Inovação é palavra da moda. A palavra que toda empresa onde piso, diz buscar. A palavra queridinha e da vez do mercado moderno. Do marketing, dos gestores de RH e dos CEO´s de diferentes segmentos e tamanho de organização.
Porém, estamos bem cansados é fato. Cansados desse “trator gigante” que passa em cima de nossas costas todos os dias e parece que está grudado em nós. E por mais que façamos força para eliminá-lo de nossas organizações, ele insiste em ficar nos assustando e permanece juntinho de nós. Esse” trator” que se chama rotina operacional, achata nossa determinação, seca as nossas forças e nos deixa abatidos e desmotivados. Mas estamos acostumados com esse “normal”, pois o que conhecemos, nos dá uma sensação de “segurança e autoridade” e a gente vai tocando o barco.
As nossas empresas estão assim. Longas e longas horas operacionais em busca de um resultado financeiro perfeito, um marketing “agressivo”, um time motivado e aquela reunião que todo mundo é convidado para pensar na famosa inovação. Temos que inovar o jeito de fazer, temos que pensar em algo novo, temos que criar novas oportunidades e bla,blá, blá…
Mas o que é inovação? Segundo o Professor Clayton M Christessen professor da Harvard Business School e um dos teóricos mais influentes do mundo dos negócios, “inovação é uma mudança no processo pelo qual uma organização transforma trabalho, capital, matéria-prima ou informação em produtos e serviços de valor maior”. (O dilema da inovação, 1997).
Sabemos e concordamos (acredito eu), que inovar nossos negócios é uma necessidade até para permanecer no jogo. Sabemos que a concorrência pode ser algo ou alguém que nem mesmo conhecemos ou ouvimos falar. Vivemos as mudanças mais radicais e supersônicas dos últimos tempos. E elas tem muitos nomes: inteligência artificial, plataformas, ferramentas digitais, Startups etc. Mas a grande pergunta que devemos fazer é: O que inovação para você? Qual é o sentido de inovar dentro de sua empresa ? Qual é o sentido de sua aplicação no contexto da sociedade e do mercado em geral?
Ouvi de uma colega de MBA outro dia, algo que me fez paralisar e ao mesmo tempo me deixou incrivelmente feliz: Estou fazendo um curso na universidade de Harvard nos Estados Unidos com foco em estratégias disruptivas e novos modelos de negócios, e estávamos realizando algumas atividades em grupo quando eu perguntei para uma executiva da NIKE que chefia a divisão Americana e Canadense da empresa, o que era inovação para a Nike, e com muita propriedade, ela disparou:
“Bem Simone, para nós da Nike inovação não está na robustez tecnológica e moderna que usamos. (isso é o “core” da marca). Seguimos nossa missão e propósito todos os dias, buscando o alinhamento destes com os nossos objetivos de negócios. Inovação é fazer a vida das pessoas ficar melhor. Se você tem um corpo, então você é um atleta. E dessa forma, a Nike estuda e observa as pessoas para levar a melhor solução possível para cada uma delas”.
Então, qual é a solução que a sua inovação está levando para a vida de quem escolhe comprar um produto de sua empresa?
Quando falamos em inovação é preciso entender que não é sobre tecnologia. Não é sobre fazer melhor do que o seu concorrente. É sobre fazer melhor para as pessoas e seja lá o que sua empresa fizer, deve ter 100% de alinhamento com a sua declaração de missão e de propósito de marca. Perdoe-me a sinceridade: mas estou de farta de ouvir “consultores” dizer que os empresários gostam de ganhar dinheiro e propósito não dá dinheiro. Engano. Propósito lhe tira das costas o “trator gigante” que mencionei acima. Ele lhe impulsiona, lhe conecta e lhe identifica junto as pessoas. E por fim, mas não por último, faz seu negócio ser mais próspero.
Nesse mundo competitivo também é necessário entender que tipo de inovação você está buscando para sua marca. Para Clayton M Christensen, o criador do conceito “Inovação disruptiva” existem três tipos:
– A “inovação criadora de mercado” ( new- Market Disruptions) que provoca algum aumento de eficiência [mas não o bastante para provocar ou sustentar crescimento];
– A “inovação de sustentação”. (Sustaining Innovations) Ela melhora produtos que já eram bons, mas não geram crescimento novo;
– A “inovação de eficiência”, (Low-End Disruptions) faz mais com menos [e o capital economizado nem sempre é investido em pesquisa e desenvolvimento].
É preciso entender com clareza cada conceito desse e ser capaz de nos fazer enxergar como que cada um impacta distintamente consumidores, o mercado, a sociedade e a nossa economia. Se sua empresa busca por mudança, entenda: Mudar é um processo doloroso que requer disciplina, determinação, coragem, engajamento, planejamento, reposicionamento e muito estudo e pesquisa (principalmente sobre pessoas e não sobre tecnologia).
Se mesmo assim, você levantou à mão e está a fim de pular de cabeça nesse processo, certamente vai encontrar caminhos para a inovação de sua organização. Porém, fique atento sobre a necessidade de entender qual inovação você está buscando, qual é o grande objetivo por trás disso tudo. Qual será o seu impacto na vida das pessoas? E saiba que ela só será percebida pelo mercado (e por quem trabalha com você), se tiver alinhada com a sua declaração de missão organizacional, valores e propósito de marca. Se não for assim, não comece.
Mas não se esqueça do “trator gigante” que tem nos perseguindo e que está nos deixando cansados e abatidos todos os dias. A tal rotina organizacional – a procrastinação das decisões mais importantes e os investimentos sem sentido que tanto adoramos fazer.
E para fechar esse artigo antes que eu me esqueça: Esse papo de inovação não é exclusividade de organizações do tamanho da Nike. Ela é possível para qualquer tamanho de negócio. Eu também estou cansada de ouvir os “consultores” que enfatizam que determinados modelos, ideias e metodologias não se aplicam a mercados locais.
Não somos mais locais, somos plurais! E mesmo que sua empresa não possa adotar ou implementar tudo, peneire as melhores oportunidades. Nunca estivemos na posição competitiva que estamos agora. As marcas não conseguirão ocupar todos os lugares. Teremos que escolher caminhos e a sua escolha sobre o que vai fazer e o que não irá fazer determinar a sua relevância no mundo.
Cuidem-se e até breve.
Abraço!
Simone Moura
Simone Moura é formada em comunicação social, especialista em branding, comportamento de consumo e neuromarketing, é mestre em Comunicação e Novas tecnologias e doutoranda na mesma área. Com 28 anos de atuação profissional já contribuiu para vários players de diversos segmentos como indústria, varejo e publicidade e propaganda. Vasta experiência em planejamento estratégico de comunicação com foco em propósito, reposicionamento de mercado e gestão de branding. É embaixatriz da Ikigai Brasil e CEO da Ping Pong Estratégia.
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