ESG só se torna efetivo quando deixa de ser meta isolada e passa a integrar escolhas individuais e coletivas
Sustentabilidade é um termo repetido à exaustão, mas frequentemente mal compreendido. Derivada do latim sustinere — sustentar, apoiar, conservar e cuidar — a palavra não se limita a ações ambientais ou relatórios de impacto. Na essência, trata-se de uma forma de viver e agir que precisa ser integral, abrangendo dimensões pessoais, sociais e ambientais.
Minha trajetória de mais de duas décadas no mundo corporativo, incluindo cinco anos como CMO da Microsoft, me mostrou que a sustentabilidade verdadeira começa nas pessoas. Antes de falar em compromissos públicos ou indicadores de ESG, líderes e equipes precisam se sustentar a si mesmos em equilíbrio. É por isso que gosto de destacar seis pilares fundamentais: ser sustentável financeiramente, na saúde física, na saúde emocional, nas relações humanas e, só então, avançar para sociedade e meio ambiente.
Esse olhar pode parecer óbvio, mas ainda é raro no dia a dia das empresas. Muitas vezes, vemos estratégias de ESG que permanecem restritas a departamentos específicos, sem conexão com a cultura organizacional, com capacitação das equipes internas, exemplos práticos e possíveis de implementação. Quando isso acontece, os resultados ficam limitados e a transformação não acontece. ESG não pode ser tratado como anexo do planejamento, mas como parte intrínseca dele, como uma visão da liderança.
Uma forma prática de trazer isso para dentro das organizações é adotar três perguntas simples que servem como guia:
- De onde vem?
- Para onde vai?
- Qual é o impacto?
Ao aplicá-las em qualquer decisão, da escolha de um fornecedor à criação de um novo produto, já se inicia um processo de reflexão sistêmica. De onde veio essa matéria-prima? Quem produziu? Em que condições? Para onde esse produto irá após o consumo? Ele poderá ser reutilizado ou se tornará apenas resíduo? Qual impacto social e ambiental essa decisão deixará?
Ao longo da minha carreira, percebi que grandes transformações começam justamente por esse tipo de questionamento. Cada decisão, por menor que pareça, carrega consigo um impacto que pode ser positivo ou negativo. Quando ampliamos esse olhar, passamos a entender a sustentabilidade como um exercício de integralidade, que conecta escolhas pessoais, empresariais e coletivas.
O desafio, claro, está em conciliar impacto com competitividade. O ambiente corporativo exige resultados imediatos, mas é possível mostrar que uma gestão sustentável não enfraquece a performance, pelo contrário, fortalece a inovação, atrai talentos, gera confiança e cria valor de longo prazo. Sustentabilidade e resultado não são forças opostas, mas complementares.
Por isso, acredito que o futuro das empresas estará cada vez mais ligado à capacidade de integrar ESG de forma viva, e não apenas no discurso. Significa repensar práticas, rever prioridades, e principalmente, adotar uma visão humana e sistêmica da sustentabilidade.
Quando entendemos que ela começa em nós mesmos, se estende às nossas relações e alcança a sociedade e o planeta, deixamos de tratá-la como conceito e passamos a vivê-la como prática transformadora de forma simples e diária, em nossas vidas e em nosso trabalho.
