Nova lei de influenciadores na China: criadores agora precisam provar que são especialistas

Por Redação

07/11/2025 10h14

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

A nova lei chinesa exige que qualquer pessoa que fale sobre temas como medicina, direito, finanças ou educação comprove qualificação profissional. Na prática, o influenciador que quiser opinar sobre um assunto técnico agora precisa de diploma. De acordo com o governo chinês, o objetivo é combater a desinformação e proteger o público de conselhos falsos ou prejudiciais. (Lindo discurso, mas será mesmo?)

Emitida pela Administração do Ciberespaço da China (CAC), em parceria com órgãos como a Administração Estatal de Rádio e Televisão (SART), a regulamentação determina que os influenciadores devem apresentar comprovação de experiência técnica, como diploma, licença profissional ou certificado.

As plataformas como Douyin (versão chinesa do TikTok), Bilibili (uma espécie de YouTube chinês) e Weibo (uma mistura de Twitter com Facebook) passam a ter o dever de verificar credenciais, exigir citações de fontes e incluir avisos de transparência em conteúdos sobre temas regulamentados. Inclusive, vídeos que utilizam inteligência artificial também precisam informar claramente quando há material gerado por IA. A medida revive um debate global sobre liberdade de expressão e controle de discurso.

O CAC foi além: proibiu anúncios disfarçados de produtos médicos, suplementos e alimentos saudáveis, para conter campanhas camufladas de “vídeos educativos”.  (Lembrei dos conteúdos produzidos por Drauzio Varella, que levantam esse alerta com autoridade e relevância).

Na teoria, o objetivo parece nobre. Afinal, a Creator Economy já é um mercado na fase de maturidade e precisa sim de regulação, porque não é raro ver criadores de conteúdo darem conselhos sobre investimentos, tratamentos ou diagnósticos sem formação técnica e serem ouvidos como especialistas. (É o velho dilema do digital: quanto mais liberdade temos, mais responsabilidade precisamos ter.)

Mas a pergunta que fica é: Quem decide o que é qualificação suficiente para falar de um tema?

A medida também revive um debate global sobre liberdade de expressão e controle de discurso. Em termos de narrativa e influência, o movimento não é isolado, ele faz parte de uma lógica mais ampla de controle do discurso, em que o conteúdo digital passa a ser visto como uma extensão da política pública. Não apenas como expressão individual. (Lembrando que estamos falando da China, o lugar que está com o bastão de ditar tendências no mundo).

Quando opinião vira profissão

A cultura dos criadores transformou a forma como consumimos informação. Os influenciadores se tornaram mediadores entre especialistas e o público, traduzindo temas complexos em uma linguagem simples, emocional e acessível. É justamente aí que mora o ponto de tensão. O que começou como troca de experiências pessoais passou a ocupar o lugar de autoridade em temas técnicos.

(Quem lembra da Gabriela Pugliesi sendo denunciada pelos treinos que compartilhava nos stories sem diploma de Educação Física? O ano era 2017, e o Conselho de Educação Física acusou a criadora de atuar sem formação na área.)

Quando a linha entre “opinião” e “orientação profissional” se apaga, os impactos podem ser sérios, tanto para quem cria quanto para quem consome. Se na China o diploma virou lei, no resto do mundo, por enquanto, ele está virando diferencial competitivo. Marcas, plataformas e comunidades estão buscando criadores que não apenas geram engajamento, mas educam, informam e inspiram com responsabilidade.

Essa lei chinesa, embora extrema, sinaliza algo que o mercado global já sente: A influência está migrando da era do carisma para a era da credibilidade. Credibilidade, compliance e contexto regulatório começam a pesar tanto quanto carisma e engajamento. Isso muda a cena para criadores, marcas e plataformas.

A ideia aqui não é apontar respostas absolutas, mas levantar o debate sobre a regulamentação do mercado de influência. Estamos vivendo um momento em que criadores, marcas e plataformas começam a lidar com dilemas que antes pertenciam apenas ao campo do jornalismo, da política ou da ciência: Quem fala, sobre o quê, e com qual responsabilidade?

A nova lei chinesa é só um exemplo extremo de algo que já está em curso: a profissionalização da influência. Durante muito tempo, tratamos as redes sociais como uma “terra sem lei”, um espaço de expressão livre, espontânea, e (supostamente) sem consequências.

Afinal, quem regula quem fala? As plataformas, o Estado ou a própria comunidade?

Marina Rolim
Fundadora e Diretora Criativa Cena7
Marina Rolim é publicitária, especialista em marketing digital pela ESPM, criadora de conteúdo e professora de mídias digitais da pós graduação da Universidade de Fortaleza. Com quase 10 anos de experiência, vivenciou de perto a evolução do mercado de vídeos curtos, liderando o conteúdo de campanhas para marcas como Beach Park, RioMar Fortaleza e Iquine Tintas. Como fundadora e diretoria criativa da agência de conteúdo Cena7, Marina se destaca por criar narrativas impactantes e estratégicas para redes sociais, ajudando empresas regionais e nacionais a alcançarem seus objetivos por meio de vídeos criativos.