Liderança feminina e reputação de marca: está tudo conectado

Por Redação

26/08/2025 10h57

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No dia 26 de agosto, celebramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Recentemente participei de  algumas entrevistas sobre o Panorama Mulheres 2025, realizado pela Talenses em parceria com o Insper, que expõe de forma contundente uma verdade incômoda: a presença feminina em cargos de liderança no Brasil segue estagnada e, em alguns casos, regredindo. 

Em pleno 2025, mais da metade dos conselhos de administração no Brasil ainda não conta com uma única mulher. Apenas 17,4% das empresas brasileiras possuem lideranças femininas. O alerta que fica é: igualdade de gênero não é um projeto concluído. É um sistema ainda por fazer. Marcas que ignoram a equidade de gênero em suas estruturas não só perdem talentos, como perdem relevância. Porque hoje, mais do que nunca, marketing é cultura, é coerência, é prática diária.

Ao longo da minha trajetória liderando áreas de marketing, e hoje como consultora na área de Marketing com práticas sustentáveis para o mundo corporativo, aprendi que marcas são organismos vivos. E se a liderança não incorpora mulheres, em suas pluralidades, estilos, jornadas e vozes, o discurso de equidade fica frágil. E marketing frágil não sustenta reputação.

Diversidade não é um briefing de campanha. As mulheres devem estar nas decisões que moldam a estratégia, a cultura e a comunicação para que as marcas não se tornem apenas embalagens vazias. Mais do que nunca, as marcas estão sendo chamadas a agir com propósito real. E isso exige mais do que presença feminina nas campanhas. Exige presença feminina na estratégia, na liderança dos times criativos, nas decisões sobre produto, cultura, impacto e inovação.

Ao longo de mais de três décadas atuando em grandes empresas como a Microsoft, e agora como fundadora da Gestão e Design de Impacto, tenho acompanhado de perto os desafios e também as oportunidades que surgem quando escolhemos integrar diversidade, inclusão e ESG como partes estruturantes da estratégia. E digo com clareza: empresas que tratam essas pautas como “bônus” seguem atrasadas em relação às demandas do presente.

Levo comigo uma frase que diz: “Todas as pessoas são potência máxima em alguma coisa. Mas a pessoa brilhante no lugar errado, se torna sua pior versão.” 

A diversidade tem me ensinado muito ao longo da vida. Trabalhando em uma multinacional, tive o privilégio de trabalhar com pessoas de diferentes idades, gêneros e mentalidades. E afirmo com convicção: trabalhar com times diversos é desafiador, mas essencial.

A diversidade geracional, por exemplo, não deve ser tratada como um ruído. Não se trata de uma disputa entre quem chegou agora e quem já percorreu uma longa trajetória. É uma soma. Vivenciei isso de perto como CMO da Microsoft. Trabalhar com times diversos em gênero, idade e mentalidade é desafiador, mas essencial.

E aqui faço uma observação: embora a ênfase neste momento esteja na perspectiva de gênero, não acredito que apenas essa dimensão da diversidade seja relevante; ela é apenas o ponto de partida desta reflexão. Líderes mais experientes têm o papel de orientar, apoiar e aprender com os jovens. Jovens, por sua vez, devem cultivar a paciência para ouvir e valorizar a sabedoria dos mais sêniores. Essa troca é a base de um futuro mais equilibrado e inovador.

Gostaria de destacar três reflexões que me acompanham:

1. Diversidade não é dividir. É compartilhar

Somar a ousadia dos jovens com a experiência dos mais sêniores gera soluções mais criativas, empáticas e potentes.

2. Potência está na composição

Resultados excepcionais surgem quando unimos talentos complementares. A diversidade não enfraquece decisões, ela as aprimora.

3. Liderança é uma generosidade estratégica

O líder do futuro compartilha conhecimento, cria espaço para outras vozes e valoriza estilos diversos de liderar.

Em vez de buscar figuras femininas para ilustrar campanhas, é preciso olhar honestamente para dentro: quem está tomando as decisões? Quais caminhos reais existem para que mulheres cheguem e permaneçam no topo? O compromisso com a equidade começa na contratação, mas se concretiza na cultura, na escuta e nas oportunidades contínuas de desenvolvimento.

A transformação só virá quando deixarmos de separar as esferas: pessoal e profissional, impacto e resultado, social e corporativo. O mundo já não opera mais nesses compartimentos. E as empresas que desejam permanecer relevantes precisarão aprender a navegar com coragem nesse novo tempo.

Luciana Lancerotti
Consultora e palestrante na área de Marketing com práticas sustentáveis para o mundo corporativo.