Chat GPT é o termo da vez. Conversando com um amigo advogado, ele me confessou que todos esses termos novos que a galera repete sem parar o deixa até com náuseas. Pudera! Não se fala em outra coisa.
É post de Chat GPT pra cá, explicação sobre a Open Ai pra lá. Já tem até curso da Udemy: “Chat GPT, do Zero ao Avançado”. O assunto “inteligência artificial” inclusive engoliu o hype do “metaverso”. E agora, essa forma de inteligência virou a menina dos olhos das empresas, desenvolvedores, profissionais, estudantes…
Mas peraí.
Eu falei em inteligência né?
Será que ela é inteligente mesmo?
Num insight que me surgiu do nada, a sigla GPT soou como uma abreviação de GePeTo, o famoso personagem que esculpiu o encantador Pinóquio. Um boneco que em tudo se parece um menino… só que não é um menino “de verdade”. O Chat GPT gera também bonecos de pau, e é muito importante a gente saber diferenciar.
INTELIGÊNCIA FRACA X FORTE. O QUE É ISSO?
A Inteligência Artificial é uma coisa bastante parecida com a inteligência humana, porém, olhando um pouco mais de perto, a gente percebe que trata-se de uma “escultura”. O Chat Gepeto gera Pinóquios que emulam um garoto capaz de nos encantar. A IA emula uma inteligência humana, mas não é uma inteligência consciente. Colocando em termos mais técnicos, é uma “IA fraca”. E as pessoas, desavisadas, ainda se encantam e se assustam. Tal qual fariam se vissem um boneco de pau se aproximando com trejeitos de menino.
Nada melhor que saber aquilo com o que estamos lidando.
A Inteligência Artificial Fraca é a construção de softwares que não são capazes de raciocinar por si próprios. Eles fazem o encadeamento de regras e tomam decisões analisando múltiplas condições do tipo se-então. Ou seja, não existe um real raciocínio da máquina, pois ela necessita de especialistas humanos para fornecer o conhecimento inicial que o software precisa para “tomar suas decisões”.
Já a Inteligência Artificial Forte se refere à criação de máquinas capazes de autoconsciência e pensamento real, em vez de apenas simular raciocínios. Por exemplo, se uma máquina é capaz de escrever poesia, ela deve ter consciência do significado do que escreveu, e não apenas organizar palavras para formar frases. Em outras palavras, o software deve ser capaz de entender o motivo pelo qual manipulou determinados símbolos e até mesmo expressar emoções e pensamentos. Vai demorar algum tempo ainda para que uma máquina com “autoconsciência” seja criada.
O QUARTO CHINÊS?
Falando em consciência, você já ouviu falar do argumento do “Quarto Chinês”? O Argumento do Quarto Chinês, é um famoso experimento mental proposto pelo filósofo John Searle em 1980 para questionar a capacidade dos computadores em compreender a linguagem.
O argumento começa com a premissa de que uma pessoa está presa em uma sala e recebe uma série de cartões com símbolos chineses através de uma abertura na porta. Este indivíduo preso tem apenas um manual que lhe diz como manipular os símbolos chineses para formar novos símbolos para, então, enviar respostas através da abertura.
Embora não compreenda patavinas de mandarim, o preso pode seguir as instruções do manual e produzir respostas que correspondam corretamente às entradas. Searle argumenta que mesmo que não seja fluente em chinês, a sala em si não entende a linguagem chinesa. Ela simplesmente executa uma série de manipulações de símbolos sem qualquer compreensão do que esses símbolos significam.
Desta mesma forma, a IA é capaz de manipular símbolos (palavras, termos e parágrafos) com base em regras pré-programadas, mas não é capaz entender o significado da linguagem. Mesmo que os computadores possam produzir respostas corretas, eles não têm a capacidade de compreender a linguagem ou o mundo como os humanos fazem.
Entende agora o que a Inteligência Artificial faz?
Não quer dizer que você deva perder o encanto. Nem mesmo estou diminuindo as potencialidades da IA. Estou apenas propondo uma nova perspectivaParte superior do formulário, já que a Inteligência Artificial é – a meu ver – um caminho sem volta: ela moldará o trabalho, as relações, o ensino… ela moldará nossa própria inteligência.
COMO APROVEITAR MELHOR O PINÓQUIO?
O grande tchan da IA é ela poder servir de “anexo” à nossa inteligência. A primeira sugestão é que você não delegue sua própria inteligência à da inteligência artificial. Não confie em tudo que ela te entrega. Afinal ela é “alguém no quarto chinês” traduzindo entradas e saídas. Em trabalhos mais técnicos, é uma mão na roda essencial.
Um de meus alunos disse que usa para formular ou corrigir fórmulas do Excel. Ao invés de ver vídeos ou buscar tutoriais que demora para encontrar, ele pede para o Chat Gepeto produzir uma fórmula para aquilo que ele precisa fazer no Excel.Outro colega ajusta códigos de programação. Outro usa o Chat Gepeto como um “colega” em brainstorming. Eu também uso assim.
Já tentou pedir para o Chat GPT escrever slogans ou títulos publicitários?
É muito proveitoso. Se você “subir” uma informação bem detalhada, falando sobre a empresa, segmento que atua, e alguns direcionamentos sobre o insight que quer, a inteligência artificial te devolve uma porção de ideias boas, que te ajudam a construir o quadro geral.
Agora, se você apenas pegar o boneco do Gepeto, e apresentar para seu cliente como ideia de campanha – sem reformular, sem questionar, sem moldar – você estará jogando fora todo o lado humano, crítico, criativo, emotivo.
A nossa grande vantagem em relação à inteligência artificial está no fato de termos sonhos, desejos, paixões, emoções. Nenhuma máquina (até agora) tem a capacidade desse tipo de emoção.
Falta arte ao artificial.
Uma IA gera poesias. Mas jamais entende a perda de um amigo, ou o que é ter o coração partido. É com esse coração que a gente consegue fazer a verdadeira magia. Pegando o boneco do Gepeto, e jogando uma porção mágica. Sim-salabim! Pinóquio vira menino. E a sociedade evolui. Não delega seu pensamento crítico. Não delega sua arte. Não delega sua emoção. Porque sabe o lugar que a inteligência artificial tem.
Thiago Baldu
Sócio da DSCX Inova e consultor de Marketing, Branding e Inovação. Com experiência de mais de 15 anos, já realizou projetos de comunicação e inovação para marcas como SKOL, Ipiranga, Discovery, TAM, Grupo O Povo de Comunicação, Betânia Lácteos entre outros. Graduado em Administração (UNIFOR) , pós-graduado em Teorias da Comunicação (UFC), mestre em filosofia estética e MBA em Marketing pela ESPM. Atua também como professor de graduação e pós-graduação, cursos in company, e palestra nas áreas de branding, marketing e inovação em instituições como UNIFOR, FB UNI e FAC.