimento são as marcas estampadas na imagem histórica. Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula desde 2003, maneja câmeras e controles de drones em uma performance espetaculosa sempre em busca do melhor ângulo, do melhor enquadramento, da melhor imagem, e são muitas.

 

 

Em seus contornos formais, a cerimônia seguiu o protocolo, Lula assinou a posse no Congresso Nacional, com discurso que deixou claros seus princípios democráticos, compromisso com o povo e com a lei e seu caráter radicalmente humanista. Lembranças sobre a necessidade de retomada do crescimento do país, com responsabilidade e garantia de uma vida digna para todos os 215 milhões de brasileiros deram o tom da sua primeira fala como Presidente. Parece óbvio, mas diante de tudo que passamos nos últimos anos, é muito, é importante, é urgente.

 

Mas, o auge da emoção e dos mais basilares significados do que guia Lula como homem e estadista, foi a subida da rampa e a entrega da faixa presidencial. Na Brasília de Niemeyer e Lúcio Costa, com seus monumentos não tão grandiosos em seus tamanhos e materialidades, mas nas suas formas e, principalmente, nos significados, subir a rampa é sinônimo de assumir o poder. O presidente Lula subiu a rampa sim, mas não estava só, tampouco apenas com a primeira dama, o vice e sua esposa, Lula subiu a rampa com o cacique kayapó Raoni Metuktire, 90 anos, líder indígena brasileiro reconhecido internacionalmente, com a catadora Aline Sousa de 33 anos, mãe de 7 filhos, com o menino negro Francisco, de 10 anos, morador de Itaquera, com Ivan Baron, nascido no Rio Grande do Norte, que teve meningite aos 3 anos, o que provocou paralisia cerebral, é tiktoker e uma referência na luta por inclusão das pessoas com deficiência, com  Weslley Rodrigues Rocha, de 36 anos, metalúrgico na região do ABC, na Grande São Paulo e DJ de um grupo de rap, com Murilo de Quadros Jesus, 28 anos,  que é professor de português e inglês, com Juciana Fausto dos Santos nascida no Paraná, cozinheira, especialista na produção de pães e com o artesão, natural de Pinhalão, norte do Paraná, Flávio Pereira.

 

A cachorrinha Resistência de 4 anos, que viveu no acampamento-vigília Lula Livre em Curitiba, também subiu a rampa, ora no colo de Janja, ora guiada pelo presidente Lula, demonstração de respeito pelos animais e pelo meio ambiente, além da clareza e da sensibilidade sobre as novas ecologias planetárias onde todas e todos precisam estar em harmonia. Representantes legítimos dos brasileiros subiram a rampa do palácio. E o que isto significa? Que todo o povo brasileiro assumiu o poder. Mulheres, homens, jovens, crianças, idosos, portadores de deficiência, trabalhadores, pretos, pardos, brancos, indígenas, altos, baixos, magros ou obesos, brasileiras e brasileiros, todos nós subimos a rampa. E com isso, nosso compromisso em fazer um Brasil melhor, cada um de nós, no nosso cotidiano de mães/pais/filhos, cidadãos e profissionais, guiados pelo bem comum.

 

 

E no topo da rampa, a faixa presidencial – que felizmente é a mesma que Lula vestiu em 2003 e não a de seu vergonhoso antecessor – indumentária que completa a expressão simbólica daquele que singulariza o poder, passou de mão em mão até chegar em Aline Sousa, a catadora de materiais recicláveis, que teve a honra de vesti-la em Lula. Todo poder emana do povo, como consta da nossa Constituição, agora é eternizado na cena daquele que foi o momento mais poético e significativo da posse do Presidente Lula. Nunca uma posse presidencial será a mesma depois desta de 01 de janeiro de 2023. Se uma vida de lutas, trabalho e conquistas, de discursos e projetos não são suficientes, as imagens desenharam nas mentes e nos corações os princípios libertários, inclusivos e humanistas do nosso, com orgulho, Presidente Lula.

 

 

Clotilde Peres

Professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. 

Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora e consultora
Clotilde Perez é professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.