O século XXI transformou o mundo em uma prateleira infinita de possibilidades. Nunca tivemos tanto poder de escolha e, ao mesmo tempo, tanta dificuldade em lidar com a sobrecarga de opções disponíveis.
Essa abundância começou a ganhar força nos anos 2000, quando a internet fragmentou a audiência da TV e abriu espaço para novas vozes online. Depois vieram as redes sociais e as plataformas de streaming, com seus feeds e rolagens sem fim. E agora, neste exato momento, estamos vendo o comércio eletrônico entregar produtos de qualquer lugar do mundo em prazos cada vez mais curtos.
Cada avanço ampliou nossa liberdade de escolha. E também aumentou o peso das decisões do dia a dia. Pesquisas científicas já apontam o excesso de opções como um fator que contribui para o cansaço mental e, em muitos casos, para o aumento da ansiedade.
Ter opções é essencial. Mas quando elas se tornam excessivas, a experiência deixa de ser libertadora e passa a ser paralisante. O psicólogo Barry Schwartz chamou esse fenômeno de paradoxo da escolha.
No lugar da satisfação, surgem a dúvida, a comparação interminável e a sensação de que qualquer opção pode não ser suficiente. Quem aqui nunca abriu a Netflix, passou horas zapeando e acabou desistindo porque não conseguiu decidir o que assistir?
Essa sobrecarga não gera apenas desgaste cognitivo. Pode levar à procrastinação, à paralisia diante de decisões simples e até travar momentos críticos na vida, como definir uma graduação, mudar de carreira, empreender ou comprar um imóvel.
Mais do que responder perguntas ou recomendar o próximo filme, a IA já atua hoje como um filtro de decisão. O Waze não mostra todas as rotas possíveis, mas prioriza a mais rápida. A Amazon destaca produtos como “Mais vendidos” ou “Escolha da Amazon”. O Gmail sugere três respostas curtas em vez de deixar você escrever do zero. São pequenas reduções que aliviam a fadiga de decidir.
No ritmo que as coisas estão evoluindo, em pouco tempo a IA deve deixar de ser uma ferramenta para se tornar uma extensão da inteligência humana. Uma aplicação tão integrada às nossas vidas a ponto de tomar decisões melhores do que nós mesmos, poupando nossa energia mental para aquilo que vai além da lógica do algoritmo.
Ao nos ajudar a tomar decisões, a IA nos libertará do excesso, mas isso nos leva a uma nova pergunta: estaremos prontos para abrir mão da nossa autonomia?
