Extraneu vicinal

Por Kochav Koren

19/12/2022 12h12

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Logrou a abeirada, acerca de mim, adjacente a ti, anexa do Sul, aproximada de Fausto Neto, avizinhada de Acorda Alice, achegada dos Pampas, circum-adjacente à picanha, circunjacente ao sol, circunvizinha dos sotaques sulistas, confinante de Violeta Parra, contíguo do mate e continente que se opõe ao norte. Venceu a finítima Fernandes, fronteiriça Thaís hermana, adjunta de Perón, limítrofe de Maradona, pegada de Messi, propínqua Argentina; próxima e rente à esquerda. O milagre da convizinha é nosso! Mesmo, quando se tipifica e a simboliza como figura: “Adversária”.

 

Ontem, no triunfo da Argentina, fui “o argentino”, como tantos vizinhos. Figurei, vestido de Adidas, como “o torcedor” argentino. O estrangeiro. Exprimir à Personas, estratagema do desenho de produtos em estádios de “descobertas”, discovery, forasteirismo, faz valer Figuras à etapa seguinte, validação, evaluation. Acerca de tipificações e simbolização, quarto vetor constituinte de Figuras, atenho-me. Assunto o diálogo com Dr. Hanke, mister condição de estrangeiro dos atores-pesquisadores de experiência, igual condição das dos atores-utilizadores de mercadores digitais. Explico.

 

Em eventos cotidianos, tal o acontecimento de “final da Copa do Mundo”, a interação do ator- morador de bairro ou ator-usuário de dispositivos midiáticos, vestir-se é símile de postar algo. O vizinho compreende minha ação, seguindo os símbolos que carrego. Tipifica-se mutualmente. Simboliza-se reciprocamente. A cada nova figuração: um estranhamento ao outro. O mesmo ocorre ante uma tela. O utilizador estranha uma nova funcionalidade univocamente. Um novo ator-usuário deve ser abarcado como “estrangeiro”, seus rastros digitais, tipificados, simbolizados como Figuras de interação. Gestalt de múltiplas realidades.

 

Saliento que, em uma de últimas entrevistas de Erving Goffman, no estabelecimento da metodologia do enquadramento, preponderou oculto entusiasmo schutziano. Apesar dos cracks de Frame Analysis (1974), a detalhar em minha contribuição na revista Symbolic Interaction, a ser publicado na primeira edição de 2023. Isto em contraponto a evidência editorial de 1974, onde o Sociólogo canadense expressa posicionamento crítico a obras não originais em tradução de Schutz, acessadas por ele somente em inglês.

 

Se Goffman expressa o entendimento da realidade social por “quadros”, que são modalidades interpretativas imersa por fabrications, lamitations, anchorages and key/keyings dos atores em suas fachadas representacionais, as estruturas simbólicas de Gestalt em Schutz, na crença deste cronista, deve ser explorar comparativamente quando o ator é tido como “ádvena”, “adventício”, “alheio”, “alóctone”, “estranho”; ou; sinteticamente; “estrangeiro”. Crê-se que o que aproxima ambos é a elaboração metodológica investigativa dos atores que traduzem uma estranha realidade vivenciada, que exprimem em suas figurações representacionais formatos interativos. 

 

Assim, não considerando a simplória definição de estrangeiro como antônimo de “legítimo”, “autóctone”, “nacional”, “local”, ou “nativo”; popularmente o oposto ao “nascido” ou “crescido” na terra natal; vê-se uma Figura como estrangeira, “estranha que aprende” ou “estranha que vive”, um mundo que jamais será seu, em sua existência, apenas como em sua representação social. O argumento remonta o papel da observação participante, estratégica sociológica par excellence em Goffman, como base fundada na Sociologia da experiência de Schutz. 

 

Gestalt é a chave-analítica para simbolização do material estético musical vivido, na esquina dos encontros cotidianos entre estrangeiros e não estrangeiros, em duplo sentido; a Gestalt, na qualidade de método, oculta, onde o pesquisador categoriza o nativo, observando-o como figura do processo interativo – assim como a Gestalt, como símile das schemas de “descoberta”, motor da vivência em grupo.

 

O estrangeiro, observador-nativo, observador não-nativo, cientista-estrangeiro, aglutina-se ao intérprete ao eleger uma relevância sob o “pensar habitual”, elo para um acontecimento em grupo. Registram, ambos, um frame da vida em comum pelo “efeito espelho”, conceito de Schutz em The Stranger (1944). Especialmente, quando os atores deep adentram ou adentrar à borda das formas do padrão cultural e estilo de vida que os unem. Fez bem, Dr. Hanke traduzir o artigo para o português.

 

Presume-se que se o estrangeiro em Schutz experencia a descoberta por figuras diferentes das vividas à terra nativa, choque para validade do seu “pensar habitual”; em Goffman a figuração dos atores em suas participation status apostos à forma interativa, rompe quadro. A centralidade do mundo circunvizinho em si mesmo, no inerente à execução do ato que aproxima padrão cultural e receitas representacionais, similitudes na linguagem do grupo são os vetores de Gestalt investigados.

 

Crê-se que, ao eleger o processo metodológico de construção de “descobertas” de figuras que interagem, atores de features e aplicações digitais, seguem os instintos (natureza), regras (social) e aprendizados (cultural) da vida cotidiana. Venceu a Argentina dos atores que berraram (e/ou já choraram), pagaram (e/ou contemplaram na praça) e verbalizaram (e/ou calaram). Arrebatou o forasteiro vizinho, outrora, bebum tutor do sotaque alheio.

 

Fernando Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública

fernando@ernestmanheim.com.br | @noblecavalcante

 

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.