De acordo com uma pesquisa realizada pela Accenture, apenas 12% das pessoas neurodivergentes estão atualmente empregadas em tempo integral. 56% da população em geral.
Mesmo com a inclusão de autistas no mercado de trabalho garantida pela lei nº 12.764, a Lei de Cotas de 2012, que determina a participação mínima para portadores de qualquer deficiência. O que vemos no mercado, segundo pesquisas é bem diferente, segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), 85% das pessoas autistas estão desempregadas. Em nível mundial, esse número é de 80%, conforme relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2020.
Nesse cenário, se mostra cada vez mais importante a inclusão de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho.O termo é usado para descrever as diversas diferenças existentes no cérebro humano, tem se popularizado cada vez mais, principalmente com o uso das redes sociais, ajudando a desestigmatizar o debate sobre saúde mental e transtornos de neurodesenvolvimento.
O conceito abrange uma série de condições, sendo as mais comuns: Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette, Dislexia, Dispraxia e Discalculia, entre outras.
“É importante trazer para dentro do ambiente corporativo a diversidade de pensamentos, culturas, formas de ver o mundo e diferentes experiências. Isso propicia que a empresa ofereça um produto ou um serviço que possa alcançar o maior número de pessoas possível. Essa forma de pensar fora dos padrões oferece ao mundo uma amplitude muito maior do que esperamos alcançar se seguirmos apenas dentro dos padrões,” explica Clarissa Leão, psicóloga e diretora do Neuropsicocentro (NPC), clínica especializada no atendimento de crianças autistas.
Com muitas empresas ainda não familiarizadas com a neurodiversidade, as pessoas dessa comunidade podem enfrentar desafios adicionais no ambiente de trabalho, como a necessidade de adaptações no local de trabalho para lidar com sensibilidades sensoriais, desafios de comunicação ou necessidades de suporte para habilidades sociais.
“Os colegas de trabalho, o espaço físico, as demandas exigidas, tudo pode e deve ser adaptado tanto para uma melhor entrega da pessoa neurodiversa como para que a empresa possa acolher da melhor forma às suas demandas. Esse processo parte da compreensão de que cada pessoa tem suas características e potencialidades, gerando também o bem estar do profissional,” comenta a psicóloga.
Mesmo com todas essas dificuldades, vem se tornando cada vez mais comum ouvir-se falar sobre a busca por um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo. Com isso, algumas instituições buscam atender pessoas neurodivergentes incluindo-as no mercado.
Como é o caso da a ONG Specialisterne, a organização é de origem dinamarquesa e há 3 anos tem uma filial no Brasil. A ONG prepara jovens autistas de grau leve, ou seja, aqueles de alta funcionalidade, para atuar no mercado de trabalho. O autista passa por um período de preparação, onde suas melhores habilidades são identificadas e preparadas para que possam preencher uma possível vaga.
Assim que surge uma oportunidade em uma das várias empresas parceiras do projeto, a Specialisterne indica o profissional autista. A empresa passa a olhar não para os problemas relacionados à condição do candidato, mas para as habilidades reais que vão agregar ao trabalho.
Apesar de a ONG não garantir, necessariamente, uma vaga de emprego, a iniciativa se mostra muito importante para desmistificar o autismo no mercado de trabalho, pois já conseguiu empregar, aproximadamente, 93% dos seus alunos.
Grandes companhias estão reformulando seus processos de recursos humanos para montar times com as mais variadas características, principalmente no mercado da tecnologia, conforme artigo da Harvard Business Review, como, por exemplo, HP, Microsoft, IBM, Dell Technologies.
“Essas mudanças de empresas líderes em seus segmentos ajuda na abertura de debates sobre o valor significativo que é ter equipes diversas, fazendo com que as pessoas tenham mais conhecimento sobre a neurodiversidade e os ganhos imensuráveis de entender as diferenças”, finaliza Clarissa.