Restitutus: Bibliotecária

Por Kochav Koren

25/09/2023 15h50

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O livro medeia uma forma e um conteúdo. Configura-se no consumo em modalidades que nascem para serem encaixotadas. Também desencaixotadas. Tento responder às representações do ato mais corriqueiro de uma cidade: o consumo de coisas que possuem rótulo estilo: “entre, temos ar condicionado”.

O ator-consumidor, quando cursa marcha da caça ao crédito, faz-se ator-usuário em um conflito dicotômico entre desejo e arrependimento. A esse ator, atribuo um potencial figurativo: Restitutus. Sustentando igual teor, defino-o como “encaixotador” de livros. O que está acontecendo aqui? Volição intensa para devorar, possuir, acumular. O desejo. Já nos conhecemos? Simula-se um desconhecimento, onde a capa ganha maior importância. Encaixotamos para desencaixotar. O arrependimento. Explico.

Reclamo teshuvá: resposta, restituição, pacificação e retorno. Desde Frutal, pelas Representações das Gestalt da esquina. Resposta à metropolização, restituição do quadro original e não descoberto, pacificação do que rompe com a ordem e; por fim, retorno a Paracuru. Figuras decantam-se. Estampam forma e imbuem sentidos duplo e quádruplos. Múltiplas realidades. Servem a símbolos distintos, nas duas línguas, que tecem sua aplicação. O frame Figuras é uma restituição temporal da experiência de quem a define.

Nestas instâncias, de fato, as Figuras unem definições distintamente análogas quando assentadas em prática pelo ator-pesquisador que vivencia jeitos in loco. O uso do latim, contrapondo-se, ao brasileiro justifica estas asserções. O leitor de Nosso UX, com certeza, notará que, para a definição da pergunta central do quadro Figuras, “o que está acontecendo aqui?” e “já nos conhecemos?”, reviver o passado não foi em vão. A soberania linguística do brasileiro, historicizando o latim e incorporando semelhanças na primeira dicção, tornou-se pessoal, do ator-escritor, do desenhista da estratégia concebida. Aclaro, nos quatro sentidos o tempo coevo de teshuvá, do tempo da restituição, resposta, pacificação e retorno Patrício.

“Restitutus” é o particípio passado do verbo “restituo”. Em seu sentido original, significa “por no primeiro estado ou lugar, reestabelecer, reparar, reconstruir, restaurar, reerguer”. De forma mais direta, seu significado em português é “restituir”. No brasileiro, reivindico-o enquanto Bibliotecária, a profissional da conservação. Igualmente, tal adjetivo, mantendo o tom de Figuras.

A Figura Bibliotecária é especialista em conectar dinâmicas à arquivística da experiência. Coleciona, por vocação, amostras catalogadas de sentidos. Combina “biblion”, “livro”, com “teke”, “caixa ou depósito”. Figura enquanto sábia, doutora em um “dever recomeçar”, que marca o ano de 5784, neste fim do mês místico de Elul.

Na primeira croniqueta escrita no Triângulo, Restitutus, o Restituído é um “encaixotador” de livros. Coleciona os livros de um bom ano, no compêndio da vida, propriedade única e primordial de H’ssem. Este Nosso UX compreende o recomeço como um ato de encaixotar. Compreende o jejum do ator-escritor em quatro sentidos que, na linguagem popular, se traduzem como “arrependimento”. A Figura do Restituído, do Bibliotecário, não é de forma alguma igual ao sentido do Arrependido. Está longe disso. Firmo vivo na minha primeira intervenção longe do fumo:

A Figura da Bibliotecária, ao utilizar um dispositivo midiatizado, como um aplicativo do Sicoob para obter um crédito agrícola, por exemplo, depara-se com quatro possibilidades: a resposta, a restituição, a pacificação como sentido de mediação e, por fim, o retorno. A roda exemplifica:

Ritmo (Keys/keyings): Resposta. É o caráter do rebate da Figura Restitutus diante da cena do consumo. Já nos conhecemos? Comprar leite de aveia seria um retorno ao peito não possuído?

Ginga (Laminations): Religa. Faz mediação, constrói pontes e estabelece laços. Pacifica o jogo do consumo. A Figura Restitutus sempre atribui um sentido ao “livro” escolhido.

Compra de jogo (Anchorages): Retorno. Reflexão interna ao lugar de origem. O polo positivo das perguntas e questionamentos. O que está acontecendo aqui? Devo entrar na roda agora? Devo pegar a caixa neste instante?

Mandinga (Fabrications): Restituir em seu símbolo primeiro: a Capa. Foram as Capas das restituições que outrora revelaram algo. Escolho o “livro” pela capa que me remete a algo de ontem. Será o que deseja planejar, o que embelezará o encaixe entre a coisa e o lugar que guarda.

O ato culpado e apropriado do consumo digital, emparelhado ao do comércio da esquina, permite observar nos atores-usuários frames de restituição. De recomeços, onde capa, interior e casa (encaixe) se entrelaçam nas eternas questões de retorno, respostas e religações.

Kochav Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.