Temporal…

Por Kochav Koren

24/10/2022 13h51

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Persona vê-se por várias figuras. Sejam esquecidas as opiniões cristalizadas! Requer ao pesquisador da experiência atribuir sentido, per-ce-ber. Serei breve, tal aguaceiro. Agora não chove; ontem foi garoa na São João, amanhã, Alexa não prevê toró. Trato da dinâmica cambiante das Figuras em UX. Junturas das experiências do decurso, atual e vindouro ao qual a matéria interativa imbui. Exemplifico com três figurações decorridas em um frame temporal ocorrido no ato de escritura. Cito temporal, em ambos os sentidos – latino e saxão: terral, mundano, físico e profano.

 

Sequei Flamengo…bebo Singleton…desistirei do BB. Tudo junto, no último torneio da Copa do Brasil, primeira ancoragem do maior festival do existencialismo latino: a Copa do Mundo iminente. Adjacente ao instante de escrita deste encontro contigo, oculto leitor. Não há nada em comum entre time de futebol, whisky e instituição financeira. A não ser um frame mundano. Um disse do eterno, como partido e religião. Outro fala do presente prazer da ocasião.

 

O último da memória, de um futuro pretérito. Associações dos substantivos representados, como time, bebida e banco. Eterno é uma dicção antipositiva, reveladora de algo sem começo nem fim. Parece remeter futuro, quando se incorpora à significância sempiterna. Ao remeter culturismo, vê-se eternífero. Nisso, ao remeter “céu”, ou “inferno”, vê-se a morte, pensa-se em velhice e apropria-se do futuro. Ser botafoguense, além, de não ser flamenguista no nascimento, cunha o sê-lo futuro. É um “estante”, algo que está ou esteve. Duplamente, algo que “estará sendo”, “será”, neste caso, o que se nega: não ser Flamengo ou Fluminense. Resta o branco e preto, junto e misturado.

 

Jamais serei flamenguista. Sou botafoguense, por ter assumido em um passado esta estrela. “Não se muda de time”, dizia um jovem professor da ESPM. Morre-se com ele; creio que, em alguma crônica de Carlos Augusto Vianna, isso se revele. É sobre o tempo presente das coisas de uso digital percebido. Se em Interiectio!, metáfora e símile interjetivos das “CTA (Call to action)” foram a primeira angulação de Figuras. Temporal ianque à “ligado ao mundo físico real, não a questões espirituais”, contido em Oxford on-line, despontar-se-á. Esta croniqueta revela hoje o caráter mundano das Figuras. Mesmo, do segundo sentido em português datado de 1365, do velho Houaiss: temporal como mundanidade, caráter transitório do estar no mundo.

 

Agora, o atual. Coco, digo, água. Melhor, ambos. Nesta água de coco, habita duas matérias em um copo de vidro. Pensam que bebo coco, Singleton, sem embargo, substancia. Foi a primeira vez que o provei. Não é João, nem Daniel. Saberia Du’s quem deste nome foi batizado! Iaques, por certo. Retifico, permita-me: “é batizado”, já que trato do presente. A sentença interjectiva resume o que ponho, já que engloba e retoma um futuro pretérito “saberia” e “é”, ser presente. A matéria carrega todos os tempos. O botão, UX, na tela, tal copo, substancia múltiplos sentidos. É sobre isso a experiência. Traduzir os triplos e infindáveis sentidos figurados, que figuram e que figurarão.

