The Godrej Group é um conglomerado privado com atuação multinacional com base em Mumbai na Índia. Fundado por Ardeshir e Pirojsha Godrej em 1897. O grupo opera através de suas subsidiárias em vários setores da indústria como por exemplo: agricultura, bens de consumo, construção, real estate, eletrodomésticos, produtos químicos, móveis, eletrônicos, infraestrutura, energia, componentes para aerodinâmica espacial, soluções em segurança, tecnologia e logística. Atendem mais de 1 bilhão de consumidores ao redor do mundo e inclusive já adquiriram empresas no Brasil.
Com uma receita de mais de 5 bilhões de dólares, é uma empresa posicionada pelas suas convicções e inquietudes, valores e “core value” – e não pelo aprisionamento de seu “core business”. Eles dizem que estão “crescendo rapidamente e que tem aspirações empolgantes e ambiciosas”. De fato as ambições desse grupo está associada ao propósito da marca, que por sua vez entende que para viver o propósito no mundo é preciso pensar porque seus consumidores contratariam seus produtos e serviços.
Semana passada tive o privilégio de ter uma aula na Universidade de Harvard com o Sr. Hari Nair, (desenvolvedor de novos produtos e mercado do Godrej Group). Como escrevi em Março aqui na coluna MOVE sobre os três tipos de inovação, trago nesse mês uma reflexão muito interessante através desse estudo de caso que tem como objetivo fazê-los entender melhor o conceito da inovação denominada “new-market disruption” atrelada a teoria JTBD (Jobs to be done), que tanto se fala , mas pouco se vê na prática ( e que prometo que será explicada devidamente com exemplos no meu próximo artigo).
O grupo Godrej é um exemplo fantástico de uma empresa que se reinventa continuamente ao entrar em muitos setores diferentes. No entanto, quando Godrej atingiu seu 100º aniversário, seus líderes começaram a sentir a necessidade de se reinventar novamente.
Porém, antes de sairem desenvolvendo produtos, enxergaram o mercado, suas carências e sobretudo fizeram a seguinte pergunta: como o propósito de marca , pode servir as pessoas criando soluções que gerem impacto real na vida delas, e ao mesmo tempo transforme o dia a dia de cada indíviduo ? Que modelo de negócios adotaremos ? Porque inovar ? Como segmentar nossa oferta ? Como desenvolver um produto de valor acessível e que ao mesmo tempo gere escala e margens de lucro para a empresa ? Os funcionários do grupo Godrej saíram às ruas para encontrar respostas. E descobriram que o processo de inovação da empresa começaria com as reais necessidades da população. Desse modo, o divisão da empresa de eletrodomésticos iniciou um processo de “new-market Disruption”criando um novo mercado a partir de um produto que não existia pensado 100% nas pessoas e em suas necessidades.
Só para constar: A Índia é um extenso país do Sul da Ásia com geografia diversificada, incluindo desde os picos do Himalaia até a costa do Oceano Índico, (e uma história que remonta a cinco milênios). Segundo Censo de 2021 o país tem 1.408 bilhão de habitantes com renda Per Capita de 2,301.418 USD (2022). Sob o olhar das lentes da inovação, a Grupo Godrej decidiu que não seria viável produzir uma geladeira comum, uma vez que a maioria da população da índia é extremamente pobre, não tendo condições de armazenar grandes quantidades de alimentos e nem mesmo os pequenos comerciantes conseguem manter estoques em seus comércios locais.
Além disso, o país sofre com queda de energia, o que pode gerar defeitos parciais ou totais nos eletrodomésticos. Visitando vilas e cidades remotas da Índia o grupo entendeu que seria necessário produzir algo que pudesse trabalhar para seus consumidores e de fato servi-los, e assim nasceu o Chotukool – um produto que ajudou as pessoas a armazenarem seus alimentos de maneira segura com preços acessíveis e design colorido. Sob a ótica da disrupção, criaram um novo mercado, difícil da concorrência atuar e a empresa impactou de maneira significativa 80% de consumidores da Índia que tiveram a partir da compra do produto seu primeiro recipiente refrigerado.
Conheça o Chotukool: Chotukool é um recipiente de plástico de 45 litros que pode resfriar alimentos a cerca de 8 a 10 graus com uma bateria de 12 volts. Abandonando a tecnologia de compressor utilizada em geladeiras domésticas, ( o que torna o produto inviável para o consumdior de baixa renda na Índia). Ele utiliza um sistema de resfriamento termoelétrico ou de estado sólido. Não tem uma porta de abertura frontal, mas abre a partir do topo para garantir que a quantidade máxima de ar fresco permaneça no recipiente quando aberto.
Inovação não é sobre tecnologia. É sobre pessoas. Marcas transformam cenários e comportamentos. Pensem nisso. Continuamos no próximo mês…
Cuide-se! Abraço!
Simone Moura
Simone Moura é formada em comunicação social, especialista em branding, comportamento de consumo e neuromarketing, é mestre em Comunicação e Novas tecnologias e doutoranda na mesma área. Com 28 anos de atuação profissional já contribuiu para vários players de diversos segmentos como indústria, varejo e publicidade e propaganda. Vasta experiência em planejamento estratégico de comunicação com foco em propósito, reposicionamento de mercado e gestão de branding. É embaixatriz da Ikigai Brasil e CEO da Ping Pong Estratégia.
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