12ª edição

A geração Z e o elo perdido: o veredito final

Por Redação

27/06/2024 14h30

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Os nativos digitais hoje sentam na cadeira do réu no tribunal popular. 

A acusação é clara: a geração que não quer trabalhar. 

E agora?

Uma situação comum nos filmes norte-americanos é aquela clássica cena de um tribunal de justiça: na frente o juiz, figura imponente dotada de muito poder; no salão principal, dois grupos em mesas opostas, uma da acusação e outra da defesa, separados por uma grade do público ouvinte. Imagine o cenário: na cadeira do réu está um jovem, de 21 anos, moreno, barba por fazer, cabelos soltos, roupa despojada, que dispensou os advogados e fará sua própria defesa. Do outro lado os acusadores, representando as gerações anteriores, com sua equipe de advogados pronta, com todas as provas, para ouvir a frase mais esperada: “declaro o réu culpado!” 

Não precisamos começar uma reunião, nem mesmo colocar o crachá da empresa, e o julgamento já começou nas conversas de mesas de bar, nos corredores da organização ou mesmo no almoço de família no domingo, e a conclusão quase sempre é a mesma: “o jovem de hoje não quer trabalhar”. A geração Z, definição sociológica que enquadra os nascidos entre 1997 e 2010, representa hoje 24% da população brasileira, segundo os últimos dados do IBGE. E junto disso um dado preocupante: um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos fazem parte do grupo “nem-nem”, ou seja, nem estudam e nem trabalham. E talvez essa seja a maior prova do “crime” utilizada no tribunal pela equipe de acusação.

Tema que ainda tem muito a avançar, mas que já alcança o board das organizações e seus conselhos de administração, e uma das grandes dúvidas parece ser: como conseguir atender os anseios da primeira geração nascida 100% digital.

Usando um conceito recentemente falado por Luiza Helena Trajano, uma das empresárias mais influentes do país, “empatia é trocar de papel com o outro, no mundo do outro”. Ou seja, não adianta partirmos para condenar toda uma geração, e usar os argumentos da falta de vontade e coragem ou excesso de acomodação, sem antes entender como é a realidade deles, como foram educados até aqui e que modelos eles têm como referência. Mais ainda: enxergar a partir dos olhos deles e não dos nossos que encontramos outra realidade quando chegamos no mercado de trabalho. 

Por definição, todo ser humano possui necessidades e desejos e a teoria talvez mais conhecida e utilizada mundialmente seja a pirâmide de Maslow, que defende uma hierarquia entre as necessidades. Na base da pirâmide as necessidades mais urgentes, as fisiológicas, e no topo as necessidades mais pessoais, como a auto-realização. 

Talvez o que mais intriga as gerações anteriores é o fato de que a geração Z parece vir ao mercado com muita força e convicção de que não existe essa hierarquia ou que, pelo menos, a diferença de importância entre elas é cada vez menor. Isso significa que na mente desses jovens escolher um emprego que não preencha um nível mínimo das 5 camadas de necessidades não os interessa, não os faz baixar as expectativas e descer para o nível abaixo: eles recusam e rejeitam a oportunidade, sim.  Além de expectativas e exigências mais altas, o conceito de tempo dos nativos digitais é diferente: eles querem um crescimento e um avanço cada vez mais rápidos. Empresas que não implementam uma cultura ágil de processos, incentivos, reconhecimentos, certamente são as primeiras a serem dispensadas mesmo quando não se tem um plano B. Eles preferem o desemprego a “ter que se sujeitar a qualquer emprego”. E tudo isso também é confirmado pela estatística de que os jovens dessa geração saem da casa dos pais cada vez mais tarde, segundo um estudo recente do Kantar Ibope Media.

É uma questão complexa e com pontos de vista coerentes de todos os lados, mas uma conclusão é certa: o mercado precisa dessa mão de obra, e por mais que a inteligência artificial venha para substituir algumas funções, o apagão de talentos nas empresas é um dos assuntos mais desafiadores para os empresários e especialmente líderes de Recursos Humanos, que têm se reinventado em suas práticas de atração e recrutamento de novos profissionais. A ausência de profissionais preparados gera prejuízos financeiros imensos em quase todos os segmentos de mercado. 

Não existe um caminho fácil. As empresas que desejarem ser líderes de mercado devem encarar essa realidade e trabalhar pesado para encontrar a equação que entregue o EBITDA projetado, mas que também atenda os anseios de uma geração que quer tudo ao mesmo tempo, sob o risco de ficar para trás e perder mercado, clientes e faturamento. Primeiro se faz necessário aceitá-los como eles são, para então conduzir um processo de mudança mútua. Pois neste tribunal, o juiz não é uma pessoa, e sim uma grande parcela do mercado de trabalho e toda sua força criativa e produtiva. 

Sobre Fernanda Rocha

CEO da Revening Estratégia, atuando hoje como Estrategista e Mentora de Marketing, Vendas e Sucesso do Cliente em organizações B2B. Atuou como executiva durante 22 anos no mercado e é fundadora do canal Líder de Marketing. É mestre em Marketing (UFC), especialista em Finanças (IBMEC) e graduada em Comunicação Social (UFC). Foi professora durante 8 anos dos cursos de graduação e pós graduação. É apaixonada por pessoas e resultados, e movida pela transformação de profissionais e empresas através do conhecimento.

Fernanda Rocha
CRO e Estrategista em Revenue Operations