 

O Jack Daniel’s simbolizara meu primeiro cowboy nos EE.UU. Johnnie Walker, a primeira escritura científica em 2010, na rua Nascimento e Silva. A mesma do Tom Jobim. Ele morava próximo ao apartamento do saudoso Rapp, também Carneiro, quando sedia seu espaço para nossas reflexões de colegas bacharéis em Publicidade na ESPM. Resta este sin-gle-ton, presente deste primeiro tom profano. Nunca revelarei as intenções de ter Hulk no Botafogo! Como Galo, é alvinegro. Já secara a estrela. Volto ao rubro-negro. Ao secar Flamengo, bebia-o, o que será batizado. Secava dois objetos. Duas matérias. Em uma: no ato da escritura desta croniqueta. Longe da Original, de nada combinara com o futebol que assistia ouvindo. Era na Jovem Pan no Youtube. Que hecatombe! Escutar rádio, vendo narradores. Não o Vavá Maravilha. No atual, nada combinara. Futebol pede cevada. Narração de locutor pede apenas a imaginação do rádio. Também, um pequeno de pilhas. O mesmo que meu tio levava ao Castelão. Como, quando criança, só fui uma vez.

 

No Rio, tornei-me botafoguense. Fez-se a experiência, às inúmeras idas ao Engenhão pela Super Via, o trem carioca. O que me confundi, matuto, ao morar no Lins de Vasconcelos e confundi-lo com um metrô. Não posso narrar um trem carioca no rush da manhã. Não mudei de time, mas escolhi o vagão. Velho, elegi. No ato final do parágrafo, figure-me ao objeto whisky, como o “maquinador do coco”. Ao secar Flamengo, “laminador alpha alvinegro”. E no BB? O que tinha com tudo isso? Explico, sendo curto, agora, sim. Veja, utilizador, sendo eu, este é o objeto de UX. É a matéria digital permutada pela cultura e paixão. Tradutor, deve ser um UX. 

 

Ao ser um homem-do-coco-alpha-alvinegro, mantinha-me trabalhista. O de Brizola, Darcy e do calado pupilo de Unger. Contradizia meu futuro, o pesquisador de fintechs. A experiência do passado, dos inúmeros erros de atualizações do app, desenharia uma resolução. Serei Inter. O mesmo do amigo gaúcho, com quem dividira apartamento da Tijuca. Sempre gostei do colorado, mas era vermelho. Já havia escolhido o branco-e-preto. O enamoramento com o novo banco à tessitura que se fazia no frame terral aplainara. Sairia do BB. Serei antissistema. Pensei. Pensara. Materializarei, profanamente.

 

Então, há mais um grupo de dicções na figuração do instante: homem-do-coco-alpha-alvinegro-antissitema. Tudo junto. Assim, compreendo Figuras, matéria. Só roubo do mestre. Salve, os mestres! Um “comprar de jogo” se ancora:

 

“Cada objeto é um objeto dentro de um campo; cada experiência faz-se ao longo do seu horizonte; ambos pertencem a uma ordem de um estilo peculiar. A matéria, por exemplo, está interligada com todos os outros objetos da Natureza, presentes, passados, e futuros, pelo espaço, transitoriedade/mundanidade, e as relações causais, cuja soma-total constitui a ordem da natureza física”. (SCHÜTZ, 1962, p. 298. Impus destaque). A tradução foi minha do trecho do grande ensaio Symbol, Reality, and Society, de Alfred Schütz, traduzido ao inglês pela Martinus Nijhoff.

 

Sobre isso, aprofundarei no próximo encontro oculto contigo em Nosso UX. Mesmo Flamengo tendo sido campeão, após o terceiro parágrafo. Sofremos, os solitários. Molhados em chuva, engolimos, como o mestre. Sem coco, o desfecho. Dias depois, no último parágrafo, 17h56 de domingo, fim de jogo no Campeonato Brasileiro. Décima primeira posição. Não me chamem ao Engenhão! Pé frio nato. Empate no clássico Botafogo e Fluminense. Desta vez, no rádio de pilhas que a Alexa imita. Fez lembrar a semifinal da Taça Guanabara em 2011. Ganharemos! Passado, presente e futuro. Junto e misturado: na experiência das múltiplas realidades da percepção das pessoas humanas. Figuras em tela. Oxalá, esqueçamo-nos de personas. Há de se desbravar Figuras! Pela ordem interacional da percepção ante a natureza física. Curto de tal modo.

 

 

Fernando Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública

fernando@ernestmanheim.com.br | @noblecavalcante

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.