Wake up dead man

Por Redação

02/12/2022 10h00

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Esse artigo foi inspirado na parte II/capítulo 25 do livro SURRENDER 40 músicas, uma história, de autoria do músico, compositor e vocalista da banda U2, Bono Vox.  Uma leitura surpreende e repleta de ensinamentos sobre liderança (ou a falta dela), posicionamento, criatividade, verdade, essência e propósito de marca.

 

Em 1997, a banda Irlandesa  lança um “disco” (acho que alguns entenderão o que significa “um disco”) denominado POP ART (uma homenagem do grupo (principalmente do Bono) ao artista ícone pop, cineasta  e pintor americano Andy Warhol (1928/1987).

 

Na época a banda contratou o aclamado produtor musical Mark Ellis “Flood” e o artista e escultor Jeffrey “Jeff” koons para “desenhar” a conturbada turnê mundial (para se ter uma ideia em maio de 2019 uma das esculturas desse artista denominada “Rabbit” foi vendida por U$91 milhões na casa de leilões Christie´s).  Tanto Flood quanto Jeff,  sugeriram uma mudança radical no som, nos arranjos, na personalidade da banda e nos shows “ao vivo” do quarteto Irlandês. Afinal, o século XX estava chegando ao fim e o U2 procurava se adaptar a era do digital. O mundo começava seu movimento de transformação e eles tinham que ser mais “pop” para alcançar as novas gerações. Eles buscavam a experimentação, novos rumos, novos caminhos, sons eletrônicos obtidos via máquinas, “samples e loops” digitalizados. Liderados e incentivados pelo vocalista Bono, a ideia era ser mais contemporâneos, atuais e fazer uma música instantânea (sabe aquela coisa “meio chiclete” – ouviu, cantou)? Afinal, os anos 2.000 se aproximava  e ficar para trás, poderia ser ameaçador.

 

Acontece que quando temos essência, produzimos para a eternidade.  E nem todo mundo tem talento para ser “instantâneo”. Ninguém trabalha feliz se não existe identidade. E sem identidade, não existe comprometimento.

 

Embora o álbum POP ART tenha sido lançado em março de 1997, (com músicas por finalizar inclusive, pois a banda não se entendia em estúdio e nem tão pouco fora dele), alcançou o número 1 nas paradas de sucesso em 27 países, mas as rádios não tocaram as músicas e a turnê exótica ao extremo, (iniciada em Las Vegas, Estados Unidos), teve vários contratempos (incluindo a péssima performance  da banda que não conseguiu executar direito as nove faixas do disco na estreia da turnê). “Pense numa humilhação. E isso era apenas o começo” (Bono Vox, página 360).

 

O fato é que o U2 estava se sentindo perdido, frustrado, pressionado pela necessidade de mudança. Tentaram criar “coisas interessantes”, para seguir a nova ordem do mundo, mas segundo eles próprios, “nada grandioso ou relevante”.  E isso levou o grupo a grandes conflitos internos.  Perderam dinheiro, ímpeto e o rumo. E chegaram a tocar em estádios com metade da lotação. (o que para uma banda como o U2 isso era impensável). A magia, a energia e a verdade da banda tinham se apagado.

 

Sobre isso, o guitarrista da banda, The Edge comenta: “O que é único no U2 é a experiência analógica feita à mão. Se nos distanciarmos muito disso, não aproveitaremos nossos pontos fortes”. (pg 353).

 

A mudança foi um processo doloroso, porque quiseram ser o que não eram. Tentaram ser disruptivos e inovadores, mas esqueceram  de respeitar o DNA original de cada um como indivíduo e como grupo.

 

“Olhe para nós criando nossos filhos em nossas casas chiques chegando aos 40 anos  feito sonâmbulos. Nos preparando para a vida vista a partir do espelho retrovisor. Cansados e aposentados, mas ainda não prontos para a aposentadoria. O que vai acontecer quando descobrirmos que desperdiçamos nossa chance de realmente ser ótimos em vez de fingir que somos” cometa Bono Vox (páginas 356/357).

