Consciência: os 15 Minutos de Silvio Santos

Por Redação

19/08/2024 15h00

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Desenhar frames de entrevistas ou “durações de sinergia” com os atores-usuários em uma pesquisa de UX remete à criação de planos para ambientar momentos estratégicos de interação. Isso permitirá captar e harmonizar a percepção dos participantes com os objetivos da pesquisa, tal como os quinze minutos secretos de Silvio Santos.

Silvio Santos, de abençoada memória, foi meu superior quando atuei na sucursal do SBT; minto, na realidade, era Tasso Jereissati, da TV Jangadeiro. Indiretamente, Silvio exercia influência sobre a programação, e eu, na qualidade de estagiário de marketing, juntamente com Thales, Wládia e Simone, minha chefe, realizava alterações nas mídias para os mídias quase semanalmente. Mídias sobre programação em 2004. Fazem vinte anos.

Sempre que ocorria uma mudança na programação, eu assumia minhas funções. Embora pudesse dedicar uma coluna inteira às minhas vivências com essa figura característica, aqui, revelo seus quinze minutos ocultos.

Foi mostrado no documentário inédito sobre sua vida, exibido ontem pela mesma emissora, que Silvio Santos possuía um ritual de transição antes das gravações. Consistia em passar quinze minutos a sós com a plateia. Era um momento mandatório para harmonizar a percepção das mulheres com a sua figuração, eu diria neokantiana. Explico:

De fato, cada programa de Silvio apresentava uma representação distinta. “Em Nome do Amor” se diferenciava nitidamente de “Hot Hot Hot”. Quem se lembra? Saúdo os estagiários amantes da televisão! Embora sua representação variasse, os quinze minutos a sós com o público eram de natureza transcendente.

Sem a presença das câmeras, o ícone da TV se dedicava a captar cada nuance de um “sim” ou “eu”, resposta iminente da plateia. Essa sensibilidade à percepção do outro aplico em minha intervenção de hoje. Continuo a versar sobre o framework de UX Planning Strategy, especificamente em seu quarto estádio: o desenho da Consciência no planejamento da pesquisa de produto.

Após delinear os cenários, objetivos e o escopo da pesquisa de UX, a pessoa pesquisadora deve, em seu ofício, indicar as sinergias de como irá refinar a percepção dos entrevistados na etapa seguinte. Nesse contexto, preverá taticamente os meios de abstrair consciências nas mensagens motoras que elicitam respostas buscadas. O que digo é:

Assim como Silvio Santos utilizava esse tempo para sintonizar-se com a plateia, captando suas reações e ajustando sua performance de acordo com a percepção do público, o pesquisador de UX deve prever momentos de interação direta e intencional com os usuários. A importância de prever os “quinze minutos com a audiência” no planejamento de UX é capital.

Tais desenhos no UX Planning Strategy são cogentes para afinar-se à “duração consciente” e as expectativas dos participantes, afiançando que as mensagens e estímulos utilizados na pesquisa sejam devidamente calibrados para obter respostas autênticas e relevantes.

De fato, o conceito de consciência em Alfred Schütz, conforme analisado por Lenore Langsdorf no artigo Schütz’s Bergsonian Analysis of the Structure of Consciousness, é profundamente influenciado pelas ideias de Henri Bergson, especialmente no que diz respeito à análise da estrutura da consciência e do tempo interno (durée).

Schütz, que inicialmente foi cativado pelos trabalhos metodológicos de Max Weber, percebeu que para entender o significado subjetivo de um ato social para o ator, era necessária mais uma fundação filosófica. Tal, a necessidade de apurar a representação que insisto em Nosso UX.

Schütz buscou em Bergson, entre outros filósofos como Husserl e os neokantianos, essa base filosófica. Pela análise bergsoniana da estrutura da consciência e, em particular, do tempo interno, poderia ser um ponto de partida para interpretar noções básicas das ciências sociais, como significado, ação, expectativa e, acima de tudo, intersubjetividade.

Dr. Langsdorf credita que durante o período de 1924 a 1928, Schütz estudou intensamente Bergson, com a espera de desenhar frameworks da “duração” — a estrutura básica da consciência na análise de Bergson — para a intersubjetividade, fornecendo assim a base para a compreensão da ação social do ponto de vista do ator: um User Centric dos anos de 1920.

Schütz desenvolveu um esquema de seis “formas de vida” (life forms), que são tipos ideais ordenados hierarquicamente dentro de um continuum. Essas formas de vida são:

  • a) a forma de vida da duração pura do Eu;
  • b) a forma de vida da duração dotada de memória do Eu;
  • c) a forma de vida do Eu atuante;
  • d) a forma de vida do Eu relacionado ao Tu (Thou-related I);
  • e) a forma de vida do Eu falante;
  • f) a forma de vida do Eu pensante conceitualmente.

E em cada uma dessas formas de vida, vê-se um próprio “sistema de estabelecimento de significados” e cada uma é explicável em termos da forma superior. A ideia é que a consciência primária, a “duração pura”, embora não seja expressável ou transferível, serve como um ponto de análise abstrato para a análise da “duração dotada de memória”, que preserva a experiência vivida da consciência de uma forma transformada e interpretada.

Reclamo, doravante, que como Schütz buscou em Bergson uma compreensão mais profunda da “duração” para interpretar a intersubjetividade e a ação social, no UX Planning, a preparação prévia para captar as expectativas e a “consciência” dos usuários é vital.

A prática de Silvio Santos em dedicar um tempo específico para entender a plateia antes de cada gravação reflete a importância de sintonizar-se com as nuances da percepção do público para ajustar sua abordagem. Diz sobre diagnosticar a “duração” da consciência transcendental com a plateia. Afere antecipadamente 15 minutos de compreensão afinada da percepção do outro.

Como desenhamos as durações de sinergia com os atores-usuários de nossas pesquisas?

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.