Há alguns anos, falar sobre sustentabilidade e propósito era visto quase como um discurso paralelo ao marketing, algo bonito de se dizer, mas distante do que movia decisões de negócio. Hoje, a realidade é outra. Governança, impacto e comportamento deixaram de ser temas de bastidor e passaram a definir o futuro das marcas, das lideranças e das relações de trabalho.
Nesse contexto, o papel do Conselho Consultivo ganhou um novo significado na minha trajetória. Mais do que um espaço de troca estratégica, ele representa a oportunidade de seguir aprendendo e repensando o próprio papel do marketing, não apenas como ferramenta de comunicação, mas como instrumento de transformação.
Depois de décadas atuando em grandes empresas e de uma transição para o empreendedorismo solo, percebi que o aprendizado nunca é um ponto de chegada. Estar em um conselho me mantém próxima da inovação e da tecnologia, mas, principalmente, das discussões que conectam negócios, comportamento humano e impacto social.
Hoje, atuo como conselheira de uma social tech que desenvolve um projeto de SaaS, uma espécie de “criptomoeda do bem”. A vivência me faz refletir sobre como o marketing pode ser ponte entre propósito e resultado, transformando valores em ações concretas e decisões éticas em vantagem competitiva.
O mesmo raciocínio se aplica às outras frentes em que atuo. Como professora, mergulho em temas como ética, acessibilidade, diversidade e impacto socioambiental, ajudando o setor a repensar o modo de criar experiências e produtos mais inclusivos.
Na mentoria, foco em ampliar a voz de lideranças femininas e apoiar novas narrativas de protagonismo e colaboração. E, nos treinamentos, levo a bagagem de mais de 30 anos de mercado para apoiar empresas que querem lazer do marketing um meio de gerar impacto social e humano, não apenas financeiro. Essas vivências se conectam de forma orgânica. Todas partem de uma mesma pergunta: como podemos usar o marketing, e a nossa voz, para gerar consciência, não apenas consumo?
Vivemos um momento de cansaço informativo, de desconfiança e de urgência por autenticidade. As pessoas esperam das marcas menos discurso e mais coerência. E o profissional de marketing precisa estar preparado para liderar esse movimento, porque comunicar bem não é o suficiente, é preciso comunicar com propósito, com escuta e com coragem.
A cientista e ativista britânica Jane Goodall, que faleceu recentemente aos 91 anos, resumiu com precisão esse olhar: “Você não consegue passar um único dia sem causar impacto no mundo ao seu redor. O que você faz faz a diferença, e você precisa decidir que tipo de diferença quer fazer (You cannot get through a single day without having an impact on the world around you. What you do makes a difference, and you have to decide what kind of difference you want to make)”.
Essa frase sintetiza o que acredito ser a nova essência do marketing: entender que toda escolha — de mensagem, de canal, de posicionamento — é um ato de impacto. Cabe a nós decidir se ele será transformador.
Participar de um conselho me ensinou justamente isso: que boas decisões nascem do encontro entre visões diferentes e que o aprendizado não termina quando se alcança a liderança. Ao contrário: é nesse ponto que ele começa a se tornar coletivo. Construir o futuro das marcas e das pessoas exige mais do que estratégia. Exige escuta, propósito e coragem para agir em conjunto.
