Enquanto você acreditar que é gerar lucro e entregar resultados, você será rodeado de profissionais medíocres e doentes. Medíocres no processo de evolução pessoal, pois tornam-se escravos dos processos, não inovam, travam as mudanças e destroem os novos talentos. Doentes nos aspectos da vida que estão além dos muros da empresa: saúde, família e qualidade de vida são negligenciados e cobram um alto preço a médio prazo.
Então, qual é o papel da empresa?
Vou começar dizendo qual NÃO é o papel da empresa: o resultado a qualquer preço.
O foco exclusivo no resultado, também conhecido como a cultura da última linha, tem adoecido as pessoas e emburrecido as empresas. Números são mascarados para iludir acionistas; clientes vistos como mero consumidores dos produtos e serviços, tratados com o descaso do famoso crescimento exponencial; colaboradores correndo atrás de metas abusivas e convivendo com o medo diário de perder o emprego; acionistas querendo crescer o dobro investindo metade, sufocando o time para fazer “mais com menos”.
Entendeu o emburrecimento?
É um sintoma do pensamento imediatista e de escassez com uma pitada de covardia. Explico.
Um CEO permanece, em média, três anos em uma empresa. A sua permanência depende dos seus resultados. E quais resultados? Aqueles determinados pelos acionistas. Temos que dobrar o tamanho da companhia em 12 meses. Para que? Não se sabe muito bem, mas desejo é desejo. Tem que ser para hoje ou seremos engolidos pelo mercado. Percebe, o pensamento é de que sempre vai acabar. Isso é comportamento de escassez.
E aí vem a covardia: o CEO não tem coragem de questionar. Entende o abuso da meta, mas não questiona. Qual a solução? Pressionar o lado mais fraco: o time. Ou seja, O CEO, ao receber as metas, transfere a pressão na mesma proporção e, assim, inicia-se o ciclo do desespero.
Mas, a mágica acontece!
O time trabalha 14 horas por dia, se mata, pressiona o mercado, estoca o cliente, promete e não cumpre e… a meta é alcançada. Show! Todo mundo morto, desgastado, frustrado, cheios de pepinos para resolver, mas os acionistas estão felizes com a última linha da planilha! Tudo azul, que lindo!
Não precisa ser um especialista para responder: isso é sustentável?
Claro que não! Mas, aparentemente, é o caminho mais fácil a seguir. Não me entenda mal, em nenhum momento estou negligenciando a importância do resultado e dos lucros para a sustentação do negócio. A questão que coloco aqui é: adoecer as pessoas em prol disso vale a pena?
A minha luta cotidiana é provar para os gestores que podemos trilhar um caminho com mais inteligência e respeito e, ainda assim, alcançar os resultados desejados.
E tudo começa com um ambiente que promova a participação e valorize, além do resultado, o desempenho. Um profissional pode ter desempenhado incrivelmente naquele mês, mas, um fator externo pode ter interferido nos seus resultados. Desmerecer o esforço não vai motivá-lo a desempenhar melhor no mês seguinte. Pressioná-lo e amedrontá-lo influenciará negativamente na sua performance. Valorizar o desempenho significa observar o caminho traçado, avaliar os fatores que geram o resultado e se certificar de que as variáveis que controlamos estão cobertas. Isso é gestão.
Agora, fazer isso dá trabalho e, muitos líderes, preferem passar o dia analisando a sua planilha e cobrando resultados do time. Me desculpe a sinceridade, mas isso um robô pode fazer melhor do que você. Portanto, seja o líder que o seu time precisa e faça o seu papel: impulsione o desempenho das pessoas e valorize o caminho.
Esse é o primeiro passo para uma gestão que constrói ambientes emocionalmente saudáveis!
Alê Prates
Após atuar como executivo em grandes empresas brasileiras, Alê Prates fundou, em 2008, a E3 – Escola de Educação Executiva, com sede em São Paulo, onde já desenvolveu pessoalmente mais de 5.000 líderes de grandes corporações. São 15 anos de atuação no mercado de educação executiva, somando mais de 900 apresentações e 270 empresas atendidas em todo o território nacional, impactando mais de 1.000.000 pessoas.