A survey de AtlasIntel

Por Redação

12/05/2025 13h53

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Remeto a experiência de uso do Diário da Experiência nos oito estádios do Planejamento em UX — Cenários, Objetivos, Alcance, Consciência, Tática, Execução, Aprendizagem e Interiorização. Trato de reconhecer o desenho metodológico da última pesquisa da AtlasIntel que fui impactado pelo feed do Instagram neste final de semana último.

O desenho metodológico proposto distribui‐se em sete seções, cada qual associada a um formato de pergunta e a um objetivo específico, e é acompanhado, em todas as fases de aplicação, por um roteiro de observação ancorado nas perguntas-chaves que reclamei na croniqueta Diário de Experiência.

Quais quadros (frames) estruturam a experiência? Na primeira seção, referindo-se à aprovação institucional do presidente, governador e presidente da câmara, é utilizado um modelo de escolha múltipla (“aprovo”, “desaprovo”, “não sei”) para medir a adesão simbólica à gestão pública. Nesta altura, a observação procura identificar os quadros de referência que orientam tais decisões, as âncoras que reforçam ou enfraquecem estas representações e possíveis dissonâncias entre a identidade partidária declarada e as hesitações percebidas no discurso. Além disso, são analisadas variações de tom (euforia, resignação, prudência) e quaisquer mudanças abruptas na entonação, principalmente quando o nível de governo em foco muda. Exprimo uma segunda questão: Há rupturas ou ambiguidades perceptíveis nos quadros?

Segui, assim, para a seção de avaliação em escala (excelente, regular, ruim), destinada a medir percepções concretas da gestão pública, muda o foco analítico para o ritmo das respostas. Respostas rápidas sugerem julgamentos cristalizados, enquanto pausas prolongadas indicam ambivalência ou a necessidade de consultar referências adicionais. Nesta fase, observa-se também a multiplicidade de papéis sociais assumidos pelos inquiridos — contribuinte, beneficiário, crítico —, bem como as laminações, entendidas como camadas sobrepostas de interpretação que coexistem na mesma resposta.

O ritmo influencia a percepção de sucesso? Ao abordar questões prioritárias, por meio da seleção de até três opções, a análise se concentra na identificação de ciclos rítmicos recorrentes e nas táticas de programas de governo a serem avaliados em formato de lista. Examinei se a rapidez das respostas reflete uma percepção de urgência ou se, ao contrário, a hesitação revela conflitos internos quanto à ordem em que as necessidades são expressas.

Na parte sobre os programas mais lembrados, também limitada a três alternativas, são investigadas estratégias de preparação: alguns participantes recorrem a memórias de campanhas institucionais recentes, enquanto outros estabelecem associações livres com benefícios indiretos. Como os usuários interpretam a sobreposição de camadas? A atenção também se concentra em possíveis quebras, em situações em que o mesmo programa é simultaneamente percebido como uma promessa e como uma conquista.

A subseção sobre a situação econômica atual (boa, normal, má) oferece uma oportunidade para verificar se os inquiridos ocultam a sua condição material como forma de proteger a sua imagem social ou se, pelo contrário, expõem diretamente as suas dificuldades. Que estratégias alternativas emergem espontaneamente? Também regista como o tom adotado influencia a classificação dos objetivos imediatos, como a priorização das políticas de rendimento em detrimento dos serviços públicos.

Na pergunta sobre as expectativas para os próximos seis meses (melhorar, piorar, permanecer igual), há uma possível divergência entre o ritmo projetado pelo governo avaliado. O ritmo vivido diverge do ritmo projetado? Memórias de crises passadas, intercaladas com esperanças recentes, podem causar mudanças no fluxo do discurso e variações na codificação. Neste contexto, há construções discursivas que sustentam um otimismo forçado ou, inversamente, reafirmam visões pessimistas já internalizadas.

Por fim, finalizei meu Diário de Experiência, esmiuçando a seção sobre a avaliação do desempenho por eixo temático — combate à fome, criação de emprego, educação básica, combate à seca, segurança alimentar — utiliza uma escala de 1 a 5. Questiono, por fim: Existem “fabricações” ou disfarces nas ações? Há sinais de automatização na experiência? Isso pode ser visto na dada atenção à ativação de ciclos contínuos de feedback: quando um tema específico é amplamente publicizado, as respostas tendem a tornar-se automatizadas; inversamente, a ausência de consistentes leva a avaliações mais instáveis. 

A combinação em tempo real de respostas fechadas com as categorias do Diário de Experiências — enquadramentos, tons, ritmos, papéis, táticas, execuções, aprendizagens e internalizações — confere ao protocolo de pesquisa uma dupla função: por um lado, permite a coleta de dados estatísticos comparáveis; por outro, revela o tecido fenomenológico subjacente às manifestações da opinião pública no contexto do Governo analisado.

Explico que cada bloco do questionário — uma vez codificado — se presta a tabulações estatísticas cruzadas que revelam padrões latentes de opinião e experiência. As escalas Likert, por exemplo, podem ser contrastadas com variáveis ordinais de condição econômica usando testes de tendência (Jonckheere-Terpstra) ou ANOVA não paramétrica, permitindo-nos verificar se a avaliação do governo flutua de acordo com as variações no mercado de trabalho.

Finalizo, recorrendo ao texto generativo para instrumentalizar desenhos utilizados em experiências futuras.

SeçãoFormatoEstatística Sugerida
1. Aprovação Institucional (Presidente, Governador, Prefeito)Múltipla escolha (Aprovo / Desaprovo / Não sei)Teste de médias / ANOVA; Qui-quadrado; Análise de correspondência; Tabela de contingência; Kruskal-Wallis
2. Avaliação por Escala (Ótimo > Péssimo)Escala Likert de 3 pontosANOVA; Kruskal-Wallis; Jonckheere-Terpstra; Spearman; Kendall Tau-b
3. Problemas PrioritáriosMúltipla escolha (até 3 opções)Qui-quadrado; Análise de correspondência; Tabela de contingência; Kruskal-Wallis
4. Programas mais LembradosMúltipla escolha (até 3 opções)Qui-quadrado; Análise de correspondência; Kruskal-Wallis
5. Situação Econômica AtualCategórica ordinal (Boa, Normal, Ruim)Spearman; Kendall Tau-b; Jonckheere-Terpstra
6. Expectativa para os Próximos 6 MesesCategórica ordinal (Melhorar / Piorar / Ficar igual)Spearman; Kendall Tau-b; Jonckheere-Terpstra
7. Avaliação da Atuação por Eixo (Fome, Emprego, Educação, Seca, Segurança Alimentar)Escala de 1 a 5 (Likert)Spearman; Kruskal-Wallis; Regressão linear; Kendall Tau-b; Jonckheere-Terpstra

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernst & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.