Alcance: símbolos nupciais de John

Por Redação

05/08/2024 15h49

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Meu matemático, pesquisador e confrade se casou; reconheço o valor de seu ofício conciliado. Exprimo os entregáveis necessários a um planejamento e o valor dos dados; cerne da amizade referida.

Os dados utilizados para aferir o alcance em um UX Planning Strategy são números ou métricas simbólicas. Funcionam como alegorias que transcendem a realidade cotidiana e se relacionam com outras áreas de significado. Tal eviterno John, precisou casar-se para apresentar-se como um esquema racional para sua sociedade. Explico.

Se o número não for concebido para simbolizar, divorcia-se do produto. Dizer que os dados representam a realidade é atestar que um determinado alcance foi empreendido por uma esfera de domínio. Esse alcance traduz os insumos da pesquisa qualitativa e quantitativa, ofício do User Researcher.

Já figurei em Nosso UX, Symbol, Reality, and Society (1955, compilado em Collected Papers I de 1967); hoje amplio. Alfred Schütz investiga a enredada relação entre os símbolos e a nossa compreensão do mundo. Schütz defende que os símbolos servem de vínculos entre as experiências diretas do indivíduo e as construções sociais e culturais mais amplas que moldam a entendida realidade.

Defende que a comunicação se assenta num esquema interpretativo partilhado e alcançável, em que tanto o comunicador como o destinatário aplicam o mesmo esquema de apresentação aos símbolos envolvidos. Sobre este framework, dedico atenção ao terceiro estádio de um planejamento estratégico de pesquisa em UX: o Alcance. Os símbolos nupciais: ring e história, juntos!

Os esquemas interpretativos são ferramentas cognitivas que nos permitem organizar e dar sentido às informações que recebemos do mundo ao nosso redor. No contexto do UX Planning Strategy, esses esquemas desenham-se por modalidades de como a pessoas pesquisadora de produtos digitais interpretam dados dos utilizadores-atores.

Tal maneira reflete a dessemelhança das experiências dos atores-usuários com o produto e os alcances a serem interpretados a partir do esquema interpretativo. Materialmente, big numbers ou storytelling, outrossim as user stories; atestam tal alcance. Retrata o casamento do vivido simbólico de um número que figura valor. Experiências do desenhista e do desenhado. Do casado e do casório.

Schütz largueia o conceito de realidade para além do mundo físico, de modo a incluir o ambiente sociocultural em que vivemos. Este ambiente, sugere, é rico em referências de apresentação que tomamos como garantidas – estas são as ferramentas que nos permitem trafegar nas complexidades da vida cotidiana. Chegar em casa e jantar precede gastos. Aferir percentualmente ações de atores-usuários antecede descrever como foi sua janta.

Estas referências incluem tudo, desde os objetos físicos com que interagimos até às normas culturais e sociais que ditam o nosso comportamento. Explora a ideia de que a nossa realidade cotidiana é apenas uma de muitas “províncias finitas de significado”, um termo emprestado de William James.

Schütz explica que experiências como as teorias científicas, a arte, a religião, a política, os sonhos e as fantasias pertencem a diferentes domínios de significado, cada um com o seu próprio conjunto de símbolos que nos ajudam a dar sentido a fenômenos que transcendem a nossa percepção imediata. Amplio esta aos alcances, insumos qualiquanti da pessoa pesquisadora de experiência de um produto digital.

Defendo que estes dados são símbolos que moldam a nossa compreensão do mundo e do nosso lugar nele: o do papel representacional da pesquisa na UX. Schütz mostra que os símbolos não são apenas ferramentas de comunicação, mas são também fundamentais para a própria estrutura da sociedade.

Permitem-nos interpretar e envolvermo-nos com aspectos da vida que estão para além da nossa experiência direta, proporcionando um sentido de ordem e significado à experiência humana. Incluindo aí as ideias sobre a natureza simbólica da existência humana e do mundo social continuam a ser influentes, sublinhando a profunda ligação entre a cognição individual e a paisagem cultural coletiva.

Dados enquanto alcance, assim, são símbolos que:

  • Pressupõe que os outros interpretarão os dados-símbolos da mesma forma que o pesquisador que o comunica.
  • Retrata a realidade do cotidiano que inclui não apenas o mundo físico, mas também o mundo sociocultural, que é construído através de funções apresentacionais.
  • Dizem sobre as referências apresentacionais tomadas como certas e são base para as atividades práticas dentro do pensamento do senso comum.

O que digo é:

Os dados utilizados para mensurar o alcance do UX Planning Strategy não são meramente números ou métricas frígidas; eles são símbolos que transcendem a realidade cotidiana. Remetem a outras províncias finitas de significado, como a ciência, a arte, a religião e a política, onde cada uma delas utiliza símbolos para interpretar e representar fenômenos que vão além da percepção imediata.

Assim como na ciência, onde símbolos matemáticos (viva o John!) e modelos teóricos abarcam fractais que não são diretamente observáveis, os dados de alcance em um planejamento se tornam símbolos que permitem aos atores e às empresas entenderem e visualizarem os esquemas apresentacionais por suas ações.

Não são apenas estatísticas; são uma modalidade interpretativa da realidade e de projeção de significados mais amplos em um plano de múltiplas realidades. O desenho do alcance, entrementes, consolida-se em interpretar as transcendências da vida cotidiana e em como esses símbolos são fundamentais para a estruturação da sociedade e das relações sociais.

Em última análise, a interpretação simbólica dos dados de alcance reforça a importância do casamento de uma abordagem interpretativa, apresentacional, portanto, para a análise e planejamento da vida cotidiana. Viva o casamento de John! O homem da matemática entregue ao doce lar da janta!

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.