 

O grupo então decidiu acordar. ( e tiveram a sorte do universo conspirar a favor). Precisavam voltar à razão pela qual existiam. Estava na hora de reconhecer que ninguém é “invencível, indestrutível” e que marcas relevantes (como o U2) não podem sair por aí fazendo qualquer coisa (ainda que tenham muito dinheiro para gastar, que possam contratar os melhores profissionais e consultores do planeta. Ainda que consigam desenvolver um trabalho de qualidade, porque existe talento –  não dá simplesmente para abandonar a identidade de marca, a essência e propósito maior do trabalho).

 

Além disso, quando estamos trabalhando em grupo, o líder não pode impor. (isso não é liderança, é chefia sem compasso e autoridade burra).  Muito de todo transtorno causado nessa época da história da banda, foi fruto da teimosia do vocalista, que por diversas competiu consigo mesmo e o restante do grupo  para provar que podia ser diferente e fazer a “música do futuro”. Quando o que deveriam ter feito era simplesmente continuar a jornada sendo incríveis. Evoluindo com os pés no chão.

 

Segundo Bono, aquele último álbum que fariam no antigo milênio, “tornou-se o nascimento de um tipo de humildade que nem sempre combina com arte, mas que pode ser necessária para nós como pessoas. “Estávamos descobrindo que o limite da elasticidade da banda U2 é o limite da elasticidade de quatro amigos cuja amizade se vê ameaçada  quando alguém não se sente valorizado no processo criativo”. (página 361/362).

 

Desejo que você líder de qualquer empresa (seja lá do tamanho que for), persiga seu propósito, não esqueça de viver a sua verdadeira essência e esteja pronto para ouvir opiniões diferentes. Tenho visto muita gente ótima se perder no meio do caminho por teimosia e arrogância.  Mire o futuro, e abrace as mudanças, mas tenha cuidado com as tentações. A humildade e a inteligência podem fazer você chegar mais longe. Mantenha-se alerta e acordado. A inovação dentro de uma empresa é necessária, mas não seja  ridículo. Não se perca. Estude o comportamento do consumo e a evolução das pessoas, mas antes disso, tenha clareza sobre o que você é e o que você pode fazer.  Feliz Natal.  E que 2023 seja incrível e  criativo. Leiam o livro se puder!

 

Abraços, até breve.  Simone Moura

 

Simone Moura 

Simone Moura é formada em comunicação social, especialista em branding, comportamento de consumo e neuromarketing, é mestre em Comunicação e Novas tecnologias e doutoranda na mesma área. Com 28 anos de atuação profissional já contribuiu para vários players de diversos segmentos como indústria, varejo e publicidade e propaganda. Vasta experiência em planejamento estratégico de comunicação com foco em propósito, reposicionamento de mercado e gestão de branding. É embaixatriz da Ikigai Brasil e CEO da Ping Pong Estratégia.

simone@pingpongestrategia.com.br  | @pingpongestrategia 

 

Simone Moura
Consultora e CEO da Ping Pong
Simone Moura é formada em comunicação social, especialista em branding, MBA´s nas áreas de marketing, comportamento de consumo e neuro marketing, e cursos de especialização na Universidade de Harvard em disrupção e teorias Jobs to be done. Mestre em Comunicação e novas tecnologias pela Universidade do Minho, Portugal. Possui 30 anos de atuação profissional e já contribuiu para vários players de diversos segmentos como indústria, varejo, serviços e publicidade e propaganda. Simone tem vasta experiência em planejamento estratégico de comunicação com foco em propósito, posicionamento de mercado e gestão de branding. É embaixatriz da Ikigai Brasi. Fundou a Ping Pong Estratégia em 2010 e atua em todo o Brasil.