O linguajar americanizado e as barreiras para a inovação
Quando você pensa no universo de inovação e startups tenho certeza que vem um monte de termos em inglês na cabeça: Agile, call to action, leads, squads, lean, Business Model Canvas, framework, customer success, user experience. etc.
E isso não é culpa sua, afinal existem tantos conceitos novos sendo criados que mal temos tempo para processar e traduzir. Acabamos usando os termos em inglês mesmo.
Parte disso tem a ver com nossa cultura. Somos “importadores” de termos americanos.
Mas não estou aqui para discutir a questão linguística e cultural. Esse assunto teria muito pano para manga.
Eu queria na verdade lançar luz a uma reflexão que fiz um dia desses numa palestra.
Será que todos esses termos americanos acabam criando mais uma barreira para que as pessoas se aproximem mais do universo do empreendedorismo e inovação?
Será que as palavras em inglês deixam esses novos conceitos e metodologias menos acessíveis?
Não quero trazer uma resposta pronta, até porque toda boa reflexão leva em conta os diversos pontos de vista sobre um assunto.
Queria trazer dois pontos de vista aqui:
Por um lado existem tantos novos conceitos e ideias sendo publicadas que não conseguimos dar conta de processar tanta informação. Em 2020 foram registrados na ISBN mais de 150 mil livros! Cento e cinquenta mil livros. Isso dá 12.500 livros por mês. 416 livros por dia. 17 livros por hora.
Então com essa quantidade toda de informação nova sendo gerada, acabamos utilizando os termos como eles foram originalmente chamados, para podermos dar conta deles.
Essa é uma perspectiva para você refletir.
Agora outra perspectiva desse problema é que apenas 5% da população brasileira fala inglês. E 1% dela é fluente*. Então temos aí outro dado para refletir no quão inacessível podem ser os termos em inglês que são trazidos para o universo das startups e empreendedorismo. E como eles podem criar mais uma camada de resistência à inovação.
Não quero propor que a gente traduza tudo. E, de novo, não tenho nenhuma pretensão de propor uma solução linguística para essa problemática.
Quero propor uma ideia de ordem prática.
Sempre que eu uso os termos em inglês, seja em palestras, aulas, reuniões com clientes, apresentação de campanhas e até em conversas de bar, faço questão de contextualizar aquele termo, explicando de maneira breve e bastante clara o que aquilo significa.
Assim acredito cumprir um duplo papel: trazer às pessoas um contato inicial com a “palavra da moda”, mas também fazendo questão que ela entenda o que significa.
Assim da próxima vez que ela ouvir aquilo, não se sinta perdida.
A ideia é que a inovação não pareça um bicho de sete cabeças, recheado de termos que só a galera do meio entenda.
Nosso objetivo é incentivar a inovação no Ceará, trazer mais acessibilidade aos conceitos só vai ajudar a gente a termos mais pessoas engajadas com as novidades desse mundo.
* Pesquisa elaborada pela British Council publicada no Correio 24h em maio de 2021.
Neste espaço, quinzenalmente e sempre às segundas-feiras, Céu Studart e Thiago Baldu da Desencaixa Inova trarão reflexões, inquietações e orientações sobre futurismo e adaptabilidade.
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