Sedas ao Jumento

Por Kochav Koren

05/12/2022 09h45

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Ganhamos ou perdemos? Já em horas saberei. Antes do pôr do sol, Shabbat a ser anunciada, elegi Dedé Brasil que mudou de nome. Uma croniqueta é um raff da Publicidade da rua, frame do tempo. Um jogo, tal vejo a vitória do hermano Uruguai na nesta Copa de 2022. Brasil e Uruguai acenderão as velas da Hanukkah latina? Santa Claus saberá.

 

É, confrades UXs, buscadores da experiência do povo da esquina, chegou dezembro. Oportuno para que o terceiro vetor de Figuras se exprima. Sim, já conto com o imortal catedrático. Ele me lê, revisa, ensina e estabelece a norma da brasileira língua. 42, brevemente, me acompanhará. Sobre a continuação de 42, secundus do Gol, interfiro.

 

No tempo enquadrado desta tecedura, duas figuras nomeiam este relato. Formam-se no primeiro tempo desta escritura, iniciada no Moleskine. O segundo foi na terra dos parques, ao lado do Benfica. Sempre carregue um Moleskine, como bem fazia Machado de Assis na Travessa, UXs. Não há Miro, Lucid ou Mural que não possa inspirar o hábito de desenho do passado, o velho papel. As Figuras ao meu lado interagem sem se falar, apenas pelo olhar, pelo enamorar de fofoca do “o que está acontecendo alí?”. Dos farelos de experiência. O Homem da Seda e o Jumento parecem estar apaixonados um pelo outro. 

 

Trinta segundos de paixão. Aquela que arrebata o olhar de busca do carro de vizinho quando dois automóveis se emparelham em um sinal de trânsito vermelho. O Jumento e sua Dona. Uma senhora cearense faz-se jumento, partes compõem o todo. Os atores senhora, filha e não-humano constituem o “carro-jumento”. Tal, o velho senhor vendedor do jogo do bicho, novo usuário de PIX, quase meu avô, homem da camisa de seda, observador dos fluxos de trânsito, enquanto o conhecido animal carregador estanca, ao ser um automóvel. Fixado como micha, simpático sorriso, os três atores na Figura de “The Jumento”. Fixado ali está, formado por um dia que será carro-nave-espacial e por outro estar do tempo, saberá D’us, do velho que sede.

 

Leio-os como a Dedé Brasil dos 1990 que vivenciei, hoje, Dr. Silas Munguba. Por quantas encruzilhadas ali passei, passo e passarei? Em quais aplicativos enquanto caminho se farão ao anunciar um próximo homem que seda? Quantos senhores com camisa estampada anunciarão Gestalt de meu falecido avó Felinto? Quando a nave será o carro que o jumento fora? A resposta mora em uma dicção que junta uma nunca homogeneidade. Se-di-men-ta-do, Figura terceira que framework que se estabelece em Nosso UX. Detalho.

 

Sedimentum é pertinente aquilo que pousa, deposita-se, assenta-se. Na Geologia o sentido é de uma matéria sólida desagregada, oriunda de rochas preexistentes depositadas pelo ar, água ou gelo. Fenomenologicamente, a compreensão de um “mundo da vida”, transpondo uma autoevidência constante, não problemática; resolutória de charadas; e capturadas por Figuras sedimentadas. Sua estrutura permite experiências relativas a natureza, cultura e sociedade. Dr. Hanke, lendo Schutz, apresenta sabiamente como uma encruzilhada sedimentada: Umwelt, Mitwelt, Vorwelt e Nachwelt. O mestre traduz.

 

Por Umwelt a via por onde o que está ao redor revela o corrente; por um retrato do Mitwelt, do contemporâneo em um alcance amplamente distinto; predecessor, Vorwelt, onde o passado, composto por seus integrantes atores, é influenciador – o que não ocorre ao contrário futuro; e por fim; por caminhos apontador de o mundo dos que atuarão, sucessório, Nachwelt, mundo futuro. O “mundo da vida”, portanto, compõem-se por figuras intercruzadas no tempo e espaço de uma referência presente e cotidiana, passada e agenciadora do futuro.

 

O “indecifrável” enamoramento da Dona do Jumento e do Homem da Seda, em dois “mundos da vida” postos em interação silenciosa, somado à minha observação e a de eventuais atores daquele recorte de tempo e espaço é presentemente contemporâneo, advindo e sucessor. Exato como o enamoramento dos atores que interagem por features em sua aplicação móvel. “Faço um PIX”, que carrega em seu ato um antigo escambo e que vislumbra a troca por dinheiro sem ou com mínimo material. Empiria plena para a pesquisa cotidiana no desenvolvimento de produtos e histórica inerente à pesquisa de Figuras de Interação.

 

Se Personas se estabelece como primazia para descobertas e ideação de protótipos das mercadorias digitais, Figuras validam categorias interativas do acontecimento prontamente observados por vivências. Lida com infinitas formas de acessar à compreensão do que ocorre ante a tela. Sedimenta as divisões sociais, espaciais e temporais dos atores na cena, no jogo com a técnica.

 

Dr. Hanke faz bem ao traduzir que estas zonas de acesso às encruzilhadas supracitadas ocorrem de maneiras diferenciada. O centro das sendas é o mundo observável, corrente, no alcance dos sentidos, ouvidos, penetrado pelo olhar, ou tocado pela manipulação, direta ou por vias instrumentais. Justaposto àquele mundo do passado em seu alcance, que sempre sedimenta rastros por evidências de suas partes; das partes da rocha preexistente, agora, farelo. O jumento não é meio de transporte metropolitano, mas figura em Fortaleza em vários sinais da outrora Fortaleza de Seu Raimundo, e assim por diante. Funda-se também por uma terceira via de acesso, do mundo virtualmente inteligível. Três chaves: o do alcance presente, o do passado restaurável e o virtual anunciador.

 

Falo assim, de uma hermenêutica viável à pesquisa de “inovação”, à pesquisa da História da Experiência e a pesquisa de Interação para estádio de evaluation de funcionalidades técnicas posto aos portadores das experiências, profissionais primordialmente pesquisadores da opinião pública. Do Homem da Seda que cede ao olhar do Jumento, quiçá rememorando seus tempos de namoro com a criatura. UX, é na esquina da vida cotidiana que habita a pesquisa de experiência. Sedimentá-la é urgente, assertiva ao alicerce desta neófita profissão, no intento de jamais predizer o que um utilizador faz, fez ou fará, já considerando o entrelace da nossa existência que os inventores do futuro jamais alcançaram – por mais que possamos ter atalhos de acesso a eles, jumentos e homens de seda futuro.

 

O terceiro vetor para pesquisa de Figuras, Gestalt dos frames de experiência, vê o ato evitando a coisa da fabrication por fala atestada. Atesta o olhar às vivências que as esquinas revelam do mundo interior não “intencional”, não “explicado”, não “verbalizado”. Figuras são formatos abstraídos pelos atores à leitura da realidade, múltipla, e capturadas pela abstração de como o pesquisador vê o “acontecimento” em suas encruzilhadas de uma estrutura jamais homogênea. Pra frente Brasil, hoje, não podemos perder! Viva o Jumento astronauta, sedas para ele!

 

Fernando Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública

fernando@ernestmanheim.com.br | @noblecavalcante

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.