Concorrências: quando o custo da escolha recai sobre quem cria

Por Redação

30/09/2025 09h41

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Concorrência, em teoria, é um mecanismo saudável: gera alternativas, promove competitividade e deveria impulsionar inovação. Na prática, porém, muitas vezes se transforma em um processo que desgasta, consome recursos e raramente cria valor proporcional.

Falo isso não só como observadora do mercado, mas também como alguém que já esteve do outro lado da mesa: ao longo dos meus 32 anos de experiência liderando áreas de eventos dentro do marketing, tive a oportunidade de participar e conduzir inúmeras concorrências. Essa vivência me permitiu perceber não apenas os impactos financeiros ou operacionais, mas, principalmente, o efeito humano dessas práticas, sobre as equipes, os parceiros e sobre mim mesma.

Participar de uma concorrência exige mais do que apresentar uma proposta: envolve mobilização de equipes, planejamento detalhado, criação de cenários, planilhas e apresentações diagramadas. É um investimento intenso de tempo, energia e recursos, e nem sempre resulta em contratação. Muitas vezes, o trabalho da agência acaba servindo apenas como insumo para futuras decisões do cliente, sem reconhecimento ou retorno.

O impacto vai além do financeiro. Há desgaste humano e profissional: prazos apertados, expectativas desalinhadas, falta de clareza sobre objetivos. Processos mal estruturados não estimulam inovação, mas sim frustração, desconfiança e perda de motivação. Quando olhamos por uma perspectiva de SER sustentável, fica claro que essas práticas podem comprometer a saúde, o engajamento e o equilíbrio das pessoas envolvidas, um custo que nem sempre é contabilizado.

Concorrências internas, dentro de empresas, que já possuem fornecedores homologados, ilustram ainda mais esse desafio. O que deveria ser um processo objetivo se torna um gasto enorme de energia e tempo, refletindo indecisão ou falta de clareza sobre o que realmente se deseja entregar. Isso compromete a sustentabilidade do processo, tanto para quem cria quanto para quem avalia.

O efeito cascata se estende por toda a cadeia: equipes, fornecedores, parceiros e colaboradores pagam o preço, e o investimento feito em cada proposta muitas vezes não se concretiza. É um desperdício de talento, criatividade e energia, recursos preciosos que poderiam ser geridos de forma consciente e sustentável. Transformar essa realidade exige olhar para a concorrência sob a perspectiva do SER sustentável:

  • Clientes claros sobre expectativas, budgets e critérios reduzem desperdícios e fortalecem parcerias.
  • Agências que estabelecem limites, propõem soluções realistas e valorizam seu próprio trabalho garantem que esforço e criatividade sejam recompensados, mesmo sem contratação imediata.
  • Todos os envolvidos podem contribuir para processos mais éticos, justos e conscientes, que respeitem tempo, energia e impacto humano.

Além disso, olhar para a concorrência de forma sustentável significa antecipar o impacto de cada decisão. Avaliar o custo real de uma proposta, os prazos que serão exigidos e a viabilidade de execução não é apenas estratégia financeira, é um exercício de responsabilidade social e respeito pelas pessoas envolvidas. Isso cria um ciclo virtuoso: processos mais claros geram entregas mais consistentes, equipes motivadas e clientes mais satisfeitos.

Por fim, acredito que adotar esse olhar sustentável é também um convite à inovação. Quando o foco deixa de ser apenas “quem vence a concorrência” e passa a ser “como podemos construir valor de forma ética e consciente”, o mercado se transforma É assim que o esforço deixa de ser desgaste e passa a ser investimento: em aprendizado, em qualidade, em relações de confiança e, sobretudo, na construção de um ambiente de trabalho que respeita e valoriza o SER de cada profissional envolvido.

Luciana Lancerotti
Consultora e palestrante na área de Marketing com práticas sustentáveis para o mundo corporativo.