Você até deve saber como vamos começar esse artigo: “em tempos de mudança, é necessário aprender com agilidade para acompanhar as mudanças do mundo.”
É clichê, mas é verdade. O problema é que poucos ensinam, de fato, as bases para a aprendizagem. O que ela come? Do que ela vive? E acho que aqui é um espaço fértil para a gente abrir a pauta desse assunto.
Primeiro vamos de conceito:
A palavra “aprender” tem o sentido de “levar junto de si”. O que a gente “aprende” é algo que a gente “carrega junto”. E por si só é um termo bem forte. Porque aprender, no coração da palavra, tem a ver com algo que levamos à prática, levamos ao trabalho, levamos às reuniões, carregamos onde quer que estejamos.
E isso é muito diferente de decorar uma porção de palavras bonitas e frases clichês que vimos em slides de Power Points daquela última palestra online. Mas existe uma questão ainda mais importante aqui: Se a gente “carrega” com a gente… qual é a hora de “descarregar”? Em que momento é preciso deixar de lado velhas crenças e velhos princípios, para colocar em nossa bagagem de conhecimento algo novo?
É isso que Edward D. Hess fala em seu livro “Hiperaprendizagem” e que a gente adapta aqui, fazendo algumas ponderações, para você, leitor assíduo do Nosso Meio. Só de falar e “reaprender”, já nos vem à mente a conhecida citação do Alvin Tofler:
O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.”
Conforme as máquinas vão se tornam mais capazes, nós precisamos estar um passo à frente por meio da aprendizagem e desaprendizagem contínuos e focados: o que o livro batiza de “hiperaprendizagem”. A hiperaprendizagem é esse fluxo constante de aprender, desapegar do que você aprendeu quando aquilo não faz mais sentido, e reaprender. E a gente faz isso através de uma abordagem que envolve saúde física, emocional, espiritual, psicológica e social.
Aprender acontece com a conversa. Seja a conversa consigo mesmo (reflexão profunda sobre um assunto), ou uma conversa com os outros. Então a primeira “lição” para quem quer nutrir um hiperaprendizado é: converse mais com pessoas diferentes. Ouça mais opiniões. Escute pessoas de todos os perfis e níveis hierárquicos. Todo ser humano tem em si uma fonte de conhecimento que podemos aprender a todo instante.
Das empresas mais incríveis que trabalhamos, aquelas onde os diretores são mais abertos aos seus empregados, acabam sendo as empresas que melhor se adaptam. Coincidência? Se isso é algo que você quer levar para seu negócio, leve com essa frase:
“A aprendizagem requer um ego comedido e um ambiente seguro.”
Esta é a lição 2 para a hiperaprendizagem.
A primeira parte da frase tem a ver com os indivíduos: é preciso ter um ego comedido. Gente vaidosa demais tem mais limitações para aprender. Porque se apegam mais às ideias que foram “coletando” durante a vida. Ser mais curioso que vaidoso é a chave para que você tenha a mente mais aberta. Esqueça a competição e pense em colaboração.
A segunda parte da frase tem a ver com as empresas: o ambiente precisa ser seguro. A hiperaprendizagem exige um ambiente psicologicamente seguro que incentive as ideias de todos. As pessoas devem se sentir seguras para serem autênticas, dizerem o que pensam, proporem ideias das mais diversas sem serem ridicularizadas por isso.
As empresas baseadas em hierarquias de comando e controle podem até ser altamente “eficazes”, mas por impedir a criatividade e inovação perdem a chance de serem empresas ambidestras.
Quando um negócio cria um ambiente psicologicamente seguro, ela alcança um verdadeiro “fluxo coletivo”, que é quando as equipe pensam e colaboram quase como uma pessoa única, sem medo, sem barreiras. Com isso o pensamento do grupo ultrapassa fronteiras e o desempenho aumenta.
E pra fechar o texto de hoje, queremos propor a lição 3: A hiperaprendizagem exige diferentes formas de trabalho. E essa é uma lição completamente voltada para a liderança das empresas.
Sabemos que grande parte das organizações ainda mantém práticas de gestão baseadas no medo e nas estruturas hierárquicas. Com o jogo político das aparências, os líderes precisam fingir saber de tudo, controlar cada aspecto do negócio e microgerenciar.
Ambientes assim sufocam a hiperaprendizagem. Ao invés disso sua empresa pode focar mais na colaboração, oferecendo segurança psicológica, dando autonomia, incentivando a diversidade e o senso de propósito.
É por propósito que inovamos juntos. Senão não o faríamos juntos.
Tá pronto para a hiperaprendizagem em seu negócio?
Céu Studart e Thiago Baldu
Céu Studart é sócia da Desencaixa Inovação e consultora, docente estrategista de Marketing, Branding e Inovação. É publicitária, com mais 20 anos de experiência de mercado. Especialista em Marketing (FGV) e Mestre em Administração (UFC). Thiago Baldu é Sócio da DSCX Inova e consultor de Marketing, Branding e Inovação. Com experiência de 15 anos, já realizou projetos de comunicação e inovação para marcas como SKOL, Ipiranga, Discovery, TAM, entre outros. Atua também como professor de graduação e pós-graduação, cursos in company, e palestra nas áreas de branding, marketing e inovação em instituições como UNIFOR, FB UNI e FAC.
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